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ANÁLISE
Dos "sonhos delirantes" ao crivo de Marina, partido pode perder essência
VERA MAGALHÃES
EDITORA DE PODER
A guinada "careta" do PV,
dos ideais libertários da geração de Gabeira e Sirkis à influência das crenças religiosas de Marina Silva sobre o
programa partidário, mostra
um pragmatismo que destoa
um pouco da utopia que a
campanha presidencial da
senadora tenta difundir.
Já haviam sumido do estatuto do partido temas polêmicos como a defesa do aborto e da discriminalização das
drogas. Agora, até uma "boutade", como a bandeira do
fim do serviço militar obrigatório, está sujeita ao revisionismo da era pós-Marina.
Tanto Sirkis quanto outros
dirigentes do partido -como
o candidato ao governo de
São Paulo, Fábio Feldmann- já admitiram que, na
fase pré-Marina, o PV era um
partido sem cara, aliado a governos de vários matizes
ideológicos e sem critérios
claros para aceitar filiados.
A filiação da senadora teve
como condição liberdade para opinar sobre o programa
partidário e poder de participar da peneira para filtrar a
entrada de filiados "ficha-suja" ou com biografia incompatível com a causa verde.
Ao ceder sem discussão às
novas diretrizes ditadas pelo
ingresso da candidata, o PV
parece fazer uma confissão
pública de que, antes, era um
partido "café com leite".
É o próprio Sirkis que afirma que nem nos sonhos
"mais delirantes" os verdes
históricos podiam acreditar
na viabilidade dessas ideias.
A renúncia a propostas
mais liberais, principalmente nas questões de comportamento, leva a sigla para mais
perto dos partidos tradicionais, alvos de recorrentes críticas das candidatas.
Marina tem se apresentado como a candidata de uma
certa utopia possível, que remete ao discurso do "Yes, we
can" de Barack Obama. É
com essa estratégia que ela
espera, como tem repetido,
quebrar a polarização entre
José Serra e Dilma Rousseff.
Deixar para trás bandeiras
caras a um certo público simpático ao PV -que a própria
campanha já localizou na intelectualidade urbana- pode levar a candidata a perder
um de seus principais apelos.
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