São Paulo, sexta-feira, 26 de agosto de 2011

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Governo agora prevê taxa de crescimento abaixo de 4%

Projeções internas sugerem 3,7% para este ano, abaixo da previsão oficial

Dilma acha que crise abrirá caminho para redução dos juros em breve, mas espera que BC aja com cautela


VALDO CRUZ
DE BRASÍLIA

O governo voltou a rever suas projeções para o desempenho da economia e agora trabalha internamente com uma previsão de crescimento de 3,7% neste ano, abaixo dos 4% previstos nesta semana pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega.
O Palácio do Planalto avalia que esse desempenho é positivo diante das incertezas criadas pela crise global. Se a projeção do governo se confirmar, o Brasil crescerá menos que outros países emergentes, como China e Índia, mas num passo mais acelerado que o de países avançados, como os EUA.
A presidente Dilma Rousseff acredita que a desaceleração da economia abrirá caminho para que o Banco Central comece a reduzir em breve a taxa básica de juros, que foi elevada nos últimos meses para conter a inflação.
Para tentar garantir uma queda dos juros ainda neste ano, o governo vai enviar ao Congresso, na próxima semana, um Orçamento para 2012 "bem austero, tendo como palavra de ordem o equilíbrio fiscal", de acordo com um assessor presidencial.
Segundo esse assessor, a equipe econômica analisou medidas para garantir ao mesmo tempo o cumprimento da meta de superavit primário em 2012 e a preservação de investimentos e gastos sociais considerados essenciais pela presidente.
Dilma, porém, espera que o BC analise com cautela o cenário econômico antes de cortar a taxa Selic, hoje fixada em 12,5% ao ano.
Em conversa com assessores, ela lembrou que seria "a primeira pessoa a defender a redução dos juros", mas entende que isso é quase impossível de acontecer na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC, na semana que vem.
Integrantes da equipe econômica acham que o BC poderá começar a reduzir as taxas de juros ainda neste ano. Inicialmente, a aposta era que isso poderia acontecer no fim de novembro, quando o Copom fará a última reunião do ano.
Assessores não descartam, porém, que essa queda possa ocorrer na penúltima reunião do órgão em 2011, em outubro, caso os próximos dados mostrem maior desaceleração da economia.
A equipe apresentou recentemente à presidente cenários prevendo que a economia brasileira crescerá entre 3,5% e 4% neste ano, sendo que o mais provável é que fique em 3,7% ou 3,8%.
Para evitar pessimismo, Mantega só passou a admitir nesta semana a possibilidade de o país crescer 4% em vez dos 4,5% da projeção oficial do governo.
No mercado, as projeções passaram a indicar crescimento abaixo de 4%. Analistas consultados pelo relatório Focus do BC preveem 3,84%. As apostas de alguns bancos e consultorias estão mais próximas de 3%.
Para o Planalto, essas projeções significam que a economia crescerá num ritmo abaixo do chamado PIB potencial brasileiro, hoje estimado em 4%, que pode ser sustentado pela capacidade produtiva sem gerar inflação. Ou seja, o BC poderia cortar os juros sem perder o controle dos preços.
O governo voltou a trabalhar com a expectativa de terminar o mandato de Dilma com juros reais na casa dos 2% (hoje estão perto de 7%). Esse objetivo foi praticamente abandonado depois que o BC foi obrigado a subir os juros para segurar a inflação.
Dilma tem recomendado a sua equipe que monitore a desaceleração da economia. Segundo um assessor, a preocupação dela é se a queda está no ritmo "ideal" ou "passando do ponto".


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