|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
Falta de instrução do eleitorado interfere no aperfeiçoamento da classe política
LEONARDO BARRETO
ESPECIAL PARA A FOLHA
O Brasil possui 27 milhões
de eleitores analfabetos ou
que sabem ler e escrever,
mas nunca frequentaram
uma escola. O dado assusta e
lança dúvidas a respeito da
qualidade do voto que escolhe parlamentares e governantes. Afinal, como esse
eleitor toma sua decisão?
Quais são suas características e preferências?
Para responder essas
questões, é importante analisar a falta de instrução dentro de um quadro mais amplo. Normalmente, ela está
associada a outros problemas como pobreza e falta de
oportunidades.
A literatura especializada
costuma tratar esse tipo de
eleitor como sendo mais vulnerável a propostas clientelistas de compra e venda de
votos. Faz sentido.
Não é o caso de dizer que
essas pessoas são "eticamente inferiores". O problema
tem outra natureza.
Normalmente, as perspectivas de melhoria de vida delas estão ligadas a algum tipo
de ajuda governamental. Políticos se oferecem como intermediários dessas pessoas
junto ao poder. Caso ela precise de uma ambulância no
meio da noite, por exemplo,
saberá para quem ligar. Claro, o elemento de troca do
eleitor seria o voto.
Se isolarmos a variável
educacional, o analfabetismo incidiria diretamente sobre a (in)capacidade do eleitor de acessar meios de informação ou de construir vários
pontos de vista sobre uma
questão. Esse eleitorado tende a replicar hábitos que lhes
foram passados por costume,
como voto por indicação.
A tendência desse grupo é
replicar aquilo que o pai ou o
avô faziam, sem muita capacidade crítica. Por esse motivo, é muito comum escutar,
mesmo nos grandes centros,
pessoas dizendo que irão votar "naquele candidato que
der uma ajudinha para a família", assim como se fazia
no tempo dos coronéis.
Outra consequência é a
falta de condições de enxergar diferença entre as alternativas políticas disponíveis.
Esse é um problema fatal
para a democracia, pois ela é
um sistema interminável que
funciona na base de "tentativa e erro": punindo os políticos ruins e premiando os
bons. Se a capacidade de distinguir quem é quem é comprometida, a democracia
perde atratividade.
O dado sobre a falta de instrução do eleitorado mostra
que o aperfeiçoamento da
classe política passa pela
qualificação dos eleitores.
Ainda há muito por fazer.
LEONARDO BARRETO é cientista político e
pesquisador da UnB
Texto Anterior: Presidente 40/Eleições 2010: 1 em cada 5 eleitores não foi à escola ou é analfabeto Próximo Texto: Dilma nega ter apoiado pontos polêmicos de programa Índice
|