Ribeirão Preto, Domingo, 7 de março de 1999

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SAÚDE
São Carlos tem taxa de amamentação menor do que recomenda a OMS; bebê fica mais vulnerável sem leite materno
Desmame precoce cria geração "frágil"

Lucio Piton/Folha Imagem
A dona-de-casa Silvia Helena Caldeira carrega o filho mais novo, que nasceu há pouco mais de um mês, em São Carlos


ALESSANDRO SILVA
enviado especial a São Carlos

Uma geração mais frágil e vulnerável a doenças está crescendo na cidade de São Carlos. Essa é uma das consequências do aumento de mães que deixam de amamentar seus bebês antes de eles completarem 6 meses de idade.
Considerado uma "vacina natural", o leite materno contém anticorpos e substâncias que evitam infecções respiratórias e diarréias.
As principais causas dessa situação são o desconhecimento, falta de tempo e vaidade. Segundo médicos e pediatras ouvidos pela Folha, grande parte das mães acredita que o leite materno não é suficiente para garantir a alimentação de seus filhos. Outras temem deformações nos seios ou têm pouco tempo livre para os filhos.
Um estudo produzido pelo Departamento de Enfermagem da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) mostra que 94,7% das mulheres abandonaram a amamentação até seis meses após o parto ou o fazem com frequência esporádica.
Somente 5,3% das mães nessas condições davam o leite do peito como alimento exclusivo.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda o leite materno como alimento exclusivo para o recém-nascido nos primeiros seis meses de vida.
As pesquisa ouviu 1.709 mulheres com filhos menores de 1 ano na cidade -equivalente a 60,3% do total de crianças nessa faixa etária em São Carlos, segundo o IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
"Grande parte das mulheres que são mães hoje se alimentou da mamadeira e, por isso, tem dificuldade para amamentar no peito", afirma a professora Cássia Irene Spinelli Arantes, uma das responsáveis pela pesquisa.
O levantamento foi realizado durante a campanha de vacinação contra a poliomielite, no ano passado, nas 12 unidades de saúde da Prefeitura de São Carlos.
Apesar de a pesquisa não ter quantificado o motivo do desmame, as pesquisadores concluíram que falta informação à mãe.
"Muitas mulheres acham que o leite não está alimentando", afirma a professora Victória Garcia Montrone.
Esse é o caso da dona-de-casa Silvia Helena Caldeira, 24, que trocou o leite materno pelo de vaca no primeiro mês de vida do filho (leia texto nesta página).
A mesma metodologia do trabalho da UFSCar será aplicada este ano em Ribeirão Preto pela prefeitura para identificar o número de mães de amamentam os filhos.
Não há estudos recentes sobre o aleitamento materno na cidade.
"O leite da mãe, nessa fase da vida da criança, é importante para a defesa imunológica dela", afirma o pediatra Luiz Antonio Del Ciampo, médico assistente da USP (Universidade de São Paulo) e professor da Unaerp (Universidade de Ribeirão Preto).
A falta desse tipo de alimento é mais sentida nas camadas sociais mais baixas, onde a alimentação do recém-nascido é precária.
A simples substituição pelo leite de vaca pode levar a criança a ter anemia e diarréia. Isso porque o leite bovino é precário em ferro e mais difícil de ser digerido pelo organismo do recém-nascido. Médicos e pesquisadores afirmam que é preciso levar informações à mãe, antes e depois da gestação.



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