São Paulo, sábado, 14 de novembro de 1998 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice Paixão pelo design
ANA LUISA ESCOREL
Ao mostrar-se severamente crítico em relação ao constante lançamento de objetos inúteis e à tendência de adoção, pela indústria, do princípio da obsolescência planejada, lembra que existe atualmente um descompasso entre requisitos como adequação ergonômica e utilidade, de um lado, e excelência tecnológica, de outro. Ou seja, cada vez mais, objetos perfeitamente inúteis e ergonomicamente inadequados apresentam soluções tecnológicas formidáveis, como por exemplo certas calculadoras que reproduzem a solução formal e as dimensões de um cartão de crédito, possuindo incrível capacidade de armazenamento de dados e de desempenho de funções matemáticas, sendo, no entanto, inadequadas ao manuseio por não possuírem teclas dimensionadas para acolher os dedos que deveriam operá-la. Abordando outro dos múltiplos aspectos da atividade que levanta em seu texto, Moraes lembra que o design não deve ser entendido somente como instrumento de projeto, mas também como disciplina de planejamento, estando apto, portanto, a colaborar no traçado de estratégias empresariais. O autor termina a segunda parte de seu livro mostrando a necessidade de adaptação constante do design, não só a um contexto que se carateriza pela permanente mutação tecnológica, mas também a condições de trabalho que podem se apresentar precárias, fazendo com que o profissional tenha que estar sempre pronto a se colocar como "uma fonte geradora de alternativas projetuais". Completando o círculo de abordagem ao design, o livro se detém no comentário sobre o ensino, deixando clara sua adesão a um certo informalismo existente neste setor na Itália, país onde o autor estudou, fez sua pós-graduação e viveu por algum tempo. Com efeito, os designers italianos raramente possuem formação especializada, tendendo a privilegiar o "o talento, a prática e a informação", como nos lembra o autor, em "detrimento da formação acadêmica". O que talvez fosse oportuno lembrar é que, não por acaso, a Itália provavelmente é o país que carrega a maior herança plástica do Ocidente. Para onde quer que se volte, de Norte a Sul, qualquer italiano que saiba olhar e tenha sensibilidade será premiado com obras-primas incomparáveis na pintura, na arquitetura, na escultura e no sistema dos objetos (para lembrar Baudrillard), fruto de centenas de anos de um artesanato requintadíssimo. Sendo assim, pode-se entender um certo desdém pela formação acadêmica em design, frequentemente manifestado pelos italianos, pois, nesses termos, ela talvez possa mesmo ser dispensada. E, nesses mesmos termos, a contrapartida representada dentro da própria Itália por Tomás Maldonado, numa discussão que o situa entre os defensores de metodologias de projeto que privilegiam os aspectos científicos e tecnológicos do processo, em detrimento da intuição, pode soar imprópria e deslocada. Encerrando o livro, o autor descreve um pouco de sua experiência como professor de projeto de produto, no curso de desenho industrial da Universidade do Estado de Minas Gerais, onde aplica sua concepção de design programado, elaborada a partir de uma definição de Alain Touraine e Z. Hegedus para a sociedade pós-industrial. De acordo com essa orientação, eleito um tema de trabalho, o aluno seria incentivado a buscar "infinitas possibilidades para sua solução", apoiado na capacidade de análise e reflexão, e contrariando o princípio taylorista, segundo o qual o aumento de produtividade se daria somente a partir de "one best way". Segundo Moraes, "a resposta programada permite escolher entre muitas soluções para maximizar a produção e realizá-la de diversas maneiras". "Limites do Design" coloca, sem dúvida, questões instigantes que ultrapassam o âmbito de interesse restrito da atividade. No entanto, dada a abrangência de seus propósitos, nem sempre o autor consegue dar conta do traçado a que se propôs. Entre os méritos do livro, o maior talvez seja a paixão que demonstra pelo design, atividade tão desconhecida e tão pouco respeitada no Brasil. Ana Luisa Escorel é designer e integra a equipe de projeto do escritório 19 Design. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice |
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