São Paulo, sábado, 11 de maio de 2002 |
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Espaços Contemporâneos
A Questão Local
A localidade é uma área geográfica hierarquizada e com distâncias mensuráveis? O território é o herdeiro da antropologia e
do mundo da natureza? Ou seria, com a globalização, um lugar
construído a partir de realidades móveis, com distâncias e proximidades multidimensionais e instáveis? Bourdin traça um pequeno painel das respostas a essas indagações para já afirmar a
existência da localidade mundializada: estrutura em redes expansivas, permanentemente relocalizada e/ou deslocalizada,
territorialmente sem definição, mas retirando dessas características sua identidade. O local seria a outra realidade do mundo
globalizado, definhando com a nação e o Estado. Embora o livro
mire a França, Bourdin olhou Fortaleza. A cidade como exemplo pontual de fragmentação espacial. A consequência territorial da descontinuidade político-cultural da classe dirigente em
relação a seu povo não foi realçada. Para a maioria dos brasileiros, "rede", além da de dormir, continua sendo a de esgoto.
Bourdin parece próximo da visada naturalizante da globalização. A miséria e o saneamento básico ainda são âncoras em
muitas localidades do mundo.
Homenagem coletiva que busca apreender o papel da geografia de Milton Santos nas ciências sociais e sua contribuição para
o entendimento do espaço contemporâneo. Os ensaios -realizados em sua maioria por pós-graduandos do departamento de
geografia da USP- se debruçam sobre a obra de Santos sem
perder de vista o sentido e a importância da conexão geográfica
para a explicação do mundo coevo. É de notar a ausência de
uma introdução acerca da escrita do professor. Muito de suas
idéias e conceitos estão ligados à construção de uma linguagem
simultaneamente geográfica e crítica. A escrita não deixa de ser
uma forma de espacialização do pensamento. A contribuição
do cientista Milton Santos vive também no território da linguagem.
A chamada "geografia cultural" desenvolvida por Clarence
Glacken sustenta que as instituições que cultivam a música e outras artes são fundamentais para o estudo das relações entre o
homem e seu meio ambiente. Acompanhando a Festa da Penha
na República Velha e a batucada em casa de Tia Ciata; revisitando Donga, Ismael Silva e o grande Paulo da Portela, Nelson Fernandes caminhou pelo Estácio, Mangueira, praça Onze, avenida Rio Branco e escreveu um notável livro de geografia cultural:
o território de nascimento do samba e suas escolas; o papel que
as escolas jogaram ao lado do subúrbio, das favelas, dos pobres
-sobretudo negros- na apreensão do seu meio e de si mesmos.
Fundada pelo físico Bautista Vidal e pelo geólogo Marcelo
Guimarães, a Escola da Biomassa (que trata da energia produzida pelas plantas verdes) ganhou didática sistematização com esse livro. Em 13 capítulos, mais a cronologia da escola e uma bibliografia servindo como orientação de leitura, o autor chama a
atenção para uma bioenergética apreendida como economia
política da física dos trópicos. A Escola da Biomassa ou, como
sugere Vasconcellos, a própria energia dos trópicos, possibilitaria estabelecer uma revisão da história política, econômica e cultural do país. Pode ser. É manifesta a crise terminal do carvão e
do petróleo, energéticos fundamentais para todos, mas sobretudo para os países do norte que realizaram suas revoluções industriais estribadas nesses dois minérios. Informa o autor que a
crise energética está na raiz deste estado de incerteza mundial;
que a biomassa transforma a periferia em centro e que um dos
propósitos da globalização é a busca do controle da energia dos
trópicos -sol, água, mandioca, cana, dendê etc.- pelos países
hegemônicos. |
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