Ribeirão Preto, Domingo, 07 de Março de 2010 |
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13 anos depois, aposentado mata o 2º assassino do filho
Ex-comerciante de São Carlos tinha matado um dos homicidas na época do crime
Em sua obra "Ensaios"
(1625), no capítulo sobre a vingança, o filósofo britânico
Francis Bacon classifica o ato
de revanchismo como "uma espécie de justiça selvagem" que
"põe a lei fora do seu ofício". Para ele, a atitude de se vingar só
iguala o homem ao seu inimigo.
Agnaldo de Souza Lima, 62,
não pensou nessas vãs filosofias nas duas vezes em que cruzou com os homens que mataram com sete facadas seu filho
mais velho, há 13 anos.
Na primeira vez, no dia da
morte do filho, matou Rodrigo
de Paula, 18, com três tiros, e feriu Milton Batista do Nascimento, então com 24 anos.
Nascimento foi preso e condenado. Lima respondeu em liberdade por assassinato, alegou legítima defesa e forte estado emocional. Foi absolvido.
Na segunda vez, em 23 de dezembro do ano passado, Lima
matou Nascimento, que cumpriria a pena no mês passado.
Nascimento e o filho L.N., 11,
brincavam em um playground
a poucos metros da casa paupérrima da família no bairro
Cidade Aracy, periferia de São
Carlos, quando Lima apareceu
e o matou com dois tiros. O menino viu tudo. As versões para o
esse crime são conflitantes.
Tudo começou em 4 de agosto de 1996. A casa de Lima estava cheia de convidados para o
aniversário de cinco anos de
seu neto Jhonatan quando ele
recebeu a notícia de que seu filho José Roberto, pai do garoto,
envolvera-se em uma briga no
bar da família. Ao chegar lá, encontrou o rapaz com uma faca
cravada no peito e saiu na perseguição dos criminosos, que,
segundo seu relato, estavam
sujos de sangue e drogados.
O ex-comerciante conta que,
ao se aproximar, foi reconhecido e ameaçado. Atirou, então,
cinco vezes. Rodrigo caiu morto com três tiros. Nascimento
foi atingido no abdômen e de
raspão no braço. Acabou preso
em flagrante e condenado.
Em entrevista à Folha na Penitenciária 2 de Itirapina, onde
aguarda julgamento, Lima, que
ainda hoje chora ao falar do filho, nega que tenha matado por
vingança. Diz que foi legítima
defesa porque Nascimento
queria se vingar por quase ter
sido morto e pelos anos que
passou na cadeia.
O filho de Lima, Lino José,
39, confirma que muitos vizinhos vinham alertá-los das
ameaças de Nascimento. No
entanto, conta que ninguém na
casa sabia que o pai tinha comprado outra arma.
Diz ainda que o pai estava
tenso nos dias que antecediam
o último crime. "Ele sabia que o
Nascimento ia sair. Acompanhava pela TV e, toda vez que
anunciavam os indultos, a gente viajava para Minas. Dessa
vez não fomos porque o carro
tinha problemas."
Lima disse que o encontro
com Nascimento foi um acaso.
"Ele acenou com a mão e eu parei o carro. Desci e o cumprimentei. Não o reconheci. Ele
então me disse que nós tínhamos contas a acertar, e começou a me bater. Eu peguei a arma e atirei. Ele ia me matar."
Em depoimento ao juiz Antonio Benedito Morello, da 1ª
Vara Criminal de São Carlos, o
garoto L.N., filho de Nascimento, nega que tenha havido luta
corporal entre seu pai e o acusado. O menino e sua mãe, Silvia Ferreira Araújo, 34, também negam que o morto falasse
em vingança. "Ele dizia que iria
arrumar um trabalho e cuidar
dos filhos, que nasceram quando ele estava preso", diz Silvia.
O juiz Morello, o mesmo que
julgou e absolveu Lima há 13
anos, dessa vez negou o pedido
de liberdade provisória, por
uma questão de ordem pública.
O contrário poderia, diz ele,
"sugerir impunidade e levar familiares da vítima ao mesmo
comportamento".
Lima, que deve ir novamente
a júri popular, se diz arrependido. "Nunca imaginei que mataria um pessoa. Não sei como isso foi acontecer." No filme "Kll
Bill", Tarantino explica: "A vingança é como uma floresta, onde é fácil perder o rumo e esquecer por onde entramos." Colaborou LEANDRO MARTINS da Folha Ribeirão Texto Anterior: Custo de vida cresce 0,63%, a menor alta desde agosto na cidade Próximo Texto: Bolo de aniversário do menino foi trocado pelo caixão do pai Índice |
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