Ribeirão Preto, Sábado, 07 de Março de 2009

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Retirada de açúcar da UE anima usineiros da região

União Europeia anuncia retirada de 5,8 mi de toneladas do mercado internacional

"Se a Europa deixa de produzir, o Brasil, como maior produtor do mundo, aparece para cobrir essa demanda", diz Maurilio

ROBERTO MADUREIRA
DA FOLHA RIBEIRÃO

A notícia que veio de Genebra (Suíça) da retirada de 5,8 milhões de toneladas de açúcar produzido na Europa do mercado internacional encheu de otimismo usineiros da região de Ribeirão Preto, maior produtora de cana do país.
A quantidade de açúcar que deixa de ser produzida, equivalente a 20% do total produzido na safra nacional 2007/08, abre no mercado internacional uma lacuna que o Brasil aparece como favorito para abocanhar a maior fatia.
A reforma da produção de açúcar na Europa foi iniciada em 2006, após queixa na OMC (Organização Mundial do Comércio) de Brasil, Austrália e Tailândia, três dos maiores produtores mundiais.
Em processo lento, parte da produção já havia sido desativada nos últimos anos, desde a denúncia, mas pelo menos metade do total deve parar de ser posto no mercado neste ano. Com a mudança, a União Europeia passa de exportadora a importadora do produto.
"Nos primeiros anos, o processo foi pouco eficaz, pois alguns países europeus ainda relutavam. No ano passado, o Brasil pouco sentiu porque a Índia supriu o mercado com uma superprodução. Para os próximos anos, a Austrália não tem perspectiva de aumento significativo na produção, a Índia teve quebra de safra e o Brasil aparece como maior beneficiado", afirmou Géraldine Kutas, assessora internacional da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar).
Os empresários da região, que já se animaram com o anúncio da quebra de safra na Índia e da abertura de alguns mercados, como Oriente Médio e China, tiveram a certeza de que na próxima safra o açúcar terá grande valorização.
"Os estoques internacionais já estavam diminuindo, países que eram exportadores viraram importadores e esse mercado que a Europa abre, de vez, só vem para melhorar o panorama. Além de tudo isso, os preços estão aumentando", disse Cícero Junqueira Franco, presidente da usina Vale do Rosário, uma das cinco que o Grupo Santelisa Vale opera na região.
"A notícia é clara e autoexplicativa. Se a Europa deixa de produzir esse montante, o Brasil, como maior produtor de açúcar do mundo, aparece naturalmente para cobrir essa demanda", disse o presidente da usina Moema e conselheiro da Unica, Maurilio Biagi Filho, que estima já haver um déficit mundial de 5 milhões de toneladas de açúcar para este ano.
Para Biagi Filho, no entanto, a somatória de boas notícias para o setor sucroalcoleiro, veiculadas nas últimas semanas, é que interfere de fato na safra. "Isso [reforma europeia do açúcar], aliada à quebra da safra de açúcar na Índia, que não só não vai exportar como vai precisar importar, além do anúncio do governo sobre o financiamento da estocagem do etanol, formam um panorama maravilhoso", afirmou.
Fernando Balbo, diretor agrícola da usina São Francisco, em Sertãozinho, estima que, se ficar com toda a fatia deixada pela Europa, o Brasil terá que plantar 541 mil hectares a mais de cana-de-açúcar.
"Em conta rápida, chegamos à conclusão de que serão necessários cerca de 46 milhões de t para produzir as seis milhões de toneladas de açúcar", disse.
"É mais uma boa notícia para o setor. O que vai acontecer é uma perspectiva de preços melhores para os anos seguintes", disse o professor de finanças da FEA-RP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto), ligada à USP, Marcos Fava Neves.
A valorização do açúcar, dizem especialistas, não deve criar problemas para atender às demandas do álcool. "O aumento das vendas dos carros flex não vai deixar isso acontecer", disse Neves.
Na safra 2007/2008, o Brasil produziu 32 milhões de toneladas de açúcar, cerca de 65% (21 milhões) para exportação. A produção de açúcar consumiu 246 milhões de toneladas de cana, 43% dos 571 milhões de toneladas processadas.


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