Ribeirão Preto, Quinta, 5 de novembro de 1998

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ESTRADAS
Flagelados da seca alugaram caminhão para receber cestas básicas em Pernambuco
Acidente mata 3 e fere 37 lavradores

ARI CIPOLA
da Agência Folha, em Maceió

Um acidente com um caminhão que transportava ilegalmente 60 flagelados da seca deixou ontem três mortos e 37 feridos em uma estrada vicinal de Bonito (PE).
Os flagelados saíram às 6h do distrito de Guarantama, para ir ao centro urbano do município de Bonito (128 km a sudoeste de Recife).
Para percorrer a distância de 22 quilômetros, os lavradores alugaram um caminhão F-4000.
Eles iriam a Bonito receber cestas básicas doadas pelo programa de combate à seca do governo federal.
Cerca de 30 minutos depois, o eixo dianteiro do caminhão que transportava os flagelados se soltou, provocando o acidente.
"Ainda capotamos na estrada até cair no buraco com mais de 30 metros de profundidade", afirmou o lavrador João Batista da Silva, que sofreu apenas arranhões.
Todos os passageiros estavam na carroceria do caminhão, que não tinha nenhum banco nem proteção. Transportar pessoas na traseira de um veículo sem acomodações e proteção adequadas é uma transgressão das normas do Código de Trânsito Brasileiro.
"Vi meu filho caindo com o caminhão no buraco e o corpo dele estendido no chão. Mas só soube que ele morreu no hospital. A desgraça só não foi maior porque muitos não foram para o buraco junto com o caminhão", afirmou Silva, cujo filho João, 23, morreu no acidente.
O subcomandante do Destacamento da Polícia Militar em Bonito, sargento Edval Félix Vieira da Silva, disse que o motorista, que teria cobrado R$ 1,00 pelo transporte de cada pessoa, fugiu do local e está sendo procurado.
"Não sabemos o nome certo do motorista, mas ele vai responder processo por ter colocado a vida das pessoas em risco e pode pegar até quatro anos de prisão", disse.
Os outros dois mortos no acidente foram Maria Santiago da Silva e Luciano Ferreira de Lima. A filha de Maria Santiago, Maria do Carmo, 22, também estava no caminhão, apesar de estar grávida de cinco meses.
"Graças a Deus estou viva, mas minha mãe morreu no buraco. Tanta desgraça por uma cesta de comida. É o fim do mundo", afirmou Maria do Carmo, após receber alta médica do hospital de Bonito. Ela foi uma das 12 pessoas com ferimentos considerados leves que foram atendidas no hospital de Bonito.
As 25 pessoas consideradas gravemente feridas foram transferidas para o hospital Regional do Agreste, em Caruaru (PE), e para outros dois hospitais em Recife (PE).



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