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Problemas da cidade

Desperdício e alto consumo ameaçam a oferta de água

Estimativa é que as perdas atingem metade do total captado em Ribeirão

Única fonte da cidade, aquífero Guarani sofre rebaixamento de seu nível em cerca de um metro a cada ano

Edson Silva/Folhapress
Vazamento de água no Jd. Aeroporto, periferia de Ribeirão
Vazamento de água no Jd. Aeroporto, periferia de Ribeirão

JOÃO ALBERTO PEDRINI
DE RIBEIRÃO PRETO

O alto consumo e o desperdício ameaçam o fornecimento de água em Ribeirão Preto, causando desabastecimento e transtornos. Segundo moradores, autoridades e especialistas, a falta de água, que é crônica e recorrente em alguns bairros ao longo do ano, foi agravada nos últimos dois meses pela estiagem.

As falhas no abastecimento da cidade ocorrem em meio à polêmica que envolve a prefeita Dárcy Vera (PSD). Reportagem publicada pela Folha no dia 15 mostrou que ela tinha dívidas com o Daerp (Departamento de Água e Esgoto de Ribeirão Preto) que chegavam a R$ 3.303,08.

Uma das contas de sua casa estava atrasada havia 60 dias e, mesmo assim, o abastecimento não foi interrompido -lei municipal prevê corte após 30 dias de atraso.

Dárcy afirmou que as contas já haviam sido pagas, mas não informou quando a quitação dos débitos ocorreu.

Nos últimos dois meses, a falta de chuva aumentou a demanda por água em razão do calor e do tempo seco.

O diretor regional do Daee (Departamento de Águas e Energia Elétrica) do Estado, Carlos Eduardo Alencastre, afirma que houve elevação de até 40% no consumo por causa do período mais quente.

Ele diz que o desperdício é a principal causa do desabastecimento. O órgão estima que metade da água captada pelo Daerp é jogada fora por causa de problemas estruturais na rede, que causam inúmeros vazamentos.

"A rede é antiga, velha. Há muito vazamento. Além disso, a cidade cresce e aumenta muito o consumo em determinadas regiões", afirma.

AQUÍFERO

Toda água que abastece Ribeirão é obtida no aquífero Guarani, um dos maiores reservatórios de água doce subterrânea do mundo. Segundo o Ministério Público, a reserva sofre um rebaixamento de cerca de um metro por ano.

O aquífero é continuamente recarregado por água da chuva. Em Ribeirão, isso ocorre principalmente em áreas em que ele se aproxima da superfície, o que ocorre na zona leste -cerca de 30% do território do município.

Para permitir que haja recarga do aquífero, a promotoria age para garantir que 50% dessa região seja permeável e, portanto, permita infiltração de água da chuva.

"Temos 20 ações civis públicas e 80 inquéritos para garantir que metade dessa área [zona leste] permaneça permeável", diz o promotor de Justiça Cláudio Morelli.

DESABASTECIMENTO

Ao longo da última semana, a Folha percorreu bairros e constatou a falta de água em diferentes regiões -não é exclusividade da periferia.

Havia desabastecimento em bairros como Heitor Rigon, Ribeirânia, Lagoinha, Alto da Boa Vista, Jardim Marchesi, Planalto Verde, Vila Tibério, Paulo Gomes Romeu e Vila Maria Luiza.

Nem o centro de Ribeirão escapa. Na última quinta-feira, a reportagem encontrou quatro edifícios sendo abastecidos com água de caminhões-pipa do Daerp.

"Nos últimos dois meses, todo dia é assim. Vem o caminhão para socorrer", diz o advogado Paulo Marzola, 57, síndico do edifício Gávea.

Aelson Rezende, 36, porteiro do edifício Rio Negro, conta que o problema de falta de água se agravou nos últimos três anos -quando o caminhão não socorre, os moradores ficam sem água.

A falta de abastecimento alterou a rotina até mesmo de alunos em escolas da cidade.

Procurados nos últimos dias para tratar do assunto, nem a prefeitura nem o Daerp atenderam os pedidos de entrevista feitos pela Folha.

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