Ribeirão Preto, Domingo, 05 de Dezembro de 2010

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Diversificação em Franca rompe a tradição do calçado

Oportunidade de emprego em novos setores interrompe transmissão da profissão de pai para filho

Nos últimos cinco anos, a participação da indústria calçadista na geração de empregos caiu de 36% para 28%

Vinícius Oliveira/Folhapress
O sapateiro aposentado Osny Storti com o neto Breno, que trabalha no Magazine Luiza

RODOLFO TIENGO
ENVIADO ESPECIAL A FRANCA

Breno Cintra Storti, 24, é auxiliar administrativo de uma rede varejista em Franca. Com curso superior e pós-graduação a caminho, o francano está em busca de sucesso profissional.
A indústria calçadista, marca registrada de Franca, no entanto, está fora de seus planos. "O calçado é muito restrito. Em outras áreas, tenho a chance de dar voos maiores e ganhar mais."
Criado em uma família em que o ofício artesanal do sapato passa de pai para filho, Storti é a síntese das mudanças do mercado de trabalho.
A "Capital do Calçado Masculino", a cada ano, se estabelece como um polo diversificado de negócios na construção civil, no comércio e na prestação de serviços. Esses avanços "roubam" participação da indústria calçadista na economia local. Nos últimos cinco anos, o número de empregos nas fábricas de sapato caiu de 36% do total para 28%, segundo o Ministério do Trabalho.
As empresas contabilizaram, em 2010, cerca de 25,9 mil trabalhadores formais, praticamente o mesmo número de 2005. Entretanto, hoje a cidade tem, ao todo, 90,8 mil profissionais com carteira assinada -há cinco anos, eram 70 mil.
"Na minha época, praticamente não havia outra coisa em Franca além de calçado", afirmou o aposentado Osny Storti, 83, avô do personagem que abre a reportagem. Ele foi sapateiro por mais de 30 anos e aprendeu a arte do pesponto na oficina dos pais.
Representantes calçadistas confirmam que o ponto mais frágil dessa transição da mão de obra está nos cargos de base, com pior remuneração e baixa exigência de qualificação. Por outro lado, funções ligadas à gestão, planejamento e criação, que exigem aperfeiçoamento ou vínculo familiar, estão em alta.
Os postos que permitem começar "por baixo", como auxiliar de produção e "coringa" (um faz-tudo), não atraem mais adeptos como antigamente, segundo o gestor de Recursos Humanos do Sindifranca, Lázaro Reinaldi.
O piso salarial de R$ 610 -que é inferior ao do comércio, R$ 700, por exemplo- e as condições de trabalho desmotivam os iniciantes.
A baixa remuneração também é citada pelo presidente do Sindicato dos Sapateiros, Fábio Cândido. "A nova geração não se sente motivada a exercer a função dos pais."
Antonio Carlos Coutinho, autor do livro "Couro Cru: Origens do Polo Calçadista de Franca" (2008), diz que o ganho do operário calçadista é um problema histórico. Hoje, no entanto, com o horizonte profissional ampliado, os profissionais veem que não compensa, diante da exigência de qualificação.
A contragosto dos pais, Leandra Malta, 32, virou sapateira. "Entrei para a função porque aqui é a capital do calçado e era fácil conseguir emprego", disse Malta, que trabalha como "coringa" há 12 anos, mas não recomenda a profissão para os filhos de 11 e 14 anos. "Quero que eles estudem e busquem algo melhor", afirmou.


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