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PRESIDENTE 40 ELEIÇÕES 2010
Marina muda tom e agora flerta com a base de Lula
Verde amplia elogios ao presidente e aposta no slogan de "outra Silva"
Aliado diz que senadora conhece o potencial da "marca Lula'; ela nega ter alterado o discurso com objetivos eleitorais
BERNARDO MELLO FRANCO
DE SÃO PAULO
A chegada de um operário
ao poder tirou 25 milhões de
pessoas da pobreza e mostrou que é possível crescer
com distribuição de renda.
O presidente Lula não precisa de um opositor, mas de
um sucessor que saiba reconhecer suas conquistas e fazer o país avançar mais.
O povo brasileiro perdeu o
medo de ver um Silva no Palácio do Planalto.
As ideias acima podiam
estar numa cartilha petista,
mas foram apresentadas nas
últimas duas semanas pela
candidata do PV à Presidência, Marina Silva.
Depois de iniciar a campanha com críticas duras ao governo, ela mudou o tom e
adotou um discurso mais
ameno, valorizando as semelhanças com o ex-chefe.
A guinada foi discutida na
cúpula verde, após pesquisas mostrarem que a senadora começava a ser vista como
uma figura de oposição ao líder mais popular da história
recente do país.
OUTRA SILVA
Desde o dia 10, quando
elogiou o presidente pela redução da pobreza na convenção do PV, Marina investe para aproximar sua imagem à
de Lula -cujo governo tem
aprovação recorde de 76%,
segundo o Datafolha.
Aliada do petista em suas
cinco campanhas presidenciais, ela tem ressaltado pontos em comum de suas trajetórias. Os dois têm origem
pobre, driblaram a fome e entraram na política ao lado
dos movimentos sociais.
O flerte com o eleitorado
lulista ganhou um esboço de
slogan no dia 16, quando a
senadora disse, na sabatina
da Folha, que "as pessoas
que votaram no Lula vão
continuar votando num Silva, só que na Marina Silva".
Na quinta-feira, ela brincou com neologismos eleitorais da política mineira para
sugerir que espera o voto de
quem aprova o presidente.
"O pessoal está fazendo
junções e criando nomes
exóticos, como Pimentécio e
Dilmasia. Eu nem preciso
disso, porque já sou naturalmente Silva", afirmou.
A senadora disse à reportagem que "o povo aprendeu
a não ter medo dos Silvas".
"Passaram anos assombrando que o Silva não dava certo, mas agora o pessoal perdeu o medo."
O aliado Airton Soares defende a guinada no discurso:
"Marina sabe o potencial
eleitoral da marca Lula. Por
isso tem procurado mostrar
sua proximidade com ele".
Para o ex-deputado, ela
deve aproveitar a popularidade presidencial por ter integrado o governo até 2008.
"Marina seria uma sucessora
mais natural de Lula do que a
Dilma", provoca ele.
Questionada, a candidata
disse não ter mudado sua
avaliação do governo com
fins eleitorais. "Não tenho
elogiado mais. Nunca fiz diferente do que estou fazendo.
Mas, à medida que tenho
mais espaço, isso vai aparecer mais", justificou.
A convenção do PV marcou a entrada de outro elemento novo no repertório de
Marina, que pediu orações
para que o "Brasil possa ter a
primeira mulher negra, de
origem pobre", no Planalto.
Em setembro de 2009, ela
afirmou à revista "Veja" que
seria "oportunismo" explorar na campanha o fato de ser
"mulher, negra e de origem
humilde". Anteontem, disse
não ver contradição entre as
duas declarações.
"Obama não negava que
era negro, não teve que fazer
um curso de Michael Jackson
para ser presidente. Não posso negar minhas raízes e minha trajetória humilde. Mas
não vou usar isso para polarizar a disputa", prometeu.
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