São Paulo, sábado, 12 de setembro de 1998 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice O tribunal dos fatos
CLAUDIO VOUGA
Duas são então as tarefas a que se dedica Alberto Oliva. Por um lado, aponta as limitações dessa orientação metodológica na análise dos assim chamados fatos sociais, por outro, mostra que não se pode pretender que autores que partem de pressupostos epistemológicos tão diferentes como Durkheim, Weber e Marx possam ser classificados como defensores do empirismo indutivo. Em sua critica ao ecletismo metodológico em que Florestan se enreda , Oliva cita a obra pioneira de Octavio Ianni, "Sociologia da Sociologia Latino-Americana", que, já nos idos de 1971, chamava a atenção para o fato. Ao ressaltar o indutivismo por vezes ingênuo de Florestan, o autor mostra como o mesmo pode ser compreendido: "Num ambiente cultural muitas vezes dominado por uma verborragia pedante (...), foi mais que oportuno o surgimento de uma postura metodológica como a de Florestan, que conclamava os discursos com pretensões científicas a enfrentarem o tribunal dos fatos". Justamente é nesse contexto que deve ser encarada a redução da sociologia ao método empírico indutivo, contra o bacharelismo e o impressionismo nem sempre tão inocente -afinal Florestan está escrevendo no Brasil de meados dos anos 50 e primeira metade dos 60. O mais incrível é que, 40 anos depois, ainda haja quem acredite estar fazendo ciência com a manipulação primária de dados empíricos que, graças à disponibilidade dos recursos da microinformática, facilmente se transformam em tabelas e gráficos que sempre permitirão dizer como o genial Gerson, autor da lei que leva o seu nome, que "uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa". Reparos formais são necessários. O primeiro diz respeito às notas ao fim de cada capítulo -o que já é incômodo para o leitor-, as quais nem sempre se encontram no local referido. O segundo é talvez uma idiossincrasia para facilitar a consulta dos leitores, sobretudo os estudiosos, das fontes citadas. Sempre que houver uma tradução em língua portuguesa, esta deva ser priorizada, caso contrário a citação deve ser a da obra original, a não ser excepcionalmente. Não é o caso, entre outros, do livro clássico de Dahrendorf sobre as classes na sociedade contemporânea, cujo original é em inglês, traduzido pela editora da Universidade de Brasília, e que é citado por nosso autor em uma tradução italiana. Uma palavra de elogio para a coleção "Filosofia" da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, da qual o livro de Oliva é o numero 55 dentre títulos de autores brasileiros de filosofia antiga, medieval, moderna e contemporânea, alguns conhecidos, outros menos. É pena que a divulgação da editora, como de resto a de tantas outras editoras universitárias, seja tão deficiente. Claudio Vouga é professor do departamento de ciência política da USP. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice |
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