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PRESIDENTE 40 ELEIÇÕES 2010
Marina abandona ideias de campanhas anteriores do PV
Aborto, legalização da maconha e fim do serviço militar deixam programa
Documento de 2010 ignora bandeiras que marcaram candidaturas de Gabeira e Sirkis ao Palácio do Planalto
BERNARDO MELLO FRANCO
DE SÃO PAULO
Descriminalização da maconha e do aborto, fim do serviço militar obrigatório, criação de "ecotaxas" para coibir
o consumo de gasolina e a
produção de automóveis.
Estas são algumas bandeiras que marcaram as duas
primeiras candidaturas do
PV à Presidência, mas foram
descartadas pela campanha
de Marina Silva em 2010.
À exceção das causas ecológicas, as diretrizes do programa de governo da senadora pouco lembram as plataformas de Fernando Gabeira, em 1989, e Alfredo Sirkis,
em 1998. Os dois receberam
menos de 1% dos votos.
Apresentado por Marina
anteontem, o documento
"Juntos pelo Brasil que queremos" evita polêmicas que
possam contrariar o eleitor
conservador, os militares ou
as convicções religiosas da
candidata, que é evangélica.
Na área econômica, promete manter a política vigente e condena a criação de novos impostos, num aceno a
empresários e doadores.
MACONHA
A liberação da maconha,
defendida por Gabeira em 89
e prevista até hoje no programa do PV, foi um dos itens
"esquecidos" por Marina.
Sua plataforma tem uma
única frase sobre o tema, sem
citar a droga ou emitir opinião: "Discutir com a sociedade a política de drogas e investir no esclarecimento, na
prevenção e no tratamento
dos dependentes".
A descriminalização do
aborto, prevista na primeira
campanha verde e no documento partidário, também
sumiu da pauta. Em entrevistas, a candidata sugere um
plebiscito sobre o assunto.
Na primeira eleição direta
para o Planalto após a ditadura, Gabeira aparecia na TV
entre tanques e canhões para
defender o fim do serviço militar. O alistamento segue
obrigatório, mas a causa nem
sequer é mencionada na cartilha verde de 2010.
Ao justificar a mudança no
discurso do PV, Sirkis sugeriu que as campanhas anteriores não foram para valer:
"Minha candidatura foi para
tornar o partido mais conhecido. Nem nos sonhos mais
delirantes passou pela nossa
cabeça a ideia de ganhar".
"As diretrizes de Marina
têm componentes de sonho,
mas é um sonho factível",
acrescentou ele.
Candidato ao governo do
Rio, Gabeira disse ter usado a
disputa presidencial de 89
para divulgar teses "ligadas
ao Parlamento". "Na verdade, nenhum partido resolve
essas questões", reconheceu, 21 anos depois.
"O PV tinha pretensões
minoritárias e agora está introduzindo questões que
preocupam o cidadão comum. Mas não há uma distância tão abissal entre o presente e o passado", afirmou.
Na terça-feira, Marina não
quis comentar a guinada na
plataforma verde. Ontem, o
coordenador da campanha
de Marina, João Paulo Capobianco, disse à Folha que o
partido só mudou em temas
"não estruturais".
"São coisas diferentes. O
programa do PV mantém várias dessas questões que se
chamam de libertárias. Visões do partido que não são
consideradas estratégicas
não precisam estar na plataforma de governo", afirmou.
Ele também invocou a
"cláusula de consciência" introduzida no programa do
PV em agosto de 2009, quando a senadora se filiou ao
partido. O objetivo da alteração foi permitir à futura candidata à Presidência divergir
da sigla por razões religiosas.
Sobre o sumiço das "ecotaxas", previstas no programa
de Sirkis e rejeitadas pelo empresariado, Capobianco disse: "Queremos induzir práticas sustentáveis, mas sem
aumentar impostos".
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