São Paulo, terça-feira, 21 de setembro de 2010

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Aliado incômodo

Prefeito de Duque de Caxias e principal cabo eleitoral de Serra no Rio, Zito diz que só um erro de Dilma vira a eleição; para ele, PSDB perde ao atacar a presidenciável

ELVIRA LOBATO
DO RIO

Um tipo caboclo, de 1m89 de altura, conduz 15 mil pessoas pelas ruas do centro de Duque de Caxias, em uma caminhada pró-José Serra, que chega para o evento com quase três horas de atraso.
O tipo é o presidente do PSDB no Estado do Rio e prefeito de Duque de Caxias (município de 872 mil habitantes, na Baixada Fluminense), José Camilo Zito, 57, conhecido como o "rei da Baixada".
Ele é o principal cabo eleitoral do presidenciável no Estado e o único prefeito fluminense a investir na campanha. De microfone em punho, conduz a massa pelas ruas em ritmo de funk, uma herança dos tempos da juventude, quando foi dono do Zito's Club, uma casa popular de dança, em Caxias.
A caminhada aconteceu no dia 21 de agosto (foi a segunda do mês que ele organizou para Serra na cidade), mas Zito continua com o atraso de Serra entalado na garganta, a ponto de incluir a impontualidade do candidato entre os problemas da campanha.
O apelido de "rei da Baixada" surgiu na eleição municipal de 2000, quando Zito se reelegeu, no primeiro turno, com 81% dos votos, e fez a então mulher, Narriman, prefeita de Magé, e o irmão Waldir Zito, prefeito de Belford Roxo (dois municípios da Baixada). Ele está no terceiro mandato como prefeito de Duque de Caxias.
Queria, com a caminhada no município, mostrar que reuniria mais gente na Baixada para ver Serra do que o PT reunira para Dilma no primeiro comício de campanha com a presença do presidente Lula, na Candelária (centro do Rio), em julho, que teve 6.000 pessoas.
No entanto, por causa do atraso, Serra pouco viu da manifestação em Caxias.

ANTIDENÚNCIAS
Zito se mostra cético sobre a possibilidade de reviravolta no quadro eleitoral. Diz que só um escorregão de Dilma inverteria o jogo na atual situação.
"Houve um candidato, em Caxias, nos anos 80, que estava com a eleição certa. Aí, começou a circular que ele não gostava de preto nem de pobre, e que lavava as mãos com desinfetante quando cumprimentava um deles. Perdeu a eleição. Só uma coisa assim pode virar o jogo para o Serra", afirma Zito.
"Não adianta aparecer denúncia contra a Dilma, porque o eleitor não quer saber de denúncias", diz.
Para ele, o PSDB errou ao fazer acusações a Dilma no horário eleitoral. Zito acha também que o partido não deve usar os recentes escândalos envolvendo a ex-braço direito da candidata Erenice Guerra.
"Se eu fosse candidato, não partiria para ataques. O povo não entende e não aceita. Não reconheci o Serra no debate na RedeTV!. Ele deixou de lado os predicados, que fizeram dele um dos melhores governadores do país", afirmou.
A escolha do deputado federal Indio da Costa (DEM-RJ) para vice, na avaliação de Zito, foi outro erro da campanha, por ele ser jovem demais. Insinuou que sua filha, Andréia Zito, teria sido escolha mais sensata.
Embora afirme que vai trabalhar para a eleição de Serra "até o 45º minuto do segundo tempo", não acredita que seus votos em Caxias serão transferidos para ele.
"Vai ser muito difícil [transferir os votos] para o Serra. Não houve ajuda [da direção nacional], e a campanha no Estado custou a deslanchar. Só agora recebemos o material de divulgação."
Questionado se Serra teria perdido o norte da campanha, responde: "Espero que o encontre".
Zito diz que poderia ser um contraponto para Lula na campanha de Serra, e que foi subutilizado. Afirma que propôs ao partido afastar-se da prefeitura, por dois meses, para se dedicar à campanha, mas não responderam à sua oferta.
"Como Lula, nasci no interior de Pernambuco, e, com um ano de idade, viajei 12 dias, com meus pais, em pau-de-arara, até chegar a Duque de Caxias. Fui feirante, carroceiro e guarda municipal. Sou um nordestino vencedor, campeão de votos", diz ele, deixando escapar a frustração com a campanha que ainda não terminou.


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