Ribeirão Preto, Domingo, 06 de Setembro de 2009

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Região exporta "carne religiosa" a islâmicos

Muçulmanos só comem carne se o boi tiver sido degolado com o corpo virado para Meca e pelas mãos de um praticante

Por mês, mais de 100 mil cabeças de gado são abatidas de forma "halal" (lícita), afirma frigorífico com unidade em Barretos

Silva Junior/Folha Imagem
Supervisor islâmico Omar Ibrahim Chahine degola boi em Barretos, com a cabeça do animal virada para Meca

VERIDIANA RIBEIRO
ENVIADA ESPECIAL A BARRETOS

"Em nome de Deus, o clemente, o misericordioso." A frase, dita em árabe por um degolador muçulmano, dá início ao processo de abate na sala do frigorífico Minerva, em Barretos. Por mês, mais de 100 mil cabeças de gado são abatidas de forma "halal" nas unidades do frigorífico para compradores islâmicos, segundo a empresa.
"Halal", em português, quer dizer "lícito", "permitido por Deus". Mas, entre os importadores islâmicos, que exigem certificado "halal" em todos os produtos importados, a palavra indica que procedimentos especiais foram seguidos pelas indústrias estrangeiras.
Para a carne, um desses procedimentos especiais, que a Folha acompanhou em Barretos, é a forma de abate. Islâmicos só comem frango ou carne bovina se o animal tiver sido degolado com o corpo voltado à cidade sagrada de Meca, ainda vivo -no abate tradicional, o boi tem a cabeça perfurada - e pelas mãos de um muçulmano praticante, geralmente árabe.
A faca com a qual é feita a degola precisa estar super afiada para garantir a morte instantânea do animal, sem sofrimento. A explicação é religiosa, mas também assegura mais qualidade à carne, segundo Omar Ibrahim Chahine, supervisor islâmico da empresa Cibal Halal, que certifica a carne do Minerva exportada para países islâmicos, árabes e asiáticos.
"Se o animal está vivo, conforme ele vai se mexendo o sangue vai saindo do corpo. Por isso, a carne "halal" é muito mais limpa", afirmou Chahine.
Nascido no Brasil, filho de libaneses, Chahine viu o abate "halal" iniciar no país nos anos 80. O pai foi um dos primeiros abatedores desse tipo no país e trabalhava para um frigorífico em Presidente Prudente.
Assim como o pai, antes de degolar cada animal, Chahine pede autorização a Deus, em árabe. "Se tiver mil cabeças de boi para abater, nós vamos rezar mil vezes." Além de demonstrar obediência e agradecimento pela comida, o pedido indica que o degolador não está matando o animal por crueldade ou sadismo.
Mas a carne "halal", além de "religiosa", é mais "natural", conforme o vice-presidente da Cibal Halal, Mohamed Hussein El Zoghbi. Nem o frango nem o boi podem ter comido ração com aditivos ou com proteína animal nem podem ter recebido doses de hormônio para engorda. Além disso, os processos de embalagem, armazenagem, certificação e embarque da carne "halal" é feito de forma segregada da produção comum.
Peixes são considerados "halal" por natureza, porque saem da água vivos. Já a carne de porco não é consumida de forma alguma por quem é muçulmano. Suínos são considerados impuros pelo modo como se alimentam, por estarem ligados a ambientes de sujeira.

Ramadã
Desde o dia 22, os muçulmanos estão em jejum absoluto durante o dia, por causa do Ramadã, que dura um mês. A celebração religiosa simboliza o período em que Maomé recebeu a revelação do Alcorão, o livro sagrado dos islâmicos. Além do jejum, que inclui abstinência de todas as bebidas -inclusive água-, muçulmano não faz sexo nem beija sua mulher durante o dia no Ramadã.
Curiosamente, segundo informações do frigorífico, a compra de carne aumenta no período porque a alimentação feita à noite pelos islâmicos, por ser um período de festa, é mais farta.


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