|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Deus queria que eu tirasse quantos pudesse", diz homem que ajudou 30
DA FOLHA RIBEIRÃO
Ainda cansado pela noite não
dormida, o carregador de caminhões de laranja Elias Vargas
da Silva, 43, já em casa, em Severínia, se dividia ontem entre
a dor da perda de dois amigos e
a felicidade por ter sido um dos
dois únicos integrantes da turma de trabalhadores rurais que
não estava no ônibus.
Único da turma habilitado
para dirigir, ele fazia o favor de
levar o carro do motorista do
ônibus, que precisou ir ao dentista durante a tarde. Ele seguia
logo atrás dos colegas, ouviu o
barulho provocado pelo acidente e foi o primeiro a chegar.
Suas mãos serviram para retirar pelo menos 30 vítimas da
água, entre elas o amigo Luiz
Carlos de Sousa, 38, que morreu pouco depois. Ainda assim,
o homem que teve papel fundamental no salvamento, segundo o próprio capitão dos bombeiros, Humberto Shirotori, rechaça a condição de herói.
"Senti que se Deus queria
que eu não estivesse lá [no ônibus] na hora, ele queria que eu
salvasse quantas pessoas eu pudesse. Não vi o motorista, não
vi onde parei o carro, não vi nada. Só pulei direto na água e tirei quantos eu pude", contou.
Nascido e criado em Severínia e parte da turma de trabalhadores há cinco anos, ele considerou o acidente o pior que já
ouviu falar. "A gente era como
uma família, tinha muito tempo de trabalho junto."
O 46º integrante da turma,
Flávio dos Santos Silva, 20, faltou ao trabalho na quarta-feira.
Dores no punho esquerdo, que
sentia desde segunda-feira, foram o motivo da ausência, que
o fez perder dinheiro, mas o livrou do acidente. "Senti dores
na segunda e na terça. Disse ao
meu irmão [que estava no ônibus e sobreviveu] que, se acordasse na quarta com dor, não
iria. E foi o que aconteceu."
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Há 48 anos, 59 estudantes morreram em acidente de ônibus no mesmo local Índice
|