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Retirada de açúcar da UE anima usineiros da região
União Europeia anuncia retirada de 5,8 mi de toneladas do mercado internacional
"Se a Europa deixa de produzir, o Brasil, como maior produtor do mundo, aparece para cobrir essa demanda", diz Maurilio
ROBERTO MADUREIRA
DA FOLHA RIBEIRÃO
A notícia que veio de Genebra (Suíça) da retirada de 5,8
milhões de toneladas de açúcar
produzido na Europa do mercado internacional encheu de
otimismo usineiros da região
de Ribeirão Preto, maior produtora de cana do país.
A quantidade de açúcar que
deixa de ser produzida, equivalente a 20% do total produzido
na safra nacional 2007/08, abre
no mercado internacional uma
lacuna que o Brasil aparece como favorito para abocanhar a
maior fatia.
A reforma da produção de
açúcar na Europa foi iniciada
em 2006, após queixa na OMC
(Organização Mundial do Comércio) de Brasil, Austrália e
Tailândia, três dos maiores
produtores mundiais.
Em processo lento, parte da
produção já havia sido desativada nos últimos anos, desde a
denúncia, mas pelo menos metade do total deve parar de ser
posto no mercado neste ano.
Com a mudança, a União Europeia passa de exportadora a importadora do produto.
"Nos primeiros anos, o processo foi pouco eficaz, pois alguns países europeus ainda relutavam. No ano passado, o
Brasil pouco sentiu porque a
Índia supriu o mercado com
uma superprodução. Para os
próximos anos, a Austrália não
tem perspectiva de aumento
significativo na produção, a Índia teve quebra de safra e o Brasil aparece como maior beneficiado", afirmou Géraldine Kutas, assessora internacional da
Unica (União da Indústria de
Cana-de-Açúcar).
Os empresários da região,
que já se animaram com o
anúncio da quebra de safra na
Índia e da abertura de alguns
mercados, como Oriente Médio e China, tiveram a certeza
de que na próxima safra o açúcar terá grande valorização.
"Os estoques internacionais
já estavam diminuindo, países
que eram exportadores viraram importadores e esse mercado que a Europa abre, de vez,
só vem para melhorar o panorama. Além de tudo isso, os preços estão aumentando", disse
Cícero Junqueira Franco, presidente da usina Vale do Rosário, uma das cinco que o Grupo
Santelisa Vale opera na região.
"A notícia é clara e autoexplicativa. Se a Europa deixa de
produzir esse montante, o Brasil, como maior produtor de
açúcar do mundo, aparece naturalmente para cobrir essa demanda", disse o presidente da
usina Moema e conselheiro da
Unica, Maurilio Biagi Filho,
que estima já haver um déficit
mundial de 5 milhões de toneladas de açúcar para este ano.
Para Biagi Filho, no entanto,
a somatória de boas notícias
para o setor sucroalcoleiro, veiculadas nas últimas semanas, é
que interfere de fato na safra.
"Isso [reforma europeia do
açúcar], aliada à quebra da safra
de açúcar na Índia, que não só
não vai exportar como vai precisar importar, além do anúncio do governo sobre o financiamento da estocagem do etanol, formam um panorama maravilhoso", afirmou.
Fernando Balbo, diretor
agrícola da usina São Francisco, em Sertãozinho, estima que,
se ficar com toda a fatia deixada
pela Europa, o Brasil terá que
plantar 541 mil hectares a mais
de cana-de-açúcar.
"Em conta rápida, chegamos
à conclusão de que serão necessários cerca de 46 milhões de t
para produzir as seis milhões
de toneladas de açúcar", disse.
"É mais uma boa notícia para
o setor. O que vai acontecer é
uma perspectiva de preços melhores para os anos seguintes",
disse o professor de finanças da
FEA-RP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto), ligada à USP, Marcos Fava Neves.
A valorização do açúcar, dizem especialistas, não deve
criar problemas para atender
às demandas do álcool. "O aumento das vendas dos carros
flex não vai deixar isso acontecer", disse Neves.
Na safra 2007/2008, o Brasil
produziu 32 milhões de toneladas de açúcar, cerca de 65% (21
milhões) para exportação. A
produção de açúcar consumiu
246 milhões de toneladas de
cana, 43% dos 571 milhões de
toneladas processadas.
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