São Paulo, terça-feira, 26 de outubro de 2010

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Campanha diplomática

Dilma quer manter política de diversificação de parcerias ; Serra quer mudar comércio

CLAUDIA ANTUNES
DO RIO

No comando da política externa, Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) adotariam posições diferentes sobre os vizinhos sul-americanos, os direitos humanos e as relações Sul-Sul, segundo declarações na campanha e a avaliação de diplomatas.
Dilma, em entrevista à revista "Política Externa", defendeu a continuidade da busca da "diversificação de parceiros" e do "redesenho da geopolítica internacional" -mas enfrentará divergências entre as próprias potências emergentes sobre a chamada "democratização" da governança global.
Serra tem defendido "mais agressividade" no comércio e critica Lula por não ter buscado acordos bilaterais na área -mas esbarrará no protecionismo, sobretudo dos países ricos, que cresceu depois da crise financeira.
O tucano diverge do atual governo -e do de FHC- ao propor a "flexibilização" do Mercosul, que abandonaria a pretensão de firmar-se como união aduaneira, com uma Tarifa Externa Comum, para ser apenas área de livre comércio -posição também de assessores da Fiesp.
Seu argumento é o de que a TEC -furada por duplas cobranças e exceções- foi "irrealista" e que sua suspensão permitiria ao Brasil, que responde por 80% da economia do bloco, negociar sozinho acordos comerciais.
"A questão é que muitos pensam, possivelmente com razão, que vamos ser menos ambiciosos e um pouco mais realistas", diz o embaixador Sérgio Amaral, ex-ministro do Desenvolvimento de FHC.
Os petistas querem "aprofundar" o Mercosul e alegam que, se a TEC acabar, o Brasil perderia a "reserva de mercado" que tem nos parceiros, tornando mais difícil enfrentar a concorrência de fora, em especial da China.
As divergências se estendem ao resto da América do Sul, apesar de os dois lados coincidirem na importância da região -compradora de bens industriais brasileiros e foco de investimentos de empresas nacionais.
Amaral diz que o governo Lula foi "complacente" com a quebra de contratos -cita a nacionalização da refinaria da Petrobras na Bolívia.
Segundo ele, o Brasil deve promover a "prosperidade compartilhada", com obras de infraestutura e integração produtiva -no que coincide com os petistas. Mas é preciso "contrapartida" dos vizinhos, "segurança jurídica e previsibilidade das regras".
À "Política Externa" Dilma minimizou os atritos econômicos e defendeu o "respeito" às diferenças políticas na região: "Temos de aceitar o pluralismo. Cada país tem sua realidade, e os governos são eleitos a partir de uma agenda doméstica própria".
Nos direitos humanos, Serra criticou o silêncio do governo sobre violações em Cuba e no Irã, que chamou de ditadura fascista. Há dúvidas se ele manteria esse tipo de ataque público, se eleito.
Amaral defende que o Brasil reveja sua posição "defensiva" e reafirme seus "valores e princípios", deixando de se abster nos fóruns multilaterais-onde não costuma apoiar sanções contra países acusados de violações.
Dilma reafirma o que diz Celso Amorim: que o país "não é uma ONG" para "distribuir certificados de bom comportamento" e que "procedimentos discretos" são "mais eficientes", como na libertação pelo Irã de uma francesa e de uma americana após gestões brasileiras.
A petista destaca a participação do país nos G20 financeiro e comercial e "o forte movimento" em direção ao Sul geopolítico, com fóruns como Ibas (Índia, Brasil e África do Sul) e Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), "que expressam a nova configuração multipolar". Há consenso de que, com ela ou Serra, o Brasil não poderá recuar desses fóruns, mas pode relativizar sua importância.
Amaral cita a predominância das "geometrias variáveis", coalizões para temas específicos: "No séc. 21 não existem mais relações sempre alinhadas". Mas diz que a cooperação Sul-Sul "tem limites": "Houve boas razões para rejeitar a Alca, mas há alternativas. É equívoco condicionar a política comercial a preferências ideológicas".


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