São Paulo, segunda-feira, 21 de março de 2011

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Isolados, moradores se espremem para avistar presidente

Cerca de 300 soldados armados com fuzis e metralhadoras mantiveram a população à distância na Cidade de Deus

Aglomerados em um campinho a 100 metros de onde Obama estava, mil pessoas esperavam para ver o presidente

LAURA CAPRIGLIONE
MARIO CESAR CARVALHO
ENVIADOS ESPECIAIS AO RIO
ITALO NOGUEIRA
DO RIO

Celebrizada por livro e filme homônimos, a Cidade de Deus, favela do Rio de Janeiro com 62% de pretos e pardos, acordou cedo ontem para ver Barack Obama.
A visita em si durou apenas 35 minutos. Concentrou-se em um prédio da FIA (Fundação para a Infância e Adolescência), órgão estadual que cuida de jovens carentes.
Obama chegou em uma comitiva de 15 vans. O carro dele entrou na FIA e um pesado portão preto se fechou atrás. Lá fora, cerca de 300 soldados com fuzis, metralhadoras, lança-granadas e até um tanque urutu (quase entalado na ruela) mantinham o povo à distância.
Mas os cerca de mil moradores aglomerados no campinho recém-reformado a cem metros dali estavam confiantes de que poderiam abraçar Obama.
Espremida contra as grades, Dalva de Freitas Santos, 56, tinha os lábios pintados de verde, vestia um top amarelo e ostentava um colar de prata com medalha dourada, em que se lia: "Honra ao Mérito". Dalva não ganhou a medalha, achou-a. Ela é analfabeta.
Na Cidade de Deus está uma das 16 UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) da cidade. "Zé Pequeno", o personagem do filme, não apareceu na festa, é claro. Em vez dele, o que se viu foi um "pelotão" de minissoldados de 6 a 11 anos, gritando lemas de guerra contra o tráfico.
Desses 70 garotos, 18 entraram na FIA, onde Obama assistiu a um show de percussão e capoeira.
Na apresentação do grupo de percussão, Michelle remexia os quadris e acompanhava o ritmo com palmas, com o pé e com meneios de cabeça. Obama só batia o pé.
A turma confinada no campinho, a essa altura, tinha ganho a rua, embora ainda sob olhares dos soldados.
Vinte meninos encarapitados em cima de um carro da PM avisavam o que ocorria na FIA. Foi quando uma mobilização sinalizou que Obama ia embora.
"Very decepción! Very decepción! (sic)", gritava Anderlúcia Nogueira, 39, na tentativa de comunicar seu desagrado aos agentes do serviço secreto americano.
A má impressão se tornou histeria quando o presidente saiu pelo portão e, sorrindo, passou a acenar para os moradores. Mas em vez de caminhar até o campinho, Obama entrou no carro e zarpou.
Foi a vez de Rinaldo Gaudencio Américo, sósia de Obama. Cercado por seus seguranças "Jack" e "Bauer", ele carregou crianças, beijou mocinhas e posou para fotos.


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