São Paulo, sábado, 23 de julho de 2011

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PR fez "rolo compressor", diz empresário

Ex-dirigente da Feira da Madrugada afirma que deputados da sigla pediram propina para mantê-lo à frente do negócio

De acordo com Geraldo Amorim, Milton Monti e Valdemar Costa Neto pressionaram para que ele deixasse o comando


VERA MAGALHÃES
DE SÃO PAULO

O ex-administrador da Feira da Madrugada Geraldo de Souza Amorim acusa dois dirigentes do PR, os deputados Milton Monti e Valdemar Costa Neto, de terem pressionado para que ele pagasse propina para manter o comando do negócio, do qual foi alijado em 2010.
Ele diz ter recorrido ao vereador Agnaldo Timóteo, também do PR, para reagir às pressões. Graças a Timóteo, diz, teve reuniões com o prefeito Gilberto Kassab e com o ex-ministro dos Transportes Alfredo Nascimento.
Leia os principais trechos de entrevista.

 

Folha - Desde que deixou a Feira da Madrugada, o sr. tem feito acusações. O que houve?
Geraldo Amorim -
Eu entrei com um pedido em 1994 para administrar esse terreno da Rede Ferroviária Federal perto da estação do Pari. Foi feito um Termo de Permissão de Uso. Depois que o [José] Serra ganhou a eleição, o doutor Andrea Matarazzo me procura dizendo que era bandeira do Serra tirar os ônibus da rua para parar no terreno.
Apostei na ideia. Em pouco tempo, já era difícil de achar vaga. Os ônibus começaram a chegar de madrugada. Os camelôs começaram a pedir para ficar no terreno. Como os ônibus chegavam cedo, compravam deles.
Foi inaugurado o Shopping Popular da Madrugada, em agosto de 2005. Tenho fotos do Andrea Matarazzo lá.
Eu recolhia taxa dos camelôs cadastrados e pagava um aluguel de R$ 130 mil por mês à RFFSA. Todo o custo era meu: lixo, segurança.

O atual gestor da feira, Ailton de Oliveira, era seu sócio?
Nunca foi! Ele foi um elemento que me foi apresentado pelo sr. Fábio Aguiar como representante dos camelôs. Trabalhou como funcionário da GSA [empresa de Amorim]. Um ano depois, descobri que os feirantes pagavam a ele e ele não repassava à GSA. Então eu o demiti, e foi uma luta para tirá-lo de lá. É um sujeito impertinente, intolerante.

E como começaram as ingerências políticas?
Em 2006, apareceu lá o [vereador] Adilson Amadeu com cinco assessores. Ele fez uma compra de produtos piratas lá dentro da feira e ficou batendo em mim na tribuna.
Diante disso, fui ao gabinete do Agnaldo Timóteo. Ele quis conhecer a feira. Viu e ficou entusiasmadíssimo.
Um dia, o Agnaldo me chama no gabinete dele. Dali a pouco entra um sujeito alto, de terno. O Agnaldo fala: "Este é o Adilson Amadeu". Ele me olha e fala: "Você andou fazendo um monte de coisa errada lá [na feira]". Passou a ser outro arqui-inimigo meu. Se aliou ao Ailton. E o Agnaldo passou a me defender.
Nessa época o Agnaldo me levou ao Kassab. Havia um boato de que a prefeitura ia fechar a feira com tijolos.

Quando foi isso?
Foi depois de o Serra sair para ser governador. O Kassab só ouviu, não falou nada. Eu disse para ele que não precisava colocar tijolinho, porque fecharia o portão às 18h.
Foi na sala de espera que o Agnaldo me disse que o sonho da vida dele era ter um ônibus. Chorou copiosamente. Fiquei muito grato ao Agnaldo e comprei um ônibus financiado para ele. Disse que não era presente, que ele me pagaria quando pudesse.
Ele me levou ao ministro Alfredo Nascimento.

Para quê?
Fui tratar da legalização da feira. A Rede foi extinta, e o terreno ficou vinculado ao ministério. Entrou um interventor, Miguel Ruggiero. Foi colocado lá por indicação do Ailton, indicado pelo Milton Monti. Foi aí que começou a aparecer Milton Monti, o deputado Valdemar Costa Neto. Um dia o Agnaldo me diz: "Você está sendo pressionado e vai ter de sair".

Pressionado de que forma?
Me chamavam no escritório do Milton Monti, me perguntavam o faturamento. O Milton Monti mandava recados de que eu deveria procurar mais o PR. E eu dizia que tudo ali era meu, que eu tinha os gastos, pagava os impostos. Então, por que deveria procurar o PR?

Chegaram a pedir valores?
Falaram em valores e eu não concordei. Milton Monti disse que sabia que eu faturava R$ 8 milhões por mês. Eu disse que ele estava errado.

Sua filha trabalhava no gabinete do Timóteo?
Depois que ele ganhou a eleição de 2008, disse que tinha uma vaga no gabinete, e a ofereceu à minha filha. Depois de dois anos, ele a tirou, sem aviso prévio.
Fiz uma carta para ele dizendo que aquilo era uma agressão contra mim.
Eu estava sendo muito pressionado, e ninguém queria me ajudar. Só queriam tirar vantagem. Achavam que aquilo era uma mina de ouro, e não era.

Como Ailton Oliveira voltou para o comando da feira?
O sócio dele [Geraldo Pereira de Barros Neto] tinha negócios com o Milton Monti e começaram o rolo compressor para cima de mim.
Quando me tiraram de lá eu perdi tudo. Tudo que é meu está lá dentro.
Eles me tiraram para reintegrar a posse à Rede, mas quem assumiu foi o Ailton. Esse processo está parado há mais de um ano.
Se não fosse meu médico, estaria morto.


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