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Correios mantêm contratos sob suspeita
Diretor de Operações da empresa pede demissão, mas companhia aérea MTA continua a trabalhar para a estatal
Indicado por Erenice, presidente dos Correios diz que não recebeu sinal de que Lula tenha perdido "confiança" nele
LEILA COIMBRA
DE BRASÍLIA
Os Correios vão manter os
contratos com a empresa aérea MTA (Master Top Airlines), apesar das acusações
de irregularidades e tráfico
de influência.
A MTA foi o pivô da crise
que derrubou a ex-ministra
da Casa Civil Erenice Guerra
e ontem provocou a demissão do diretor de Operações
dos Correios, coronel Eduardo Artur Rodrigues Silva.
A companhia aérea possui
quatro contratos de transporte de cargas com a estatal no
valor de R$ 59,8 milhões.
O presidente dos Correios,
David José de Matos, defendeu ontem a MTA e disse que
os contratos são regulares
porque foram feitos por meio
de pregão eletrônico.
"Quem tem que comprovar a idoneidade da empresa
aérea é a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). E a
MTA possuiu toda a documentação em dia. E opera
normalmente."
Israel Guerra, filho da ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra, atuou para favorecer a MTA em negociações
com órgãos do governo.
Reportagem da Folha
mostrou que Israel Guerra liderava um esquema ainda
maior, com comissões para
intermediar no governo projetos privados que incluíam
empréstimos ao BNDES, o
que provocou a queda de
Erenice.
CONFIANÇA DE LULA
O presidente dos Correios
é indicação da ex-ministra,
de quem é amigo há 30 anos.
Ele disse que se sente confortável no cargo de presidente da estatal, apesar da
crise envolvendo a instituição. "Não recebi até agora
nenhuma indicação de que o
presidente Lula teria perdido
a confiança em mim. No dia
em que isso acontecer, deixo
o cargo", afirmou.
Nos contratos que possui
com os Correios, a MTA tem
privilégios: é a única empresa com permissão para fazer
transporte de cargas de terceiros nas rotas de entrega da
estatal, o que torna a operação mais lucrativa.
O coronel Eduardo Artur
Silva era ligado à MTA e estaria atuando para transformar
a empresa na transportadora
de carga aérea oficial dos
Correios após as eleições.
No passado, ele foi dono
da Martel Consultoria, que
prestava serviços à MTA.
Quando entrou na estatal,
passou a presidência da empresa de consultoria para sua
filha Tatiana.
A transformação em transportadora oficial seria possível com a edição de uma medida provisória transformando os Correios em uma sociedade anônima.
A minuta da medida provisória ficou pronta, mas o governo desistiu de enviar o
projeto ao Congresso por
conta das eleições.
O coronel seria ainda o testa de ferro do empresário argentino Alfonso Rey, verdadeiro dono da MTA, de acordo com reportagem de "O Estado de S. Paulo".
Silva afirmou que apresentou carta de demissão por iniciativa própria.
"MASSACRADO"
"Não sinto mais o prazer
do trabalho e do desafio que
a função exige e não vou contaminar os excelentes profissionais com quem convivi
nestes 48 dias com meu desencanto", dizia o texto.
Segundo Silva, sua atuação e de sua filha no mercado
de consultoria aeronáutica
sempre foram de domínio
público. "Me senti massacrado. Minha família está emocionalmente destroçada",
afirmou ele.
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