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A menina comunicadora

O mesmo talento que faz Dárcy se superar também coloca a prefeita em situações delicadas, como a da gafe do 7 de setembro

DE RIBEIRÃO PRETO

Numa despretensiosa entrevista dada em 2009 para uma rádio de Ribeirão Preto, Dárcy Vera (PSD) fez uma afirmação polêmica, com a convicção de um historiador especializado no século 19 brasileiro. Seu objetivo era homenagear Tiradentes.

Em pleno feriado de 7 de setembro, Dárcy acompanhava um desfile típico da data e, instada pelo repórter, afirmou: o inconfidente mineiro foi o "homem que gritou 'Independência ou Morte'".

Tiradentes (1746-1792) nem estava vivo quando dom Pedro 1º (1798-1834) deu o famoso grito em 1822, mas o episódio é revelador para a personalidade de Dárcy, primeira mulher a ocupar a Prefeitura de Ribeirão -muito impulsionada, na época, ao assistencialismo que já havia feito dela a vereadora com o maior número votos da história da cidade.

Motivo de chacota nacional -sobretudo com os arquivos no Youtube-, a gafe não abateu a prefeita por uma única razão que também explica o deslize: ela tem uma altivez que, ao mesmo tempo faz Dárcy ir além de seus limites -superando obstáculos-, mas também a coloca em situações negativas.

A prefeita de Ribeirão que tenta a reeleição não tem medo de se expor. Por isso, às vezes, fala o que não deve, como naquele 7 de setembro ou como quando, com a intenção de elogiar um secretário pelo seu histórico acadêmico, afirmou que ele tinha "várias mamografias no currículo" -, querendo dizer, na verdade, monografias.

TIQUES AUTORITÁRIOS

Pessoas próximas à prefeita a descrevem como uma trabalhadora, quase uma workaholic. Para ela, não há horário comercial. Talvez por isso, tenha perdido secretários logo nos primeiros meses do governo, em 2009. Um pelo menos reclamou de ter recebido chamadas telefônicas da prefeita, várias vezes, às 2h da madrugada.

A própria Dárcy já admitiu a prática. "Eu ligo, eu cobro. Ontem mesmo liguei para dois secretários à meia-noite", disse no balanço de cem dias do governo, em 2009.

O problema de fazer as ligações a essas horas, disse um ex-secretário à Folha, é que Dárcy fazia isso para falar de problemas que poderiam ser resolvidos sem urgência, dois dias depois e durante o horário "normal".

Um aliado a defende e classifica a prefeita de "perfeccionista". "Por isso, querendo fazer o melhor, ela exagera."

Apesar de ser muito centralizadora -outra crítica feita por pessoas próximas-, Dárcy tem habilidades que fazem com que ela consiga mobilizar a seu favor pessoas de diferentes interesses. Até um ex-opositor e atual aliado reconhece essa característica. "É uma política muito hábil para formar maiorias", disse o presidente do diretório municipal do PT, Pedro Sampaio, elogiando a prefeita e referindo-se às coligações de Dárcy -foram 13 partidos em 2008 e 16 neste ano.

TALENTO DO RÁDIO

Essa capacidade sofre muito influência de um talento que Dárcy traz da profissão que abraçou em Ribeirão: a de radialista.

Na terra onde diversos prefeitos e vereadores viram políticos graças ao rádio, a hoje prefeita soube aproveitar as aulas práticas recebidas em diferentes emissoras para se tornar uma comunicadora acima da média.

É verdade que seu público é o composto principalmente pelas classes C e D -fruto do seu assistencialismo-, mas a característica a ajuda na condução de negociações com políticos e empresários das elites local e nacional.

Nos debates da semana passada, ela demonstrou uma ironia pouco vista anteriormente. Chegou a irritar o adversário Duarte Nogueira (PSDB) com os sorrisos que dava enquanto o tucano falava. Acostumada a impressionar com sua oratória, desconcertou o rival apenas com outra ferramenta da comunicação: um recurso cênico.

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