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Circo de interior dribla tempo e burocracia
Além do preconceito, artistas circenses reclamam que há poucos terrenos disponíveis e ainda falta apoio de prefeituras
Não há dados atuais, mas estimativa de 2004 apontou a existência de 20 grupos na região, que são formados por famílias de até 15 pessoas
JULIANA COISSI
DA FOLHA RIBEIRÃO
Os circos de estrutura familiar que atuam no interior paulista sofrem com falta de espaços para apresentações, com
ausência de público e a burocracia de prefeituras. Os espetáculos são montados principalmente em bairros da periferia, o que acaba por preencher
uma lacuna nesses locais onde
faltam opções de lazer.
Não existem estatísticas
atuais de quantos são os circos
com origem ou que atuam no
interior. A última estimativa
feita, em 2004, apontava 33 circos familiares.
Desses, cerca de 20 apresentam-se principalmente na região de Ribeirão Preto e São José do Rio Preto porque possuem parentes nessas regiões
que se tornam referência, segundo a Asfaci (Associação de
Famílias e Artistas Circenses),
com sede em Araraquara.
A maioria dos circos é de pequeno porte, formados basicamente por uma estrutura familiar de 10 a 15 pessoas. Apresentam-se para um público máximo de 500 pessoas. Boa parte
dos circos já não têm animais
nos shows. O valor do ingresso
não passa de R$ 3.
Segundo a presidente da Asfaci, Joelma Costa, a maior dificuldade enfrentada pelos circenses de interior é que eles
não são vistos como munícipes.
"São tratados como forasteiros,
que não pertencem à cidade".
Um caso recente na região,
conta Costa, é o de uma grávida
circense que quis fazer o pré-natal na rede pública. "Uma
amiga enfermeira a aconselhou
ela: "Não fala que é de circo, fala
que é de sítio, rural, porque sem
endereço fixo será difícil".
O desafio dos circos começa
antes mesmo de montar a lona.
Izidoro Ramos de Oliveira Filho, 60, o palhaço Buzina, do
circo Astley, conta que a prefeitura exige muitos documentos
e que a emissão deles custa caro. "Já cheguei a pagar vistoria
do bombeiro, mas a demora foi
tanta que o circo foi embora antes da visita deles."
Outra dificuldade é arranjar
espaços para armar o circo.
Aluguéis para circos de grande
porte chegam a custar R$ 15
mil. Circos menores pagam de
R$ 3.000 a R$ 20 mil.
Festa no interior
O Circo Di Salles escolheu o
bairro Vale do Sol, na periferia
de Araraquara, para instalar
sua tenda, com apoio da prefeitura. "Enquanto o circo grande
vai para o centro, nós entramos
nas vilas", conta Rodrigo Camargo, 29.
Antes de o espetáculo começar, ele é apenas o Rodrigo que
vende maçãs do amor ao mesmo tempo em que anuncia o espetáculo. Logo, corre para maquiar e se transforma no palhaço Buchechinha.
A reportagem acompanhou a
sessão do circo na noite da última sexta. O metalúrgico Ariovaldo Cesar Sanches, 44, e sua
mãe, Dulce, 74, estavam na plateia. Para ele, falta mais apoio
de prefeituras para os grupos
continuarem a se apresentar.
"O circo precisa continuar, porque pelo menos na periferia,
para essa criançada, não há nenhum incentivo, nenhum espaço de lazer", disse.
Kamylla Camargo, 11, filha do
palhaço, é a artista que se exibe
no tecido. Ela diz gostar da vida
itinerante, de estar pouco tempo em cada cidade, mas não
quer seguir carreira no circo.
Como ela, muitos filhos dos artistas abandonam o circo para
tentar outros caminhos (leia
nesta página).
Aos 81 anos, Carlos Antônio
Spindola, ao contrário, ensaia a
volta aos palcos para encarnar
o palhaço Biriba, que fez história em Ribeirão. "Ainda existem muitos circos no Brasil e o
público tem saudade do espetáculo", afirmou Spindola.
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