Ribeirão Preto, Domingo, 06 de Maio de 2001

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SOB SUSPEITA 2
Propostas de pagamento por corpos chegam a R$ 10 mil, diz responsável pelo serviço de doação em Ribeirão
Funcionários de SVO são "assediados"

DA FOLHA RIBEIRÃO

Funcionários do SVO (Serviço de Verificação de Óbitos) de Ribeirão Preto são assediados com frequência por faculdades que buscam a doação ilegal de corpos de indigentes para estudo.
A informação é da responsável pelo órgão, Carmen Cinira Santos Martin, que não quis apontar os nomes dos responsáveis. "O que não pode ser provado, não deve ser falado", disse.
Ainda segundo ela, os funcionários comunicaram o fato e disseram que as propostas chegavam a R$ 10 mil. Em Franca, a polícia investiga um suposto comércio por cerca de R$ 3.000.
Carmen disse também que nunca foi assediada, possivelmente, pelo fato ter a fama de "brava". "Quando eu fico brava, eu me transformo", disse.
Para evitar qualquer tipo de irregularidade, todo o processo de chegada e sepultamento dos corpos não-reclamados (família desconhecida) é acompanhado de perto por ela.
"Eu vou lá no cemitério e vejo o número da cova, o lote e todas as informações do local onde [os corpos] foram enterrados. E ainda falo para os coveiros que eu posso voltar a qualquer momento e verificar se eles estão lá ainda. Não é obrigação do SVO, mas eu faço", afirmou Carmen.
Além do acompanhamento, a responsável pelo SVO, que é professora de medicina legal e de ética profissional da USP, possui um arquivo com todas as pessoas enterradas pelo serviço.
Nesse cadastro estão todas as informações necessárias para o reconhecimento das famílias, algo inédito na cidade até então.
A Unifran (Universidade de Franca), uma das faculdades investigadas pela polícia de Franca, afirmou que as peças (partes de corpos) conseguidas para o estudo de seus alunos vêm de convênios com outras faculdades, como a USP.
De acordo com Carmen, a USP não possui convênio com outras universidades, e a doação de partes do cadáver é proibida por lei.
"A USP não tem esse convênio."
Quanto à Unaerp (Universidade de Ribeirão Preto), outra instituição investigada pela polícia, Carmen afirma que é uma das faculdades da região que têm mostrado maior interesse em obedecer as normas vigentes e em ajudar o órgão. "Eles procuram trabalhar no maior rigor da lei."
A assessoria da Unifran informou que a instituição não iria comentar o assunto. Procurada pela reportagem, a Unaerp não deu resposta até o fechamento da edição.


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