São Paulo, sábado, 11 de maio de 2002

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Espaços Contemporâneos

A Questão Local
Alain Bourdin
Tradução: Orlando dos Reis
DP&A (Tel. 0/xx/21/2232-1768)
237 págs., R$ 25,00

A localidade é uma área geográfica hierarquizada e com distâncias mensuráveis? O território é o herdeiro da antropologia e do mundo da natureza? Ou seria, com a globalização, um lugar construído a partir de realidades móveis, com distâncias e proximidades multidimensionais e instáveis? Bourdin traça um pequeno painel das respostas a essas indagações para já afirmar a existência da localidade mundializada: estrutura em redes expansivas, permanentemente relocalizada e/ou deslocalizada, territorialmente sem definição, mas retirando dessas características sua identidade. O local seria a outra realidade do mundo globalizado, definhando com a nação e o Estado. Embora o livro mire a França, Bourdin olhou Fortaleza. A cidade como exemplo pontual de fragmentação espacial. A consequência territorial da descontinuidade político-cultural da classe dirigente em relação a seu povo não foi realçada. Para a maioria dos brasileiros, "rede", além da de dormir, continua sendo a de esgoto. Bourdin parece próximo da visada naturalizante da globalização. A miséria e o saneamento básico ainda são âncoras em muitas localidades do mundo.

Ensaios de Geografia Contemporânea -
Milton Santos. Obra Revisitada
Ana Fani Alessandri Carlos (org.)
Hucitec/Imprensa Oficial/Edusp (Tel. 0/xx/11/3091-4156)
333 págs., R$ 32,00

Homenagem coletiva que busca apreender o papel da geografia de Milton Santos nas ciências sociais e sua contribuição para o entendimento do espaço contemporâneo. Os ensaios -realizados em sua maioria por pós-graduandos do departamento de geografia da USP- se debruçam sobre a obra de Santos sem perder de vista o sentido e a importância da conexão geográfica para a explicação do mundo coevo. É de notar a ausência de uma introdução acerca da escrita do professor. Muito de suas idéias e conceitos estão ligados à construção de uma linguagem simultaneamente geográfica e crítica. A escrita não deixa de ser uma forma de espacialização do pensamento. A contribuição do cientista Milton Santos vive também no território da linguagem.

Escolas de Samba - Sujeitos Celebrantes e
Objetos Celebrados (Rio de Janeiro, 1928-1949)
Nelson da Nobrega Fernandes
Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro
(Tel. 0/xx/21/2273-4582)
153 págs., R$ 10,00

A chamada "geografia cultural" desenvolvida por Clarence Glacken sustenta que as instituições que cultivam a música e outras artes são fundamentais para o estudo das relações entre o homem e seu meio ambiente. Acompanhando a Festa da Penha na República Velha e a batucada em casa de Tia Ciata; revisitando Donga, Ismael Silva e o grande Paulo da Portela, Nelson Fernandes caminhou pelo Estácio, Mangueira, praça Onze, avenida Rio Branco e escreveu um notável livro de geografia cultural: o território de nascimento do samba e suas escolas; o papel que as escolas jogaram ao lado do subúrbio, das favelas, dos pobres -sobretudo negros- na apreensão do seu meio e de si mesmos.

Biomassa - A Eterna Energia do Futuro
Gilberto Felisberto Vasconcellos
Ed. Senac (Tel. 0/xx/11/ 3284-4322)
142 págs., R$ 20,00

Fundada pelo físico Bautista Vidal e pelo geólogo Marcelo Guimarães, a Escola da Biomassa (que trata da energia produzida pelas plantas verdes) ganhou didática sistematização com esse livro. Em 13 capítulos, mais a cronologia da escola e uma bibliografia servindo como orientação de leitura, o autor chama a atenção para uma bioenergética apreendida como economia política da física dos trópicos. A Escola da Biomassa ou, como sugere Vasconcellos, a própria energia dos trópicos, possibilitaria estabelecer uma revisão da história política, econômica e cultural do país. Pode ser. É manifesta a crise terminal do carvão e do petróleo, energéticos fundamentais para todos, mas sobretudo para os países do norte que realizaram suas revoluções industriais estribadas nesses dois minérios. Informa o autor que a crise energética está na raiz deste estado de incerteza mundial; que a biomassa transforma a periferia em centro e que um dos propósitos da globalização é a busca do controle da energia dos trópicos -sol, água, mandioca, cana, dendê etc.- pelos países hegemônicos.

JULIO AMBROZIO
é autor, entre outros, de "Ensaios Serranos" (Ponte da Cadeia).



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