São Paulo, domingo, 24 de outubro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Promessa de dois professores tem falhas

Para educadores, proposta de José Serra não é 100% eficaz na alfabetização e é de difícil implantação nacional

Candidato do PSDB diz que haverá incentivo financeiro a prefeitos e governadores que adotarem o programa

RICARDO WESTIN
DE SÃO PAULO

ANGELA PINHO
DE BRASÍLIA

José Serra (PSDB) diz que, se eleito presidente, colocará dois professores em todas as turmas de 1º ano (antiga pré-escola) das escolas públicas.
A ideia é que, enquanto o primeiro professor dá a aula, o segundo percorra a sala ajudando individualmente os alunos com mais dificuldade. Serra argumenta que assim se assegura a plena alfabetização das crianças.
No entanto, especialistas em educação veem dois problemas na promessa tucana.
Primeiro, é difícil implantar o segundo professor em todo o país. Depois, o programa por si só não é garantia de que os alunos aprenderão de fato a ler e escrever.
A implantação nas cerca de 110 mil turmas de 1º ano é pouco provável porque a grande maioria das escolas públicas de nível fundamental pertence às prefeituras. O presidente não pode obrigar os prefeitos a contratar um segundo professor.
"Cada município tem autonomia", explica Carlos Roberto Jamil Cury, ex-presidente do Conselho Nacional de Educação.
O segundo professor já está nas escolas estaduais de São Paulo e nas municipais da capital paulista, mas por decisão do governo e da prefeitura -quando Serra foi respectivamente governador (2007) e prefeito (2006).
A campanha do PSDB diz que Serra oferecerá incentivos financeiros para que as prefeituras e os Estados adotem o programa federal.
Verbas, entretanto, não garantem a adesão automática. Na saúde, por exemplo, apesar de o governo federal custear a implantação de UPAs (prontos-socorros), prefeitos e governadores rejeitam a verba -não querem programa com a marca do partido rival.

ESTAGIÁRIO
O segundo professor é, na realidade, um estudante de letras ou pedagogia -um estagiário. Em São Paulo, ele recebe uma bolsa mensal de R$ 500 e, em alguns casos, auxílio-transporte de R$ 100.
O alcance nacional prometido por Serra também é limitado pelo fato de não haver faculdade de letras ou pedagogia em todas as cidades.
Em Santa Catarina, para que cada turma do 1º ano tenha estagiário, cerca de 50% dos universitários terão que ser recrutados. No país, são necessários 15% dos alunos.
Em termos pedagógicos, a crítica é que a simples presença do estagiário não assegura a alfabetização. O aluno de letras, ao contrário do de pedagogia, geralmente não vê na faculdade lições de alfabetização, aponta a professora Stella Bertoni, da UnB.

"CIUMEIRA"
Além disso, há a possibilidade de não haver um bom relacionamento entre professor e estagiário. O professor pode sentir sua autoridade ameaçada, e o estagiário pode querer impor as técnicas de ensino da faculdade.
"Vai haver ciumeira, atrito", diz Onaide Schwartz, professora da Unesp.
Por fim, corre-se o risco de, em ausências do professor, o estagiário ser escalado para assumir a turma. "Ele não pode se responsabilizar por uma sala. Ainda é estudante", afirma Maria Regina Maluf, da PUC-SP e da USP.
Bertoni e Maluf dizem que, apesar de insuficiente, a presença do estagiário pode ter bons resultados.
Para defender que a promessa terá sucesso, a campanha do PSDB diz que o número de crianças do 2º ano plenamente alfabetizadas na rede estadual de SP subiu de 88% para 93% em dois anos. E que na rede municipal da capital os alunos não alfabetizados caíram 50%.


Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Frase
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.