Ribeirão Preto, Terça-feira, 05 de Maio de 2009

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Gigantes do suco adiam compra da laranja

A um mês do início da colheita, cerca de 74% dos produtores, segundo o Cepea, não foram chamados para fechar contrato

Citricultores que fizeram acordo com as indústrias vão receber entre US$ 2,90 e US$ 4,50 pela caixa, valor menor ao custo de produção
Edson Silva/Folha Imagem
Elio La Laina mostra seu pomar em Araraquara; ele possui 90 mil pés de laranja e não tem para quem vender sua produção



JULIANA COISSI
DA FOLHA RIBEIRÃO

Próximo do início da safra, a maioria dos produtores de laranja da região de Ribeirão Preto e do Estado ainda não conseguiu fechar contratos com as indústrias de suco para vender sua produção. Outros alegam que conseguiram firmar um acordo, mas estão sendo chamados pelas indústrias para baixar o preço negociado da caixa de laranja.
Uma das gigantes do suco, LDC (Louis Dreyfus Commodities) afirmou que está firmando contratos regularmente, mas admite que o volume, embora mantenha a média histórica, é menor do que o do ano passado. A empresa disse ainda que encontrou situações adversas, como no caso de um produtor que relutava em fechar contratos mesmo diante da queda do preço do suco nas bolsas de valores (leia nesta página).
Um alerta na semana passada do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, aponta que 74% dos produtores, de uma amostra de 50 do Estado, ainda não fecharam contratos para a safra 2009/10. A situação envolve as quatro gigantes do setor -Cutrale, LDC, Citrovita e Citrosuco.
De acordo com a análise do Cepea, a principal explicação para o baixo interesse das indústrias é a incerteza quanto à demanda internacional. "Os produtores estão preocupados, esperando uma posição da indústria para negociar", disse a analista de mercado do Cepea, Mayra Monteiro Viana.
A colheita da fruta começa normalmente entre maio e julho, mas mudanças no clima (chuvas fortes seguidas de seca), fizeram com que as primeiras floradas se perdessem e provocaram floradas tardias. A colheita da atual safra deverá começar entre junho e julho.
Ainda segundo o Cepea, os produtores que conseguiram fechar contratos vão receber entre US$ 2,90 e US$ 4,50 pela caixa de 40,8 kg. São valores muito baixos, se comparados ao custo, que chega a US$ 7, segundo o presidente da Associtrus (Associação Brasileira dos Citricultores), Flávio Viegas.
A região concentra 40% dos 10 mil produtores paulistas. A maioria se preocupa com a possibilidade de sofrer prejuízos.
A citricultora Lenita Boechat, 55, vive uma situação pior que a dos colegas. Há dois anos não consegue fechar contrato com indústrias e acaba vendendo a produção como "fruta spot". Ou seja, a laranja é ofertada todos os dias na porta da fábrica, que, quando compra, paga um preço menor do que o acordado em contrato com seus produtores fixos.
Segundo Viegas, as indústrias ano a ano têm aumentado seus pomares próprios, o que permite retardar o fechamento de contratos com os produtores. "Enquanto o preço do suco fora do país não melhora, elas podem atrasar os acordos porque têm fruta suficiente para começar a produção."

Denúncia
Há dois anos, as indústrias de suco tornaram-se alvo de investigação do Ministério Público Estadual por suspeita de prática de cartel. Segundo a denúncia, as grandes fábrica combinam preços para a compra de laranja e fazem divisão de produtores -quem vende a fruta para uma indústria não consegue vender para outra. Documentos apreendidos na Operação Fanta começaram a ser abertos neste ano.



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