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Ribeirão
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Trecho

"Sapatos roucos vêm-se arrastando lentos nas lajotas da alameda. Dois sapatos. Pelo vão entre balaústres barrigudos e roliços, espiamos o vulto que sobe em diagonal, tentando descobrir quem vem debaixo de um guarda-chuva. A rouquidão dos sapatos nas lajotas é um pouco aguada, por isso, ao se aproximar do coreto, o guarda-chuva começa a tossir com voz feminina, uma voz velha, cheia de catarro. Aqui dentro, em cima, o coração parado, nós dois bem protegidos das lâmpadas e da chuva, somos duas estátuas ridículas agachadas e quase sem respiração, porque a velha resolve terminar de tossir apoiada na parede da pedra do coreto. Consigo ouvir seus pulmões inflarem com o ar úmido da noite chuvosa, sua respiração difícil e chiada logo depois da tosse. Mais nada vimos nem ouvimos porque o guarda-chuva esconde sua dona."

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