Ribeirão Preto, Domingo, 05 de Novembro de 2000

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RELIGIÃO
Há nove anos, eles eram 23 mil nas quatro maiores cidades e hoje já somam 76 mil; em Ribeirão há 200 templos
Triplica número de evangélicos na região

lucio Piton/Folha Imagem
Culto na ultima quinta à noite da Igreja Cristã Bastista Renovada, no bairro do Ipiringa ,em Ribeirão Preto comandada pela pastora Shirlei



CAROLINA ALVES
DA FOLHA RIBEIRÃO

O crescimento dos evangélicos nas quatro principais cidades da região chegou a 230% nos últimos nove anos. No Censo de 91, eles somavam 23 mil pessoas em Franca, Araraquara, São Carlos e Ribeirão Preto. Hoje, de acordo com as igrejas, chega a 76 mil fiéis.
Só em Ribeirão, o número pulou de 12 mil pessoas em cem templos, há nove anos, para os atuais 37 mil em 200 igrejas, segundo o Conselho de Pastores.
A evolução acompanha o restante do país. Segundo o IBGE, o número de evangélicos sobe em média 7% ao ano. Passou de 2 milhões em 1980 para 7 milhões em 91. Estudos da USP afirmam que eles já chegam a 18 milhões.
Para Anésio Massuia, presidente do conselho de Ribeirão Preto, apesar de as igrejas estarem no Brasil desde o século passado, sua expansão se deu nas últimas duas décadas devido ao chamado Movimento de Renovação ou Pentecostalismo.
"As igrejas estão atendendo aos anseios da população. Se você quer ir a cultos calmos, ou agitados, se quer frequentar a igreja em qualquer horário sempre encontra seu espaço".
Além disso, a politização da igreja é outro fator apontado pelo presidente do conselho. O PT, por exemplo, que era apontado até alguns anos pela maioria das igrejas evangélicas como "coisa do demônio", hoje encontra apoio nos cultos. O prefeito eleito em Ribeirão, Antônio Palocci Filho, foi recebido na Igreja Universal como "homem de Deus".
"Hoje, ainda não somos 10% da população, mas já somos 15% da Câmara em Ribeirão", diz Massuia. Os evangélicos cresceram 260% na política das cidades da região, aumentando significativamente sua bancada para 2001.
O mercado fonográfico regional das bandas gospel também vem crescendo, e diversas bandas da região já gravaram CDs. Antes, música gospel era extremamente limitada ao eixo Rio-São Paulo. Hoje, dezenas de gravadoras procuram cantores e grupos no interior do Estado.
A religião também forma um grupo diferente do que formava há décadas atrás. Antes apagados e limitados ao redor da igreja, hoje os fiéis estão aparecendo e mudando o conceito das pessoas a respeito de ser crente. "Jesus tem que ser um fator que apareça na vida da pessoa naturalmente. Se é próspera, feliz, as pessoas vão logo querer saber o porquê disso", diz o presidente do conselho.
Os evangélicos não aceitam os não praticantes, conhecidos como desviados. Para ser evangélico, requisito básico é estar na igreja pelo menos uma vez por semana, nos cultos de domingo. Para ser um obreiro, cooperador, diácono ou presbítero (auxiliares do pastor) é necessário algum tempo de igreja e horas disponíveis para o atendimento pessoal.
É costume hoje as igrejas -principalmente as da avenida Francisco Junqueira- ficarem abertas o tempo todo, sempre com alguém de plantão para atender um necessitado.
Essa relação entre pastor e fiel é que trouxe o estudante Ricardo Alves, 21, para dentro dos cultos. "Eu detestava crente. Mas um dia me interessei por uma menina que era da igreja. Ela sempre me falava do pastor dela. Quando meus pais iam se separar, entrei em crise e pedi a ela para levar o pastor lá em casa. Ele foi e todo mundo se converteu."
A facilidade em se abrir uma igreja evangélica é outro fator que conta para o crescimento. Desorganizadas, vão surgindo novas denominações todos os dias. Basta um líder enxergar as coisas de modo diferente e levar uma parcela da antiga igreja consigo.
"É preciso separar o joio do trigo. Para saber se uma igreja pode ser chamada de evangélica, basta verificar se ela segue o parâmetro maior, que é a Bíblia", afirma Massuia.


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