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Proposta traz riscos para a democracia, afirmam especialistas
UIRÁ MACHADO
DE SÃO PAULO
Para a maioria dos especialistas ouvidos pela Folha,
a convocação de uma Constituinte exclusiva é inconstitucional do ponto de vista jurídico-formal e, do ponto de
vista político, traz riscos para
a democracia estabelecida
no Brasil em 1988.
Mesmo aqueles que não
enxergam problemas na proposta a consideram improvável e afirmam que a agenda
constituinte precisaria estar
bem definida, para evitar alterações imprevistas.
"A Constituinte exclusiva
é, no cenário brasileiro, uma
criação ardilosa que persegue objetivos inconfessáveis
e resultará, caso seja operacionalizada, numa verdadeira fraude constitucional", diz
André Ramos Tavares, diretor do Instituto Brasileiro de
Estudos Constitucionais.
Autor de diversos livros sobre direito constitucional,
Tavares afirma que "a consolidação das instituições republicanas" é fundamental para o fortalecimento da democracia. "Nesse ponto, a mudança constitucional seria
nítido retrocesso."
Para o advogado Ives Gandra da Silva Martins, toda
mudança constitucional no
Brasil deve respeitar o artigo
60 da Constituição, que prevê emenda constitucional.
"Não há outro rito. A não ser
um golpe de Estado."
Virgílio Afonso da Silva,
professor titular de direito
constitucional da USP, afirma que é uma questão lógica.
"Além das cláusulas pétreas,
nunca pode ser mudado o
próprio processo de alteração constitucional."
"Aceita a inconstitucionalidade formal, o debate se
desloca para o âmbito histórico-político e a pergunta seria: estamos em um momento de refundação constitucional? A resposta, para mim, é
muito clara: não", diz Silva.
O cientista político Cláudio Couto, da FGV, não vê
"grandes problemas na
Constituinte exclusiva para
promover a reforma política". Mas, diz ele, é preciso
"estar bem delimitado o objeto". Couto afirma que, como
"o acordo entre nossas elites
acerca da manutenção da
competição democrática está
bem estabelecido", não há
riscos para a democracia.
Para Fabiano Santos, professor de ciência política da
Uerj, "não é necessária uma
Constituinte exclusiva. Se as
votações relativas à reformas
políticas não andam, é porque não há consenso. É preciso discutir, criar consensos
e votar, como acontece em
todas as democracias".
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