Nem prefeitura se entende sobre deficit nas creches

	Edson Silva/Folhapress
	Daniela de Souza, 19, que aguarda desde setembro de 2011 vaga para a filha em creche

A falta de investimentos ao longo das últimas décadas e problemas de gestão fizeram com que Ribeirão Preto não conseguisse zerar o deficit por vagas nas creches públicas, segundo especialistas. A carência já se tornou um problema histórico na cidade.

Na atual gestão, até mesmo o número correto de crianças de zero a três anos que esperam na fila por vagas em creches municipais é alvo de divergências.

No debate entre os candidatos a prefeito realizado na última quinta-feira pela TV Clube, a prefeita Dárcy Vera (PSD), candidata à reeleição, falou em ao menos 2.000 crianças fora das creches.

O número, no entanto, não é um consenso dentro do governo. A declaração de Dárcy contradiz o que a própria Secretaria da Educação disse à Folha no mesmo dia: "não há como precisar a demanda".

Com base no Censo 2010, o Ministério da Educação aponta que uma em cada quatro crianças de zero a três anos de idade não tem vaga na cidade, o que representaria um deficit de 3.625 vagas.

Não é difícil encontrar famílias com crianças fora de creches. Em 15 minutos no Branca Salles, periferia da cidade, a Folha achou quatro famílias nessa situação.

A falta de uma lista única de cadastro e a não divulgação à população de forma transparente transformam o setor num "curral eleitoral" e permitem manipulações, afirma Maria Malta Campos, professora de educação da PUC-SP e membro do Conselho Técnico-Científico da Educação Básica do MEC.

"Pelo porte de Ribeirão, não há nada que justifique esse problema", afirmou ela.

Frequentemente, os três conselhos tutelares de Ribeirão são procurados por pais que não conseguem vagas. Desde o início deste ano foram feitas 641 requisições.

"Na maioria dos casos, a mãe que procura pelo conselho cuida sozinha da criança e precisa trabalhar. O problema social se torna mais grave", afirmou o conselheiro tutelar Marcelo Ferreira.

É o caso de Daniela Fernanda de Souza, 19, moradora do Jardim Marchesi, que inscreveu a filha de dois anos em uma creche em setembro de 2011 e não teve resposta.

Como os conselhos também não conseguem resposta, buscam o Ministério Público. Desde setembro de 2011, há 21 ações civis públicas tramitando na Promotoria da Infância e Juventude, em que são exigidas da administração pública 282 vagas para creche e pré-escola.