|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Troca de e-mails revela confronto no CNJ
Gilmar Mendes, ex-presidente do STF, e o atual, Cezar Peluso, divergem em tom ríspido sobre gastos do conselho
Peluso atacou Mendes em reunião do CNJ, o que levou o antecessor a enviar mensagem em que rebate as críticas
FERNANDO DE BARROS E SILVA
COLUNISTA DA FOLHA
O atual presidente e seu
antecessor no STF (Supremo
Tribunal Federal) estão em
pé de guerra. Cezar Peluso e
Gilmar Mendes trocaram e-mails ríspidos na última sexta-feira, em que explicitam
divergências e restrições recíprocas a respeito da condução do CNJ (Conselho Nacional de Justiça).
Incomodado com a atuação de seu sucessor, Mendes
tomou a iniciativa de escrever a Peluso. Chegou a seu
conhecimento que o atual
presidente do CNJ o havia criticado em reunião recente,
perante os demais 14 conselheiros, pelos gastos do órgão com diárias e passagens
destinados ao programa do
mutirão carcerário -menina
dos olhos de Mendes.
Segundo a Folha apurou,
Peluso disse que tinham sido
destinados aos juízes auxiliares envolvidos no mutirão
cerca de R$ 7 milhões, o que
lhe parecia abusivo, inclusive à luz das críticas que o próprio Mendes havia feito aos
valores gastos em diárias pelos conselheiros.
Ao saber do ataque, Mendes solicitou à diretoria de
controle interno do CNJ a relação de gastos com o mutirão. Recebeu uma planilha
na quarta-feira. Ali consta
que o CNJ gastou no programa R$ 2.807.055,70 com diárias e R$ 1.229.259,20 com
passagens. Total de R$
4.036.314,90.
Conforme a planilha, os
gastos totais com juízes auxiliares somam R$
10.826.637,54 entre agosto de
2008 e abril de 2010, consideradas diárias e passagens de
todos os programas do CNJ,
não só o mutirão.
Em seu e-mail, a que a Folha teve acesso, Mendes diz,
sem nenhuma formalidade:
"Peluso, a respeito de comentários sobre gastos com
diárias, encaminho-lhe...".
Dá ao colega a sugestão de
que tudo seja divulgado, avisa que vai escrever na imprensa a respeito e diz ser
"elementar" que "não se faça a confusão entre o valor
orçado e o valor gasto".
Despede-se sem nenhuma
saudação. A seguir, ele envia
cópia aos "caros conselheiros", de quem se despede
com "abraços". Isso ocorreu
às 5h16 de anteontem.
No final da tarde, Peluso
responde de forma ainda
mais dura: "Gilmar, as referências ao valor dos gastos,
às quais não correspondem
exatamente ao total despendido de fato...".
Depois de questionar dessa maneira a prestação de
contas feita por Mendes, o
ministro diz que esse não é
assunto "para o público externo", numa alusão às incursões midiáticas do colega. E critica o que chama de
"antigas estruturas burocráticas" do CNJ, que, segundo
ele, não tinha "setor contábil
específico nem controle individualizado de custos por
projeto ou programa".
O episódio escancara tensões entre ambos que vêm se
acumulando desde a posse
de Peluso, no final de abril.
O novo presidente do CNJ
dispensou ao assumir quase
todos os juízes auxiliares que
trabalharam na gestão de
Mendes, inclusive Erivaldo
Ribeiro, que coordenou os
mutirões carcerários.
Na gestão anterior, o programa colocou em liberdade
cerca de 20 mil pessoas indevidamente encarceradas.
"IMBECIL"
Na sua primeira sessão como presidente do órgão, Peluso protagonizou um momento constrangedor.
Ao ser questionado pelo
conselheiro Marcelo Neves,
que dele havia discordado, o
ministro retrucou: "Vossa excelência não me ouviu direito
ou, se ouviu, não entendeu".
E continuou: "Vossa excelência está supondo que eu
sou tão imbecil e não sou capaz de imaginar que um caso
isolado possa provocar fraude?". O conselheiro Neves
preferiu não responder.
O CNJ foi criado em 2005
com a responsabilidade de
fazer o controle dos deveres
funcionais do Judiciário. O
órgão analisa questões administrativas contra tribunais e
juízes. O mandato dos conselheiros é de dois anos.
Texto Anterior: Saiba mais: Para tucano, país é "cúmplice" do narcotráfico Próximo Texto: Presidente 40/Eleições 2010: Queda de Serra expõe atritos DEM-PSDB Índice
|