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Uma vida por Franca

Hélio Rubens, que anunciou a saída do Franca Basquete após meio século de história, foi vereador e quase optou pelo futebol

LEANDRO MARTINS
ENVIADO ESPECIAL A FRANCA

A última terça-feira, 24 horas depois de o técnico Hélio Rubens Garcia, 71, ter anunciado o fim de uma relação de meio século com o basquete de Franca, foi para o treinador um dia para relembrar a sua própria história.

Deu entrevistas, motivadas pelo anúncio feito no dia anterior de que deixará o comando do Franca Basquete em junho, e recebeu telefonemas de apoio a sua decisão.

Falou com a Folha na sala onde guarda as medalhas recebidas na carreira como jogador e técnico -em Franca e na seleção brasileira, além do período em que comandou Uberlândia e Vasco.

Nas duas horas de entrevista, a conversa foi interrompida por sete telefonemas. Falou com atletas e empresários -como Luiza Helena Trajano, do Magazine Luiza.

Numa ligação, em especial, chorou. Do outro lado da linha estava o advogado William Wanderley Jorge, 71, com quem jogou, ainda no colégio, sob o comando de Pedro Morilla Fuentes, o Pedroca, pioneiro do basquete moderno em Franca.

"Ele chorou de lá e eu chorei daqui. Foi uma honra ter jogado basquete, ainda que de maneira medíocre, ao lado do Hélio", disse o advogado em entrevista à Folha.

O INÍCIO

"Já naquela época, quando um jogo estava difícil, a regra era: passa a bola para o Hélio", afirma Jorge, rememorando as partidas disputadas no final dos anos 1950.

O time do qual Hélio Rubens e Jorge fizeram parte no IETC, o colégio estadual de Franca onde Pedroca era professor de educação física, foi o embrião da equipe que viria a se profissionalizar e conquistar destaque nacional.

Era para Hélio Rubens, porém, um período de dúvidas. Muita gente não imagina, mas o passado do mais vitorioso técnico do basquete brasileiro pendia muito mais para o campo de futebol.

Ele dividia seu tempo entre o basquete no IETC e as partidas de futebol como médio-volante da Francana. "Eu era muito melhor no futebol do que no basquete."

O fato que o empurrou de vez para o basquete ocorreu mais por iniciativa de um terceiro do que dele próprio.

A DEFINIÇÃO

Em 1959, quando já se destacava no basquete, ele foi orientado por amigos a pedir uma garantia da diretoria da Francana, para o caso de se lesionar no campo e ficar impedido de entrar em quadra.

Dias antes de um jogo contra o Atlético-MG, foi ao então presidente da Francana, Angelo Tornatore, e fez o pedido. O dirigente recusou e foi ao Botafogo de Ribeirão emprestar outro médio-volante para a partida.

A substituição levou Hélio Rubens ao choro. "Então eu disse: a partir de hoje não jogo mais futebol. E fui para o basquete", conta.

A decisão parecia fazer sentido. Afinal, Hélio Rubens seguiria os passos do pai, Francisco Garcia do Nascimento, o Chico Cachoeira, que já representava a cidade em partidas de basquete nos anos 1930.

Cachoeira deu ao basquete três filhos: além de Hélio, Totô e Fransérgio, que chegaram a jogar juntos. Helinho, armador do Franca e filho de Hélio Rubens, é a terceira geração na modalidade.

POLÍTICA

Já consagrado com títulos por Franca e até com um vice-mundial pela seleção (1970), Hélio Rubens se elegeu vereador em 1976. Permaneceu no cargo por 12 anos -dois mandatos de seis anos.

Enquanto ganhava mais títulos, propôs projetos que se tornaram leis, como a criação do distrito industrial da cidade e a isenção da passagem de ônibus para idosos.

Desistiu da política, embora tenha permanecido filiado ao PMDB e sido assediado a concorrer a deputado. "Não era a minha missão", diz.

FUTURO

O fim do casamento com o Franca Basquete, segundo ele, marca o reconhecimento de uma missão cumprida.

Ele prefere, porém, não colocar uma pedra definitiva sobre a relação. Afirma que pode, no futuro, até voltar a trabalhar em Franca, talvez em um cargo de direção.

Mostra-se tranquilo mesmo sobre recentes cobranças de parte da torcida, principalmente em razão da escassez atual de títulos -o último estadual é de 2007 e o nacional está mais distante, em 1999.

Agora, aos 71 anos, pode voltar às origens -avalia proposta para assumir cargo no Uberlândia, time da segunda divisão do futebol de Minas. Mas também revela contatos com o basquete argentino.

Questionado se, caso tenha que escolher, preferiria outra vez o basquete, como fez há 50 anos, foi bem direto: "Ah, acho que eu prefiro."

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