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País não está pronto para a nova classe média, diz Bolívar
É preciso "evitar o oba-oba", afirma doutor em ciência política e diretor de instituto de estudos econômicos
Entraves do país são infraestrutura, mão de obra especializada e educação, diz autor de "A Nova Classe Média"
UIRÁ MACHADO
DE SÃO PAULO
O Brasil não está pronto
para a nova classe média.
Tampouco esse segmento
populacional está devidamente preparado para suas
recentes conquistas em termos de mobilidade social.
As afirmações são de Bolívar Lamounier, doutor em
ciência política pela Universidade da Califórnia e primeiro diretor-presidente do
Ipesp (Instituto de Estudos
Econômicos, Sociais e Políticos de São Paulo).
Em parceria com Amaury
de Souza, ele acaba de lançar
o livro "A Nova Classe Média" (Campus-Elsevier).
Na entrevista abaixo, ele
discute a sustentabilidade da
nova classe média e diz ser
preciso "evitar o oba-oba".
Folha - Quais são as principais características dessa nova classe média?
Bolívar Lamounier - Estamos falando de algo em torno de 80 milhões de pessoas,
um agregado social imensamente heterogêneo.
É um megaprocesso de
mobilidade social. É o conjunto da classe C ascendendo
a condições e aspirações
mais altas de consumo .
Em razão disso, as famílias
que a integram tornam-se
mais "ambiciosas". Têm
mais interesse em aumentar
sua renda, querem um nível
educacional mais alto para si
e para seus filhos, manifestam desejo de obter um bom
emprego ou de se estabelecer
por conta própria etc.
Essa nova classe média é
"sustentável"?
No nível macro, a sustentabilidade depende do crescimento econômico a taxas
elevadas -e ambientalmente compatíveis. Hoje, no Brasil, há um clima de exagerado otimismo, mas é preciso
cautela para não cantarmos
vitória antes do tempo.
Por outro lado, o que chamamos de ascensão da classe C se confunde em larga
medida com a expansão do
mercado interno e a redução
das desigualdades de renda,
condições que tendem a tornar o processo inteiro mais
sustentável, quer dizer, menos suscetível a crises.
O nível micro refere-se à
geração da renda pelas famílias, à educação, ao empreendedorismo etc. Por
exemplo, existem milhões de
pessoas "empreendedoras",
mas muitas não estão preparadas para isso. Do outro lado, a política pública mais dificulta que ajuda: carga tributária elevada, complicações burocráticas etc.
O Brasil está pronto, do ponto
de vista estrutural, para essa
nova classe média?
O avanço realizado nas últimas duas décadas é muito
grande, mas eu não diria que
está pronto. Basta atentar para a infraestrutura, obviamente incapaz de sustentar
taxas elevadas de crescimento, a mão de obra especializada -que já começa a faltar-
e a educação, de modo geral
muito ruim.
E a nova classe média está
preparada?
É preciso evitar o oba-oba.
O aumento do consumo é salutar e as pessoas têm atualmente aspirações altas. Além
de adquirirem mais escolaridade, os indivíduos precisam
investir mais em si mesmos,
ou seja, em sua própria produtividade, seja para conseguir empregos estáveis e de
boa qualidade, seja para se
tornarem empreendedores.
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