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ANP ignora regra própria e beneficia empresa do Rio
Após prazo legal, agência evitou que distribuidora de combustível então inativa tivesse registro cancelado
Passagem do petista Marcelo Sereno como executivo do grupo coincide com decisões favoráveis do órgão
DIMMI AMORA
DE BRASÍLIA
HUDSON CORRÊA
DO RIO
Dirigentes da ANP (Agência Nacional do Petróleo)
passaram por cima de regras
do órgão para beneficiar o
grupo empresarial Andrade
Magro, dono da Refinaria de
Manguinhos, no Rio.
Até dezembro de 2009, a
empresa tinha como principal executivo o petista Marcelo Sereno, que foi assessor
do ex-ministro da Casa Civil
José Dirceu (2003-2005). Dirigentes da ANP que tomaram
as decisões a favor do grupo
são aliados dos senadores
peemedebistas José Sarney
(AP) e Edison Lobão (MA).
Sereno foi nomeado presidente da empresa que comanda a Refinaria de Manguinhos em 2008. Ele foi candidato a deputado federal,
mas não se elegeu (garantiu
a terceira suplência).
O período em que esteve à
frente dos negócios coincide
com a fase em que o grupo
empresarial passou a colecionar decisões favoráveis na
ANP. A agência chegou a
contrariar sua própria legislação em favor dos empresários, segundo documentos
obtidos pela Folha.
No caso mais evidente, em
abril de 2009, a procuradoria
da ANP deu parecer favorável ao cancelamento do registro da empresa Tiger Oil,
subsidiária do grupo Magro,
que ficou mais de um ano
sem distribuir combustível.
Pela legislação, a paralisação é tolerada até o limite de
seis meses. Depois desse prazo, o registro deve ser cancelado por uma decisão da diretoria colegiada da ANP, e a
empresa não pode funcionar.
Após a decisão dos técnicos, o caso da Tiger foi encaminhado para o diretor de
Abastecimento da ANP,
Allan Kardec Duailibe Barros
Filho, que deveria mandá-lo
ao colegiado para decidir pelo cancelamento.
Ex-filiado ao PC do B, Kardec é genro do ex-presidente
da Fundação José Sarney, José Carlos Sousa e Silva. Sua
indicação ocorreu quando
Lobão era ministro de Minas
e Energia.
O diretor chegou a encaminhar o caso para o colegiado
em 16 de julho de 2009. Quatro dias depois, porém, mandou o documento de volta à
superintendência de combustíveis, evitando que o
processo fosse a julgamento.
O processo ficou mais de
um ano sem andamento, sob
responsabilidade de Dirceu
Amorelli -também indicado
pelos caciques peemedebistas para a diretoria na ANP.
Em outubro deste ano,
após a Folha pedir informações sobre o processo da Tiger, o caso foi incluído na
pauta, votado e a Tiger teve
seu registro cassado.
Kardec e Amorelli também
autorizaram este ano outra
transação vetada pela ANP
entre empresas de um mesmo grupo. A distribuidora fez
um "empréstimo" de 2,7 milhões de litros gasolina para
a refinaria.
ESQUEMA
O Grupo Andrade Magro é
investigado por suposto esquema de sonegação de impostos, sendo alvo de operações contra a chamada máfia
dos combustíveis. Só de 2008
a 2010, a refinaria e outras
empresas do grupo deixaram
de recolher mais de R$ 368,4
milhões em ICMS no Rio e no
Paraná.
Segundo reportagem do
jornal "O Globo", publicada
no final de semana, um inquérito da Polícia Civil do Rio
aponta que os dirigentes da
empresa contavam com
apoio de um parlamentar para realizar operações ilegais.
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