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ENTREVISTA LUIZ PAULO VELLOZO LUCAS
Petrobras não tem como explorar sozinha o pré-sal
Gabriel Lordello/Folhapress
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Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB-ES)
DEPUTADO TUCANO DEFENDE ADOÇÃO DE MODELO
CRIADO NO GOVERNO FHC E ENTRADA DE GRUPOS
ESTRANGEIROS EM NOVOS CAMPOS DE PETRÓLEO
RICARDO BALTHAZAR
DE SÃO PAULO
A Petrobras não tem como
explorar sozinha as gigantescas reservas de petróleo do
pré-sal e o governo deveria
trabalhar para atrair grupos
estrangeiros em vez de inibir
sua entrada nos novos campos, diz o deputado Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB-ES).
"Vamos precisar de centenas de bilhões de dólares para explorar o pré-sal e é uma
sandice completa achar que
a Petrobras e o Estado brasileiro terão dinheiro para tudo", disse na semana passada, em entrevista à Folha.
A entrada da Petrobras na
batalha do segundo turno
deixou os tucanos numa posição desconfortável. A petista Dilma Rousseff acusa o rival José Serra de defender a
privatização da maior empresa do país e entregar as riquezas nacionais a estrangeiros.
Serra nega a intenção, mas
é vago sempre que lhe pedem
para expor seus planos para
o setor. "O PT propôs ao país
um debate mentiroso e ficou
difícil discutir assim", diz Vellozo Lucas, aliado de Serra.
Folha - Que avaliação o sr. faz
dos resultados obtidos com o
fim do monopólio da Petrobras na exploração de petróleo e a abertura do setor?
Luiz Paulo Vellozo Lucas -
Foi a mais bem sucedida política de desenvolvimento setorial da história do país. A
abertura atraiu capital para
novos investimentos, sem
privatizar nem vender nada.
A produção dobrou. Nossas
reservas de petróleo quintuplicaram. A receita obtida pelo governo com a exploração
das nossas riquezas minerais
cresceu mais de cem vezes.
É verdade que o governo Fernando Henrique Cardoso tinha a intenção de privatizar a
Petrobras, como diz o PT?
Isso nunca passou pela cabeça de ninguém. Com a
abertura, a Petrobras passou
a operar num ambiente competitivo e cresceu. Era fundamental que continuasse estatal, porque no início os grupos estrangeiros que vieram
para o país entraram associados à Petrobras. Ninguém teria vindo sem a segurança
que ela oferecia. Não era necessário privatizá-la, e teria
sido um tiro no pé fazer isso.
A entrada de multinacionais
no setor gerou benefícios?
Hoje as companhias estrangeiras têm uns 5% da exploração de petróleo no Brasil. Seria interessante, e oportuno, que tivessem um pouco
mais. Haveria mais investimentos, mais produção. O
que importa é maximizar a
geração de riqueza no país.
O modelo de concessões em
vigor atualmente é adequado
para a exploração das reservas encontradas no pré-sal?
Não há nada errado com
esse modelo. O PT está no poder desde 2003 e fez seis leilões seguindo as regras desse
modelo. Agora dizem que
concessão é privatização,
porque querem fazer desse
troço uma bandeira eleitoral.
O governo argumenta que
precisa de outro modelo para
a exploração do pré-sal porque os riscos são menores
nos novos campos, onde não
há dúvidas sobre a existência
de grandes reservas de óleo.
O argumento é falso. Não
se pode dizer que não há risco nenhum numa atividade
como essa. Há riscos ambientais, desafios tecnológicos a
superar, riscos empresariais.
O que justifica então a decisão do governo de propor um
novo modelo de exploração?
O PT mudou de ideia nesse
assunto em 2007, quando a
descoberta do campo de Tupi
mostrou o tamanho das reservas existentes no pré-sal.
Havia um leilão previsto para
o fim do ano e vários blocos
próximos de Tupi seriam oferecidos. O interesse por essas
áreas era enorme e grupos
brasileiros e multinacionais
estavam se preparando para
pagar caro por elas. A Petrobras não ia ter dinheiro para
disputar todos os blocos e
certamente ia perder alguma
coisa para o Eike Batista, a
Shell e outras companhias.
Qual seria a consequência?
Em vez de ter 95% do mercado como hoje, a Petrobras
ficaria com 92, 93%. Qual o
problema para o Brasil? Nenhum. Estaríamos trazendo
dinheiro, investimentos,
criando empregos do mesmo
jeito. Mas o que estava em jogo era a entrega dos novos
campos para a Petrobras sem
licitação, e sem que eles precisassem pagar o bônus elevado que teriam que desembolsar no leilão. Foi por isso
que o governo tirou a maioria
dos blocos do leilão e decidiu
mudar as regras no pré- sal.
Por que o governo deveria
permitir que as multinacionais ficassem com esses blocos em vez da Petrobras?
Mas não se trata de entregar a riqueza nacional como
o PT diz. Nós estaríamos pegando o dinheiro dos grupos
estrangeiros para desenvolver nossas jazidas e gerar recursos para o país. Vamos
precisar de centenas de bilhões de dólares para explorar o pré-sal e é uma sandice
completa achar que a Petrobras e o Estado brasileiro terão dinheiro para fazer tudo.
O governo argumenta que,
com o novo modelo, poderá
controlar melhor o ritmo de
exploração do pré-sal e usar
os novos campos para desenvolver a indústria naval e outros fornecedores do setor.
Bobagem. O ritmo de exploração poderia ser determinado pelo ritmo dos leilões, sem mudar regra nenhuma. Se o que eles querem
é desenvolver a indústria nacional, bastaria exigir nos leilões que os interessados fizessem aqui uma parcela
maior das suas encomendas.
A mudança da lei é o maior
erro estratégico de política
econômica da nossa história.
Por quê?
O Tesouro se endividou
para capitalizar a Petrobras.
O setor de petróleo deveria
estar gerando recursos para
os investimentos que precisamos fazer em aeroportos,
estradas e escolas. Em vez
disso, o governo se endividou para financiar a Petrobras, para que ela assuma a
responsabilidade de ser a
única operadora nos novos
campos. Não tem sentido.
O governo diz que as companhias estrangeiras virão mesmo assim porque não há
oportunidades tão boas para
investir em outros países.
Precisamos ver se vão entrar com capital, assumindo
riscos. Se o modelo defendido pelo governo for aprovado, uma nova empresa estatal vai controlar os custos de
cada projeto e dizer o que vai
poder ser fabricado aqui ou
ali. Os petistas garantem que
a empresa será formada apenas por técnicos, sem ingerência política. Só se a sede
for em Frankfurt. Quem vai
mandar nessa empresa vai
ser o PMDB do Maranhão.
As ações da Petrobras se desvalorizaram muito neste ano,
apesar do futuro promissor
que o pré-sal garante à empresa. O mercado tem razão?
A Petrobras está desviando recursos para investimentos de rentabilidade duvidosa, como as refinarias do Nordeste. A empresa contrata
serviços e equipamentos pagando três, cinco vezes mais
caro que as concorrentes. É
isso o que o mercado olha.
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