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ANÁLISE
Desigualdade latina, a maior do mundo -mas em queda
MARCELO NERI
ESPECIAL PARA A FOLHA
Se no futuro um historiador fosse nomear as principais mudanças ocorridas
na sociedade brasileira e latino-americana na primeira
década do terceiro milênio,
poderia chamá-la de década
da redução da desigualdade
de renda. Da mesma forma
que a de 90 foi a da estabilidade para nós (depois dos vizinhos) e a de 80 a da redemocratização.
De 2001 até 2008 a renda
real per capita dos 10% mais
ricos cresceu 11,2% e a dos
10% mais pobres 72% puxados como o crescimento e os
olhos dos chineses. Existe
paralelo entre a fotografia e
os movimentos do Brasil e da
América Latina. Em ambos, o
nível da desigualdade é dos
mais altos do mundo, mas está em queda.
A má notícia é que ainda
somos muito desiguais, a
boa notícia prospectiva é que
há crescimento a ser gerado
na base da pirâmide social.
Há três contribuições centrais do relatório do Pnud:
1) Incorporar o efeito da
desigualdade em todas as dimensões centrais do desenvolvimento humano -leia-se educação e saúde para
além da renda.
Não estamos apenas
olhando para médias, mas
para a distribuição desses
elementos ao longo de nossas desiguais sociedades.
2) Alongar o horizonte de
tempo para além dos anos
correntes, ou mesmo do ciclo
de vida das pessoas, o que já
seria um formidável avanço.
O relatório vai além, olhando
a transmissão da desigualdade entre gerações pelas vias
da educação.
3) Olhar as aspirações e as
atitudes subjetivas através
da investigação sistemática e
objetiva de aspectos subjetivos. Não há mudança real,
sem a visão e ação daqueles
que as protagonizam.
Apesar de todas as dificuldades e os riscos associados
à empreitada, podemos agora começar a tentar entender
as mentes inspiradoras do
realismo fantástico de Gabriel Garcia Márquez ou dos
bares lúgubres de Mário Vargas Llosa.
MARCELO NERI, economista, é chefe do
Centro de Políticas Sociais vinculado à
Fundação Getulio Vargas.
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