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Campanha diplomática
Dilma quer manter política de diversificação de parcerias ; Serra quer mudar comércio
CLAUDIA ANTUNES
DO RIO
No comando da política
externa, Dilma Rousseff (PT)
e José Serra (PSDB) adotariam posições diferentes sobre os vizinhos sul-americanos, os direitos humanos e as
relações Sul-Sul, segundo
declarações na campanha e a
avaliação de diplomatas.
Dilma, em entrevista à revista "Política Externa", defendeu a continuidade da
busca da "diversificação de
parceiros" e do "redesenho
da geopolítica internacional" -mas enfrentará divergências entre as próprias potências emergentes sobre a chamada "democratização"
da governança global.
Serra tem defendido "mais
agressividade" no comércio
e critica Lula por não ter buscado acordos bilaterais na
área -mas esbarrará no protecionismo, sobretudo dos
países ricos, que cresceu depois da crise financeira.
O tucano diverge do atual
governo -e do de FHC- ao
propor a "flexibilização" do
Mercosul, que abandonaria a
pretensão de firmar-se como
união aduaneira, com uma
Tarifa Externa Comum, para
ser apenas área de livre comércio -posição também de
assessores da Fiesp.
Seu argumento é o de que
a TEC -furada por duplas cobranças e exceções- foi "irrealista" e que sua suspensão permitiria ao Brasil, que
responde por 80% da economia do bloco, negociar sozinho acordos comerciais.
"A questão é que muitos
pensam, possivelmente com
razão, que vamos ser menos
ambiciosos e um pouco mais
realistas", diz o embaixador
Sérgio Amaral, ex-ministro
do Desenvolvimento de FHC.
Os petistas querem "aprofundar" o Mercosul e alegam
que, se a TEC acabar, o Brasil
perderia a "reserva de mercado" que tem nos parceiros,
tornando mais difícil enfrentar a concorrência de fora,
em especial da China.
As divergências se estendem ao resto da América do
Sul, apesar de os dois lados
coincidirem na importância
da região -compradora de
bens industriais brasileiros e
foco de investimentos de empresas nacionais.
Amaral diz que o governo
Lula foi "complacente" com
a quebra de contratos -cita a
nacionalização da refinaria
da Petrobras na Bolívia.
Segundo ele, o Brasil deve
promover a "prosperidade
compartilhada", com obras
de infraestutura e integração
produtiva -no que coincide
com os petistas. Mas é preciso "contrapartida" dos vizinhos, "segurança jurídica e
previsibilidade das regras".
À "Política Externa" Dilma
minimizou os atritos econômicos e defendeu o "respeito" às diferenças políticas na
região: "Temos de aceitar o
pluralismo. Cada país tem
sua realidade, e os governos
são eleitos a partir de uma
agenda doméstica própria".
Nos direitos humanos,
Serra criticou o silêncio do
governo sobre violações em
Cuba e no Irã, que chamou de
ditadura fascista. Há dúvidas
se ele manteria esse tipo de
ataque público, se eleito.
Amaral defende que o Brasil reveja sua posição "defensiva" e reafirme seus "valores e princípios", deixando
de se abster nos fóruns multilaterais-onde não costuma
apoiar sanções contra países
acusados de violações.
Dilma reafirma o que diz
Celso Amorim: que o país
"não é uma ONG" para "distribuir certificados de bom
comportamento" e que "procedimentos discretos" são
"mais eficientes", como na libertação pelo Irã de uma
francesa e de uma americana
após gestões brasileiras.
A petista destaca a participação do país nos G20 financeiro e comercial e "o forte
movimento" em direção ao
Sul geopolítico, com fóruns
como Ibas (Índia, Brasil e
África do Sul) e Bric (Brasil,
Rússia, Índia e China), "que
expressam a nova configuração multipolar". Há consenso de que, com ela ou Serra, o
Brasil não poderá recuar desses fóruns, mas pode relativizar sua importância.
Amaral cita a predominância das "geometrias variáveis", coalizões para temas
específicos: "No séc. 21 não
existem mais relações sempre alinhadas". Mas diz que a
cooperação Sul-Sul "tem limites": "Houve boas razões
para rejeitar a Alca, mas há
alternativas. É equívoco condicionar a política comercial
a preferências ideológicas".
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