São Paulo, domingo, 20 de março de 2011

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Trabalho degradante cresce em obras

Exploração migra das lavouras para a construção civil; empregados moram em quartos apertados e ficam sem água

Aquecimento do setor e atuação de aliciadores são apontados como as principais razões para o aumento dos casos

MARÍLIA ROCHA
DE CAMPINAS

Doente e dividindo com outros 28 operários um dormitório onde só cabem dez pessoas, Josivaldo Santos Batista, 37, foi flagrado na periferia de Campinas há uma semana em condições degradantes de trabalho -situação que, no interior de São Paulo, era comum apenas nas áreas rurais.
Na região, a exploração de trabalhadores como Batista está migrando das lavouras de cana de açúcar para a construção civil, segundo o Ministério Público do Trabalho em Campinas.
O crescimento da mecanização no campo, o aquecimento do setor imobiliário e a "profissionalização" de agenciadores que buscam mão de obra barata são apontados como fatores decisivos para essa mudança.
Contrariando determinações trabalhistas, os alojamentos desses operários não têm condições de higiene, ventilação nem conforto mínimo como camas -substituídas muitas vezes por colchões no chão.
Nos casos mais graves, o trabalhador é aliciado com promessas de trabalho ou salário bem diferentes dos encontrados na prática. Outro agravante é a restrição de mobilidade -quando patrões retêm documentos para impedir que o trabalhador consiga outro emprego.

SEM ÁGUA
Batista saiu da Bahia em outubro com a promessa de ganhar R$ 800 por mês, mas nunca recebeu mais do que R$ 600 -ele diz que, muitas vezes, parte do salário é descontada sem razão aparente.
"A gente dormia embolado e mal, depois trabalhava o dia todo, às vezes sem nem beber água", conta ele.
Rerison Charles da Silva Santos, que trabalha na construção de escola em Hortolândia (SP), disse que ele e colegas receberam comida estragada: "Eu não sou de comer carne estragada."
"Há oito anos, recebíamos uma denúncia semanal nas lavouras de cana de açúcar e praticamente nenhuma na construção civil. Hoje, é exatamente o inverso", afirma a procuradora do Ministério Público Eleonora Coca.
Desde fevereiro, o órgão flagrou trabalhadores em situação degradante em seis obras em Campinas.
Entre elas, estão uma escola estadual sob responsabilidade da construtora Itajaí, uma obra de galpões da Norpal, um condomínio residencial da MRV e outro da Goldfarb e da Odebrecht.
Para um dos diretores do Sindicato dos Trabalhadores na Construção Civil de Campinas e Região, Paulo Martins, a situação piorou com o aquecimento do setor.
"Depois que lançaram incentivos à construção, tem muita gente precisando de trabalhador, e outros se aproveitando disso", afirma.


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