Clara Ant elabora um "promessômetro", índice com pedidos dos eleitores feitos à pré-candidata do PT

Depois de sete anos e meio no governo Lula, ex-assessora está entre as que mais gozam da confiança do presidente

SIMONE IGLESIAS
DE BRASÍLIA

A arquiteta boliviana Clara Ant, 62, ex-assessora especial da Presidência e pioneira do feminismo do PT, se transformou em braço direito da campanha da ex-ministra Dilma Rousseff absorvendo uma função nevrálgica.
Antes responsável por indexar todas as reuniões de trabalho do presidente Lula, ela agora monta um arquivo de pedidos formulados pelos eleitores e de todas as promessas da pré-candidata em discursos, reuniões e entrevistas -uma espécie de "promessômetro" da petista.
A ideia é não deixar ninguém sem resposta.
Clara vive uma rotina monástica em Brasília. Mora sozinha em um hotel, pouco sai da cidade, a não ser para viagens a trabalho. Filha de poloneses, nasceu em La Paz e, na infância, mudou-se para São Paulo. A Folha tentou durante três semanas entrevistá-la, sem sucesso.
É uma das poucas remanescentes da equipe original de Lula e, como o seu chefe de gabinete, Gilberto Carvalho, é das que mais gozam da confiança do presidente.
Após sete anos e meio no governo, a convite de Dilma, e com o aval de Lula, Clara trocou o Palácio do Planalto pela campanha da petista.

SISTEMA
Segundo interlocutores de Lula, era Clara quem fazia "a máquina andar" ou "nunca parar", com um sistema que desenvolveu nos primeiros anos do governo.
Foi aos Estados Unidos e à França ver como funcionava a rotina de pedidos e de promessas na Casa Branca e no Palácio dos Campos Elíseos.
Das viagens, trouxe a ideia de fazer atas de todas as reuniões no gabinete e de todos os discursos de Lula. A partir disso, organizava os pedidos e cobrava dos ministros respostas e resultados.
Nas entrevistas do presidente, por exemplo, fazia fichas com um resumo do perfil do entrevistado, possíveis perguntas, números e dados que deveriam ser utilizados.
Segundo um ministro, Clara foi fundamental em 2005, ano em que eclodiu o escândalo do mensalão.
Quando o núcleo duro do governo atravessava a crise, coube a ela organizar dados dos programas em andamento para que ministros e assessores tivessem sempre em mãos informes atualizados sobre assuntos que se tornaram secundários diante da instabilidade política.
Esse trabalho gerou o Caderno Destaques, que é distribuído a cada três meses aos ministérios com dados sobre as ações que estão na linha de frente do governo.
Na pré-campanha de Dilma, seu modo de operação é similar. Coube a Clara levantar o estilo das perguntas e dos perfis dos apresentadores de TV Carlos Massa, o Ratinho, do SBT, e José Luiz Datena, da Band, para os quais a pré-candidata falou e procurou mostrar desenvoltura.
Clara também é responsável pela pesquisa das informações usadas em discursos por Dilma e acompanha todas as reuniões da petista.

TRAJETÓRIA
Clara participou de todas as campanhas presidenciais do PT. Organizava os compromissos de Lula, ajudou a montar a Caravana da Cidadania, em 1993, quando Lula percorreu o país antecipando a campanha do ano seguinte, quando perdeu para o tucano Fernando Henrique.
Assim como o presidente, é torcedora do Corinthians.
Judia, Clara é um contraponto no PT e no governo à posição majoritária de defesa da causa palestina. Foi com Lula a Israel neste ano.
Formou-se em arquitetura na USP. Pertenceu ao grupo que fundou o PT, em 1980, foi dirigente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), deputada estadual em São Paulo e líder da bancada petista na Constituinte estadual, em 1988. Em 2001, trabalhou no governo de Marta Suplicy, em São Paulo.
Agora, volta ao bastidor da campanha como integrante da "inteligência" petista, mantendo a discrição e colocando sua eficiência à prova.


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