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CINEMA
Responsável por clássicos do terror, Rubens Lucchetti sobrevive produzindo livros populares em Jardinópolis
Roteirista de "Zé do Caixão" lamenta exílio
ANGELO SASTRE
EDITOR-ASSISTENTE DA FOLHA RIBEIRÃO
O roteirista Rubens Lucchetti,
70, que ganhou destaque após trabalhar com o cineasta José Mojica
Marins nos filmes do personagem
"Zé do Caixão", entre as décadas
de 60 e 80, lamenta o "exílio" imposto pelos produtores de filmes
nacionais.
Morando no interior de São
Paulo desde 82 (hoje está em Jardinópolis), ele acabou se afastando do circuito cinematográfico no
início desta década.
O último roteiro de Lucchetti
para cinema -"O Gato de Botas
Extraterrestre"- foi desenvolvido em 93. Só que o diretor Wilson
Rodrigues não teve condições de
concluir o trabalho em razão da
falta de recursos.
Já os trabalhos com os diretores
que o consagraram - Mojica e
Ivan Cardoso- não são realizados há pelo menos dez anos. "Estou sem escrever para o Mojica
desde 81. Para o Ivan, o último
trabalho foi há dez anos."
Mesmo tendo escrito 20 roteiros, sendo metade somente na década de 70, e conquistado dois
prêmios - Festival de Gramado e
Rio Cine Festival -, Lucchetti dedica-se atualmente à produção de
uma linha popular de "pocket
books" (livros de bolso), que são
assinados com pseudônimos .
"O meu grande erro foi ter vindo para o interior. Todo mundo
me conhece, mas ninguém me liga. Devem imaginar que estou
muito bem", diz Lucchetti.
Para ele, o mercado está voltado
para os profissionais do eixo Rio-São Paulo.
"Mesmo com toda a praticidade
que Ribeirão oferece me sinto isolado. O mundo gira em torno do
Rio e de São Paulo. Fora de lá, o
Brasil não existe", afirma.
A parceria com Mojica e o trabalho no cinema tiveram início
em 67 -no filme "Trilogia do
Terror" (episódio: "Pesadelo Macabro")-, mas a produção de
textos de horror e de suspense
acompanha o roteirista desde o
início da década de 40.
Naquela época, Lucchetti escrevia textos como colaborador para
revistas policiais -"X-9", "Detective", "Policial em Revista",
"Contos Magazine", "Meia-Noite", "Suspense" e "Contos de Mistério"- e argumentos para radionovelas.
"Naquele tempo, eu conheci o
Otávio Gabus Mendes em São
Paulo, que comandava um programa de radionovelas. Ele gostava dos meus textos e comecei a
enviar argumentos para ele utilizar no rádio", conta o roteirista.
A experiência levou Lucchetti a
escrever scripts (roteiros) para
programas na rádio PRA-7 de Ribeirão Preto e nas televisões Tupi
e Bandeirantes.
A passagem por essas emissoras
colaboraram para o aperfeiçoamento do roteirista, que era obrigado a desenvolver "técnicas"
criativas para superar a falta de estrutura e de tecnologia.
"A minha formação é baseada
na leitura de histórias em quadrinhos, folhetins e radionovelas. Essas linguagens exercitam muito a
imaginação e a criatividade. Hoje,
com toda essa tecnologia, as redes
de televisão não produzem nada
novo. Estamos em um processo
de involução", relata.
Durante as décadas de 60 e 70,
ele foi o responsável pelos scripts
de programas como "Quem foi?"
e "Além, Muito Além do Além".
Mestre
Mesmo longe do circuito cinematográfico, Lucchetti continua
sendo considerado o grande mestre do suspense e do terror brasileiro.
Para o cineasta Ivan Cardoso,
48, que produziu três filmes com
o roteirista, ele é um dos únicos
do gênero no país.
"Infelizmente, o Lucchetti não é
valorizado o suficiente. Nenhum
outro profissional possui uma
obra como a dele, que conta com
mais de 20 roteiros para o cinema,
milhares de livros (escritos sob
pseudônimos) e histórias em quadrinhos. Em qualquer lugar do
mundo ele seria um mito. Só no
Brasil acontece esse tipo de coisa",
lamenta Cardoso.
Por outro lado, o cineasta diz
acreditar que a "marginalidade" é
o grande charme do roteirista.
"Eu fui descoberto após redescobrir o Lucchetti. Ele é genial,
mas se fosse um roteirista da Globo não teria graça", diz.
Para Cardoso, o grande mérito
do roteirista é ter a capacidade de
reunir elementos dos quadrinhos
com a linguagem do cinema.
Junto com Lucchetti, ele produziu os filmes "O Segredo da Múmia", "As Sete Vampiras" e "O
Escorpião Escarlate".
"Quando assisti "O Estranho
Mundo de Zé do Caixão" fiquei
perplexo com a qualidade do roteiro. Parecia um filme norte-americano. É uma pena que o cinema atual só tenha espaço para
desfiles históricos", diz Cardoso.
Para o cineasta José Mojica Marins, a parceria com o roteirista
representou um período positivo
em sua carreira.
De acordo com o ele, o trabalho
em conjunto resultou na produção de roteiros para 13 filmes, no
programa "Além, Muito Além do
Além" - exibido pela rede Bandeirantes-, na criação de livros e
da revista "O Estranho Mundo de
Zé Caixão".
"O Lucchetti é uma pessoa insubstituível. No gênero terror, é o
roteirista perfeito. Ele colaborou
demais comigo e representa muito para o cinema brasileiro", diz.
Depois de 19 anos, a parceria
entre os dois deve ser retomada
no próximo ano em um projeto a
ser desenvolvido pelo cineasta
.
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