São Paulo, quinta-feira, 26 de agosto de 2010 |
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SABATINA FOLHA FERNANDO GABEIRA Gabeira afirma que teme "mexicanização" do Brasil
DEPUTADO DIZ QUE CABRAL "FAZ O GOVERNO E TRAZ TODO MUNDO QUE QUEIRA EMPREGUINHO" PARA VERDE, "MAIORIA ESMAGADORA" DAS COMUNIDADES DO RIO NÃO ESTÁ PACIFICADA O deputado federal Fernando Gabeira (PV), 69, candidato ao governo do Rio de Janeiro, afirmou ontem que a política do Estado tende para "uma coligação única". Ele criticou seu principal adversário, o governador Sérgio Cabral Filho (PMDB), pelo que chamou de "método arca de Noé". "Faz o governo e traz todo mundo que queira empreguinho", disse o deputado durante a sabatina Folha/UOL, realizada no Teatro dos Quatro, no shopping da Gávea, zona sul do Rio. Gabeira disse que, assim como no plano federal, existe o risco de "mexicanização da política brasileira", em referência à manutenção do PRI, que ficou mais de 70 anos no poder naquele país. O deputado do PV sugeriu que existe uma ligação entre o governo estadual e os traficantes de drogas da comunidade da Rocinha, no que chamou de um "processo de convivência". Disse ainda que a política de segurança carece de "inteligência". Vestindo calça jeans, casaco preto e tênis, o ex-guerrilheiro Gabeira criticou o discurso da presidenciável Dilma Rousseff (PT), de que ela defendia a democracia ao lutar contra a ditadura militar (1964-85): "Os grupos armados tinham como programa a ditadura do proletariado". Gabeira respondeu a perguntas da plateia e de Vinicius Mota, secretário de Redação da Folha, Rodrigo Flores, gerente-geral de notícias do UOL, Plínio Fraga, repórter especial, e Antônio Gois, repórter da Sucursal do Rio. Mexicanização Existe uma tendência à mexicanização da política brasileira. A construção, não de um partido único, mas de uma coligação única. Os métodos do PT e do Cabral no Rio são semelhantes. É o método arca de Noé: faz o governo e traz todo mundo que queira apoiar e também um ou outro empreguinho. A coligação do Cabral não tem nem tempo de dizer o nome de todos os [16] partidos que o apoiam. Candidatura Percebi que no Rio era necessária uma candidatura de oposição. Não é possível que nós caminhássemos para uma candidatura única. Teria uma eleição tranquila para deputado, ou com chances para o Senado, mas tinha que cumprir esse papel. Serra e Marina A ambiguidade permanece. Toda vez que eu estou com o Serra, me perguntam pela Marina. Toda vez que eu estou com a Marina, me perguntam pelo Serra. Quando estou sozinho, dizem que estou muito sozinho. Quando estou com alguém da minha coligação, dizem que estou mal acompanhado [Gabeira é candidato pela coligação PV-PSDB-DEM-PPS]. Governo e o tráfico O Nem [Antônio Bonfim Lopes, chefe do tráfico da Rocinha] está ali porque tinha um braço político [que] votava e era articulado com o governo [estadual]. Na Rocinha há um processo de convivência [com o tráfico de drogas]. Eu sou contra. Segurança Nenhuma grande cidade do mundo permitiria que um comboio de 80 pessoas armadas se deslocasse sem que fosse detectado por câmeras. [...] O governador diz que há paz no Rio. Eu digo que não, porque por todo lado vejo gente de fuzil, metralhadora, granada... Ele fala sobre 1% das comunidades que estão pacificadas. A maioria esmagadora não está. Ele diz que vai levar UPPs para cada comunidade. Não temos recursos suficientes. Desvios éticos Devolvi o dinheiro da passagem [da Câmara para viagem da filha] e formulei as regras que hoje dão à Câmara uma economia de R$ 32 milhões. [...] Sempre mantive um carro Gol à disposição do gabinete. Não tinha condições de usar o carro na campanha e no gabinete. Aluguei um carro para o gabinete e mantive o outro para a campanha. Como o carro que aluguei [com verba da Câmara] era mais confortável, em certos momentos trocamos por uma questão de conforto. Quanto à outra questão [contratação de empresa da mulher para elaborar um site], era o mais barato e [tinha] a melhor qualidade. Guerrilha No caso da Dilma, há diferenças na apreciação do que foi a nossa atuação. Todos os principais ex-guerrilheiros que se lançam na política costumam dizer que lutavam pela democracia. Eu não tenho condições de dizer isso. Não se pode corrigir o passado. Havia muita gente lutando pela democracia, mas não os grupos armados que tinham como programa a ditadura do proletariado. Educação O Rio tem 1.200 escolas de ensino básico que precisam ser municipalizadas, em sintonia com os prefeitos. Uma novidade de São Paulo pode ajudar: outro professor ou estudante universitário na sala de aula. Outra é a revisão do currículo, em sintonia com o Ministério da Educação, para ter matérias opcionais. [...] Queremos desenvolver mais ainda o ensino profissionalizante. O Rio vive um apagão de mão de obra especializada. Olimpíada, Copa e pré-sal Os investimentos feitos para a Olimpíada e para a Copa do Mundo devem se reverter em benefícios permanentes para a população. [Os investimentos] devem ser feitos numa economia que leva em conta a necessidade de não ficarmos tão dependendo do petróleo. O Rio precisa ser um centro turístico internacional. Não apenas a capital, mas todo o Estado. É possível, por exemplo, construir uma estrada de ferro para unir o Rio de Janeiro a Petrópolis. Candidato da zona sul O Cabral é mais zona sul do que eu. Eu moro em Ipanema, e ele no Leblon. Talvez esse estigma nasça pelo fato de eu ter defendido ideias que são mais ventiladas na zona sul. Talvez parte da zona sul tenha um nível intelectual e padrão de renda mais alto, e talvez eu tenha a preferência dos eleitores dessa área. Drogas Só com uma polícia muito avançada pode realmente legalizar. Legalizar não é o liberou geral. É um controle mais sofisticado. Religião Tenho uma proximidade grande, pelo menos teórica, com o budismo. Palmada Sou contra as palmadas. Mas nem tudo que sou contra gostaria de reger por lei. É um espaço na relação pai e filho que o Estado não deve, necessariamente, reger. Voto obrigatório Sou a favor do voto facultativo. Sou contra tudo que é obrigatório. Texto Anterior: Nanicos sem programa geram "mantra" no rádio Próximo Texto: Frases Índice |
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