São Paulo, terça-feira, 21 de setembro de 2010

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Correios mantêm contratos sob suspeita

Diretor de Operações da empresa pede demissão, mas companhia aérea MTA continua a trabalhar para a estatal

Indicado por Erenice, presidente dos Correios diz que não recebeu sinal de que Lula tenha perdido "confiança" nele

LEILA COIMBRA
DE BRASÍLIA

Os Correios vão manter os contratos com a empresa aérea MTA (Master Top Airlines), apesar das acusações de irregularidades e tráfico de influência.
A MTA foi o pivô da crise que derrubou a ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra e ontem provocou a demissão do diretor de Operações dos Correios, coronel Eduardo Artur Rodrigues Silva.
A companhia aérea possui quatro contratos de transporte de cargas com a estatal no valor de R$ 59,8 milhões.
O presidente dos Correios, David José de Matos, defendeu ontem a MTA e disse que os contratos são regulares porque foram feitos por meio de pregão eletrônico.
"Quem tem que comprovar a idoneidade da empresa aérea é a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). E a MTA possuiu toda a documentação em dia. E opera normalmente."
Israel Guerra, filho da ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra, atuou para favorecer a MTA em negociações com órgãos do governo.
Reportagem da Folha mostrou que Israel Guerra liderava um esquema ainda maior, com comissões para intermediar no governo projetos privados que incluíam empréstimos ao BNDES, o que provocou a queda de Erenice.

CONFIANÇA DE LULA
O presidente dos Correios é indicação da ex-ministra, de quem é amigo há 30 anos.
Ele disse que se sente confortável no cargo de presidente da estatal, apesar da crise envolvendo a instituição. "Não recebi até agora nenhuma indicação de que o presidente Lula teria perdido a confiança em mim. No dia em que isso acontecer, deixo o cargo", afirmou.
Nos contratos que possui com os Correios, a MTA tem privilégios: é a única empresa com permissão para fazer transporte de cargas de terceiros nas rotas de entrega da estatal, o que torna a operação mais lucrativa.
O coronel Eduardo Artur Silva era ligado à MTA e estaria atuando para transformar a empresa na transportadora de carga aérea oficial dos Correios após as eleições.
No passado, ele foi dono da Martel Consultoria, que prestava serviços à MTA. Quando entrou na estatal, passou a presidência da empresa de consultoria para sua filha Tatiana.
A transformação em transportadora oficial seria possível com a edição de uma medida provisória transformando os Correios em uma sociedade anônima.
A minuta da medida provisória ficou pronta, mas o governo desistiu de enviar o projeto ao Congresso por conta das eleições.
O coronel seria ainda o testa de ferro do empresário argentino Alfonso Rey, verdadeiro dono da MTA, de acordo com reportagem de "O Estado de S. Paulo".
Silva afirmou que apresentou carta de demissão por iniciativa própria.

"MASSACRADO"
"Não sinto mais o prazer do trabalho e do desafio que a função exige e não vou contaminar os excelentes profissionais com quem convivi nestes 48 dias com meu desencanto", dizia o texto.
Segundo Silva, sua atuação e de sua filha no mercado de consultoria aeronáutica sempre foram de domínio público. "Me senti massacrado. Minha família está emocionalmente destroçada", afirmou ele.


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