Ribeirão Preto, Domingo, 05 de Abril de 2009

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Circo de interior dribla tempo e burocracia

Além do preconceito, artistas circenses reclamam que há poucos terrenos disponíveis e ainda falta apoio de prefeituras

Não há dados atuais, mas estimativa de 2004 apontou a existência de 20 grupos na região, que são formados por famílias de até 15 pessoas

JULIANA COISSI
DA FOLHA RIBEIRÃO

Os circos de estrutura familiar que atuam no interior paulista sofrem com falta de espaços para apresentações, com ausência de público e a burocracia de prefeituras. Os espetáculos são montados principalmente em bairros da periferia, o que acaba por preencher uma lacuna nesses locais onde faltam opções de lazer.
Não existem estatísticas atuais de quantos são os circos com origem ou que atuam no interior. A última estimativa feita, em 2004, apontava 33 circos familiares.
Desses, cerca de 20 apresentam-se principalmente na região de Ribeirão Preto e São José do Rio Preto porque possuem parentes nessas regiões que se tornam referência, segundo a Asfaci (Associação de Famílias e Artistas Circenses), com sede em Araraquara.
A maioria dos circos é de pequeno porte, formados basicamente por uma estrutura familiar de 10 a 15 pessoas. Apresentam-se para um público máximo de 500 pessoas. Boa parte dos circos já não têm animais nos shows. O valor do ingresso não passa de R$ 3.
Segundo a presidente da Asfaci, Joelma Costa, a maior dificuldade enfrentada pelos circenses de interior é que eles não são vistos como munícipes. "São tratados como forasteiros, que não pertencem à cidade".
Um caso recente na região, conta Costa, é o de uma grávida circense que quis fazer o pré-natal na rede pública. "Uma amiga enfermeira a aconselhou ela: "Não fala que é de circo, fala que é de sítio, rural, porque sem endereço fixo será difícil".
O desafio dos circos começa antes mesmo de montar a lona. Izidoro Ramos de Oliveira Filho, 60, o palhaço Buzina, do circo Astley, conta que a prefeitura exige muitos documentos e que a emissão deles custa caro. "Já cheguei a pagar vistoria do bombeiro, mas a demora foi tanta que o circo foi embora antes da visita deles."
Outra dificuldade é arranjar espaços para armar o circo. Aluguéis para circos de grande porte chegam a custar R$ 15 mil. Circos menores pagam de R$ 3.000 a R$ 20 mil.

Festa no interior
O Circo Di Salles escolheu o bairro Vale do Sol, na periferia de Araraquara, para instalar sua tenda, com apoio da prefeitura. "Enquanto o circo grande vai para o centro, nós entramos nas vilas", conta Rodrigo Camargo, 29.
Antes de o espetáculo começar, ele é apenas o Rodrigo que vende maçãs do amor ao mesmo tempo em que anuncia o espetáculo. Logo, corre para maquiar e se transforma no palhaço Buchechinha.
A reportagem acompanhou a sessão do circo na noite da última sexta. O metalúrgico Ariovaldo Cesar Sanches, 44, e sua mãe, Dulce, 74, estavam na plateia. Para ele, falta mais apoio de prefeituras para os grupos continuarem a se apresentar. "O circo precisa continuar, porque pelo menos na periferia, para essa criançada, não há nenhum incentivo, nenhum espaço de lazer", disse.
Kamylla Camargo, 11, filha do palhaço, é a artista que se exibe no tecido. Ela diz gostar da vida itinerante, de estar pouco tempo em cada cidade, mas não quer seguir carreira no circo. Como ela, muitos filhos dos artistas abandonam o circo para tentar outros caminhos (leia nesta página).
Aos 81 anos, Carlos Antônio Spindola, ao contrário, ensaia a volta aos palcos para encarnar o palhaço Biriba, que fez história em Ribeirão. "Ainda existem muitos circos no Brasil e o público tem saudade do espetáculo", afirmou Spindola.


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