São Paulo, segunda-feira, 21 de março de 2011

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ENTREVISTA FERNANDO LIMONGI

Não há espaço para uma terceira força nas disputas eleitorais

PARA CIENTISTA POLÍTICO FERNANDO LIMONGI, CRIAÇÃO DO PSD POR KASSAB NÃO VAI QUEBRAR POLARIZAÇÃO ENTRE PT E PSDB NAS ELEIÇÕES PARA O EXECUTIVO NO BRASIL

UIRÁ MACHADO
DE SÃO PAULO

A criação de um novo partido pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e a provável incorporação do nascituro PSD pelo PSB não quebrará a polarização PT-PSDB, afirma o cientista político Fernando Limongi, 53, professor titular da USP.
Conforme reportagem da Folha mostrou (12/3), o Planalto teme que o PSB ganhe muita musculatura e se torne um problema em 2014.
Para Limongi, porém, as disputas para o Executivo são bipartidárias e não há espaço para uma terceira opção. De acordo com ele, as estratégias de PT e PSDB definem -e limitam- as opções do eleitor nas disputas para presidente e governador e, agora, ao Legislativo.
A seguir, trechos da entrevista concedida à Folha na quinta-feira.

 

Folha - A criação de um novo partido pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e sua eventual incorporação pelo PSB poderia fortalecer esta legenda a ponto de romper a polarização PT-PSDB?
Fernando Limongi
- A despeito de o PSB ter crescido nas últimas eleições, o partido fez uma bancada relativamente pequena de deputados federais. É menor e tem menos força que o PMDB. Acho que o PSB está procurando se fortalecer para ter uma relação melhor com o governo. Eventualmente pode estar pensando em agir sozinho. Mas acho que o que está em jogo é ver quem é melhor aliado do PT. Pessoalmente, acho difícil que consiga viabilizar uma alternativa nacional. O PSB está praticamente restrito ao Nordeste. É um problema de difícil solução, e não é montando uma coalizão tão heterogênea... Quem vai votar no PSB por causa do Kassab?

Mas o Kassab não vai ter força em São Paulo para concorrer ao governo do Estado?
Para ele lançar uma candidatura a governador, precisa de uma plataforma, de um discurso. Ele tem que aparecer como opção, tem que viabilizar isso. Acho difícil em São Paulo. Quando ele foi candidato a prefeito, só conseguiu ser eleito porque teve apoio de facções do PSDB e contou com uma campanha desastrada de [Geraldo] Alckmin [PSDB], que perdeu uma eleição ganha. Sem parte do PSDB, ele não vai conseguir. E, para ter o partido de novo, tem que ter gente graúda por trás.

Em seu artigo na revista "Novos Estudos" 88 (novembro), do Cebrap, o senhor afirma que há dois blocos nacionais: PT-PSB e PSDB-DEM. Nessa eventual nova configuração, não daria para o PSB deixar de ser satélite?
"Satélite" não é a palavra mais correta. Esses partidos são aliados históricos e têm um acordo de complementaridade. Não há sujeição. Nos Estados, por exemplo, o PT não compete com o PSB. E boa parte da ascensão do PSB só se explica porque teve esse suporte do PT. Mas o PSB precisa definir a relação. Em termos de ministérios, o PMDB tem uma participação muito maior que a do PSB. É essa relação que está um pouco implicada, o PSB quer se reforçar nesse debate. Mas será que vai querer lançar candidato contra o PT em 2014?

O sr. ainda afirma em seu artigo que, com seis eleições presidenciais pós-redemocratização, é possível analisar tendências de longo prazo. Uma seria o bipartidarismo da disputa presidencial. Há espaço para uma terceira força?
Eu acho que não. São cinco eleições seguidas em que só dá PSDB e PT, e tudo leva a crer que na próxima será a mesma coisa. Mas de onde vem essa força? Por que esses dois partidos controlam esse eleitorado? Há muitos eleitores flutuando, então não é possível dizer que o eleitorado vota partidariamente. O que não sei é o quanto esse eleitorado é grande para constituir uma terceira via. Desse ponto de vista, tem possibilidade de alguém furar o esquema? Tem, mas o custo de entrada é muito alto.

Por que o Congresso é tão fragmentado?
Isso é outra coisa. A gente precisa olhar para as eleições que são as mais importantes, que são para o Executivo: onde está o controle do Orçamento e que são privilegiadas por partidos e eleitores. O que acontece é que os partidos grandes estão cedendo cadeiras nas eleições proporcionais e não estão ligando para isso. Uma possibilidade é que o processo ainda está em andamento. Começou pelo Executivo e agora vai descendo para o Legislativo.

Mas esse movimento não pode tomar outro rumo?
O fato é que várias vezes poderia ter sido de outro jeito, mas nunca foi. As estratégias dos partidos que têm sido bem-sucedidas são cada vez mais abrangentes. A lógica está se impondo. O exemplo forte é 2010. Ciro Gomes queria ser candidato. Havia alguns fatores conjunturais que favoreciam essa aposta. Dilma Rousseff não era conhecida. Seria o momento para alguém tentar. Por que não tentou?

Leia a íntegra da entrevista com Fernando Limongi em
folha.com/po891480


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