São Paulo, sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

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ANÁLISE

Expectativa positiva do eleitorado sobre governos é a regra


SE DILMA TIVER SUCESSO NAS ÁREAS CRÍTICAS, PODERÁ REPETIR O FEITO DE LULA. SEU DESAFIO ESTÁ NA GESTÃO

CLÁUDIO GONÇALVES COUTO
ESPECIAL PARA A FOLHA

As expectativas do eleitorado quanto ao futuro governo Dilma Rousseff revelam-se dentro dos mesmos padrões verificados antes do início de outros períodos presidenciais.
Como é de hábito nesses momentos -seja aqui, seja alhures (veja-se o caso de Obama)- as esperanças dos cidadãos costumam ser muito positivas antes que se inicie a gestão.
As exceções de praxe apenas confirmam essa regra.
Entre Fernando Collor e Dilma, segundo o Datafolha, todos os presidentes iniciaram seus mandatos com uma expectativa de desempenho bom ou ótimo igual ou pouco superior aos 70%.
As expectativas de ruim ou péssimo sempre estiveram iguais ou menores que os 6%. As exceções a isso foram o período de Itamar Franco e o segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso.
O que explica a excepcionalidade de ambos é que, no caso do primeiro, assumiria a Presidência o vice de um presidente submetido a um processo de impeachment e posto para fora do cargo em meio a um escândalo de corrupção que logrou mobilizar as ruas.
Tendo sido Itamar eleito na mesma chapa de Collor, era natural que alimentasse desconfianças.
No segundo governo FHC, a população já sentia os primeiros efeitos de uma crise econômica que varreu o início da nova gestão, quando a desvalorização cambial pôs fim a um longo período de quase paridade da moeda nacional com o dólar.
Isso deflagrou uma definitiva corrosão da popularidade do arquiteto do Plano Real e das reformas orientadas para o mercado. Já Dilma inicia seu governo na esteira de um presidente recordista em popularidade e aprovação.
O que se destaca do usual neste momento são as expectativas para certas áreas da atuação governamental.
Elas variam de acordo com a conjuntura de cada época.
Às vésperas da posse de Lula, as esperanças de melhor desempenho do novo presidente recaíam sobre combate a desemprego (27%) e fome e miséria (18%).
Ora, o maior problema identificado pelos brasileiros à época era justamente o desemprego -até mesmo o então candidato situacionista José Serra tentou fazer promessas nesse campo, desvinculando-se da gestão tucana que acabava.
Hoje, as enquetes de opinião indicam que a área em que o governo Lula é mais mal avaliado é a saúde -justamente o setor cujas expectativas são as mais altas para o período de Dilma (18%).
Curiosamente, é essa mesma área que alimenta as piores expectativas para o futuro governo (13%), juntamente com a segurança pública.
Lula terminou o governo batendo recordes de popularidade ao reduzir consideravelmente o desemprego e a pobreza durante seu período.
Se Dilma tiver sucesso nas áreas hoje críticas, sem descurar da economia, poderá talvez repetir o feito. Seu maior desafio está na gestão.

CLÁUDIO GONÇALVES COUTO é cientista político, professor do Departamento de Gestão Pública e pesquisador do Cepesp da Fundação Getulio Vargas (FGV-SP).


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