São Paulo, sexta-feira, 29 de outubro de 2010 |
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MARK WEISBROT Estratégia republicana fracassa
NADA ACABA antes do fim, mas parece cada vez mais provável que Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores, situacionista, será a nova presidente do Brasil, o que a tornará uma das mais poderosas mulheres do planeta. No final, a "estratégia republicana" de seu rival José Serra resultou em campanha amarga e feia, mas não bastou para levar os eleitores brasileiros a deixar de lado sua preocupação com o bem-estar econômico deles mesmos e talvez também o dos demais brasileiros. A campanha se tornou uma insalubre troca de acusações de corrupção e de delitos, de parte a parte, e terminou com a mulher de Serra acusando Dilma de "matar criancinhas". Grupos e líderes religiosos se mobilizaram em favor da campanha de Serra e acusaram Dilma de querer legalizar o aborto, proibir símbolos religiosos e de ser "anticristã". Já viram coisa parecida? Basta recordar as estratégias eleitorais do Partido Republicano nos Estados Unidos: da "estratégia sul" de Richard Nixon à ascensão da direita religiosa nos anos 80, chegando às acusações contra John Kerry e às "armas de distração em massa" de Karl Rove em anos recentes. A campanha de Serra tentou até um ataque em estilo republicano à política externa de Lula, com acusações de brandura no trato a ditadores, terroristas e ao tráfico de drogas. Nada disso pegou. Talvez não surpreenda que Serra, economista, tenha tentado evitar as questões econômicas mais importantes para a vida da maioria dos brasileiros. A economia teve desempenho muito melhor nos anos Lula do que nos oito anos em que o PSDB, partido de Serra, esteve no governo: a renda per capita cresceu em 23% de 2002 a 2010, ante apenas 3,5% entre 1994 e 2002. O desemprego oficial bateu novo recorde ao cair a 6,2%. Talvez ainda mais importante seja o fato de que a maioria dos brasileiros tenha conseguido ganhos substanciais: o salário mínimo, considerada a inflação, cresceu em 65% nos anos Lula. Isso é mais que três vezes sua elevação nos oito anos anteriores (ou seja, na presidência Cardoso). Isso afeta não apenas os trabalhadores que recebem o mínimo mas dezenas de milhões de outras pessoas cujas rendas estão vinculadas ao seu valor. Além disso, o governo expandiu o programa Bolsa Família, que oferece pequenos pagamentos em dinheiro às famílias pobres, tendo comparecimento escolar e a programas de vacinação como contrapartes. O programa obteve sucesso na redução do analfabetismo e agora beneficia 13 milhões de famílias. Mais de 19 milhões de pessoas passaram a ter renda superior à linha da pobreza, de 2003 para cá. E um novo programa de subsídios à compra da casa própria beneficiou centenas de milhares de famílias, e outros milhões devem tomar parte dele quando for expandido. Ainda que a estratégia de campanha republicana tenha funcionado bem ao longo da maior parte das quatro décadas passadas nos Estados Unidos, não funcionou bem em versão exportação. O eleitorado brasileiro logo se cansou da troca de acusações, e os eleitores indecisos queriam saber se Serra faria por eles algo de melhor que aquilo que o PT realizou. Porque não soube lhes responder, Serra perdeu seus votos. MARK WEISBROT é codiretor do Centro de Pesquisa Econômica e Política, em Washington (www.cepr.net). Também é presidente da Just Foreign Policy (www.justforeignpolicy.org).
Tradução de PAULO MIGLIACCI Claudio Weber Abramo Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Foco: Trotes provocam baixas em listas de apoio a candidatos Índice | Comunicar Erros |
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