Ribeirão Preto, Domingo, 05 de Junho de 2011

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Literatura para incomodar

Com a obra "À Sombra do Cipreste" prestes a ganhar nova edição, Menalton Braff diz que função da literatura é provocar reflexão, e não dizer ao leitor: "seja feliz"

ELIDA OLIVEIRA
DE RIBEIRÃO PRETO

Angústia fina e secular. Sonhos e vontades que não se realizam. Cores, luzes, sombras. Tristeza.
O clima que permeia os 18 contos de "À Sombra do Cipreste", de Menalton Braff, 72, vencedor do Jabuti em 2000, volta às livrarias na segunda quinzena de julho, carregado de emoções como a inquietude e a incerteza.
Reeditado agora pela Global Editora, "À Sombra..." estava esgotado havia cinco anos. Um impasse entre a editora anterior e Braff contribuiu para que o livro ficasse fora de circulação.
"A relação [do escritor] com a editora é a mesma de alguém com depressão que procura cinco ou seis psiquiatras e, de repente, encontra um com o qual se identifica", diz.

COMPASSO
O relançamento do livro vem em um bom momento para Braff. Ele está entre os dez finalistas da categoria principal do Prêmio São Paulo de Literatura e entre os 50 do Portugal Telecom de Literatura Brasileira -em ambos, concorre com o livro "Bolero de Ravel", de 2010.
De acordo com o autor, o romance possui a mesma estrutura narrativa presente no compasso da música do francês Maurice Ravel (1875-1937): tambores de guerra ao fundo da melodia lenta e sinuosa, marcados pelos instrumentos de sopro e cordas.
Amante de música clássica, Braff conta que só percebeu a semelhança estrutural com a música quando a história já estava no terceiro capítulo. A partir de então, ouviu Ravel todos os dias.
O romance é sobre Adriano, 35, que sempre morou com os pais. Com a morte deles, se depara com conflitos internos e práticos com os quais não sabia lidar. A irmã Laura, 33, advogada de sucesso, se recusa a assumir o papel de protetora.
O enredo caminha em direção à solidão, à loucura e à obsessão, o que dá a deixa para o escritor falar de um sentido mais amplo da literatura. "Começo a escrever pelo desconforto, porque tem algo me incomodando."
Para Braff, a função da literatura é provocar, pela reflexão, o crescimento pessoal do leitor. "A literatura não pode dizer: seja feliz, tenha sonhos. Ela tem que dizer: você está vivendo em um mundo de merda, o que vai fazer? Pense nisso", afirma o escritor, que vive em Serrana.

OBRA
Gaúcho de Taquara, Braff é autor de 17 livros. Entre eles está também "A Muralha de Adriano" (2008), outra obra dele finalista do Prêmio São Paulo. O romance ainda foi um dos selecionados do Jabuti e menção honrosa do Casa da América.
Esquerdista por ideologia, Braff teve vida política durante o regime militar (1964-85). Acabou procurado pela polícia durante a ditadura por se envolver em atividades "clandestinas".
Por isso, os primeiros dois livros foram publicados com o pseudônimo de Salvador dos Passos. "À Sombra do Cipreste" foi o primeiro a sair com seu nome de batismo.


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