Ribeirão Preto, Sexta-feira, 05 de Dezembro de 2008

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"Deus queria que eu tirasse quantos pudesse", diz homem que ajudou 30

DA FOLHA RIBEIRÃO

Ainda cansado pela noite não dormida, o carregador de caminhões de laranja Elias Vargas da Silva, 43, já em casa, em Severínia, se dividia ontem entre a dor da perda de dois amigos e a felicidade por ter sido um dos dois únicos integrantes da turma de trabalhadores rurais que não estava no ônibus.
Único da turma habilitado para dirigir, ele fazia o favor de levar o carro do motorista do ônibus, que precisou ir ao dentista durante a tarde. Ele seguia logo atrás dos colegas, ouviu o barulho provocado pelo acidente e foi o primeiro a chegar.
Suas mãos serviram para retirar pelo menos 30 vítimas da água, entre elas o amigo Luiz Carlos de Sousa, 38, que morreu pouco depois. Ainda assim, o homem que teve papel fundamental no salvamento, segundo o próprio capitão dos bombeiros, Humberto Shirotori, rechaça a condição de herói.
"Senti que se Deus queria que eu não estivesse lá [no ônibus] na hora, ele queria que eu salvasse quantas pessoas eu pudesse. Não vi o motorista, não vi onde parei o carro, não vi nada. Só pulei direto na água e tirei quantos eu pude", contou.
Nascido e criado em Severínia e parte da turma de trabalhadores há cinco anos, ele considerou o acidente o pior que já ouviu falar. "A gente era como uma família, tinha muito tempo de trabalho junto."
O 46º integrante da turma, Flávio dos Santos Silva, 20, faltou ao trabalho na quarta-feira. Dores no punho esquerdo, que sentia desde segunda-feira, foram o motivo da ausência, que o fez perder dinheiro, mas o livrou do acidente. "Senti dores na segunda e na terça. Disse ao meu irmão [que estava no ônibus e sobreviveu] que, se acordasse na quarta com dor, não iria. E foi o que aconteceu."


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