Ribeirão Preto, Domingo, 03 de Maio de 2009

Próximo Texto | Índice

Novos bairros têm que "parasitar" vizinhos

Nos últimos cinco anos, seis bairros surgiram na periferia de Ribeirão sem a infraestrutura de ônibus, escolas e outras

Vivem no Pedra Branca, a 28 km do centro, 200 famílias; os moradores aproveitam a infraestrutura dos também carentes bairros vizinhos

Silva Junior/Folha Imagem
Lindaura Bezerra e a filha Izabela, que estuda no bairro vizinho porque o Pedra Branca não tem escolas

JULIANA COISSI
DA FOLHA RIBEIRÃO

Cerca de 200 famílias vivem em um bairro de Ribeirão Preto a 28 km do centro da cidade sem linhas de ônibus, creche, escola ou posto de saúde. Eles são moradores do Pedra Branca, um dos novos bairros de Ribeirão, vizinho do Complexo Ribeirão Verde, na zona nordeste da cidade.
Com o Pedra Branca, surgiram pelo menos seis "neobairros" na periferia da cidade desde 2004, segundo a Secretaria de Planejamento e Gestão Pública. Eles possuem asfalto e rede de iluminação, mas, sem estrutura própria, são obrigados a "parasitar" equipamentos públicos de bairros vizinhos, também carentes e que já estão com alta demanda.
A prefeitura alega que não consegue acompanhar o ritmo do crescimento populacional desses locais e que oferece o serviço conforme a demanda.
A Folha visitou três neobairros: Pedra Branca, Paulo Gomes Romeu, José Figueira e Genésio Massaro. Foram aprovados após 2004 os bairros Monte Carlo e Rubem Cione.
Criado há quatro anos, o Pedra Branca parece, à primeira vista, apenas um canteiro de obras por causa das casas sem reboco, só nos tijolos.
Mas o movimento nas ruas indica que ali está surgindo um novo bairro. Não há linhas de ônibus. As famílias precisam contar com o serviço de vans Leva-e-Traz, a cada meia hora.
"Mas a van atrasa e às vezes tenho que pegar a bicicleta e correr até o ponto do ônibus, no Ribeirão Verde", conta a dona de casa Lúcia Jaqueline Campos da Silva, 32.
Ela foi uma das primeiras a se instalar no bairro, há dois anos, e lembra quando não havia nem coleta de lixo. "A gente queimava o lixo no quintal mesmo, não tinha outro jeito". Ainda hoje, o caminhão do lixo só passa nas duas ruas principais do Pedra Branca. A estrutura do bairro, que é asfaltado, se resume a três orelhões, uma mercearia, dois botecos e uma loja de material de construção.
Sem escolas no bairro, os dois filhos da dona de casa Lindaura Bezerra, 32, estudam nas escolas do Ribeirão Verde.
A operadora de telemarketing Cristiane da Costa Cunha, 19, desistiu de conseguir uma linha de telefone para sua casa. "Liguei na Telefônica, mas disseram que a minha rua não existe. Como pode ser?"
Em nota, a Telefônica informou que os clientes do bairro Pedra Branca já podem ter suas linhas residenciais. A nota não explica qual era a dificuldade.

Batismo de rua
Depois do Parque dos Servidores, a 11 km do centro, estão surgindo dois bairros colados -José Figueira e Genésio Massaro. Eles também não possuem linhas diretas de ônibus. Quem precisa delas deve recorrer às linhas que passam na estrada municipal, a pelo menos 300 metros de distância.
Para quem não conhece a região, é difícil encontrar um endereço, já que algumas ruas foram rebatizadas pelos próprios moradores.
A Wagner Garcia, por exemplo, consta em guias, mas agora tem outro nome: chama-se Miguel Hurtado. "O povo se perdia aqui para fazer entregas. De tanto se perderem, resolvemos nós mesmos mudar", afirmou Hélio Barbosa, 33.
O Conjunto Paulo Gomes Romeu, ao lado do Jardim Paiva, começou a se formar em 2007, impulsionado pela reurbanização da favela do Monte Alegre. Hoje a comunidade já recebeu cerca de 60 famílias.
Os moradores dizem não se sentir isolados porque o bairro não é tão afastado do centro -cerca de 5 km-, mas também precisam utilizar serviços dos bairros vizinhos.
A linha de ônibus mais próxima, por exemplo, passa no Jardim Paiva. O que gera reclamação é a quantidade de ônibus, considerada insuficiente depois do boom de novas famílias que foram morar na região.
O promotor da Habitação, Antônio Alberto Machado, critica a aprovação pela prefeitura de novos bairros sem a devida infraestrutura.


Próximo Texto: Prefeitura alega falta de estrutura e verba
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.