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Mães adotam crianças com saúde frágil
Dona de casa adotou criança que passou por transplante de rim, enquanto professora tem filha portadora do vírus HIV
Para a dona de casa Lúcia, filho de seis anos que fez transplante de rim e precisará de outro aos 15 anos é um "guerreiro"
BRUNA SANIELE
DA FOLHA RIBEIRÃO
"Vivo um dia de cada vez. Filho é filho, problema todo mundo pode ter." É assim que a dona de casa Lúcia, 50, de Ribeirão, explica porque não se preocupa com o próximo transplante pelo qual seu filho Marcos, 6,
terá que passar aos 15 anos.
Mesmo sabendo que a criança exige cuidados especiais, ela
resolveu adotá-lo quando ele
estava com três anos. "Não fui
eu quem o escolheu, foi ele
quem quis que eu fosse sua
mãe", disse. Lúcia faz parte de
um grupo muito limitado, o de
mães -que hoje celebram seu
dia- que adotam crianças com
problemas de saúde.
Mãe de três filhas adultas,
Lúcia conheceu Marcos por intermédio da filha Amanda, à
época com 23 anos. Subindo o
elevador do HC (Hospital das
Clínicas) de Ribeirão Preto, onde fazia estágio, ela se encantou
com o menino que perambulava de avental pelos corredores
do hospital. Marcos vivia no local desde o nascimento por
causa de disfunção nos rins,
que exigia diálise três vezes por
semana e só foi curada com um
transplante.
Abandonado pelos pais biológicos, ele passou pelo transplante sozinho e estava prestes
a ser levado para um abrigo, para aguardar pela adoção. "Logo
depois que minha filha o conheceu, ela foi nos sensibilizando sobre a condição dele.
No começo não sabíamos que
ele estava para adoção, quando
descobrimos decidimos adotá-lo, antes mesmo de conhecê-lo.
Eu já estava apaixonada por
ele", afirmou Lúcia.
Após o primeiro contato com
a equipe responsável pela adoção, foram três meses até que
ela pudesse levar o filho para
casa. "Toda vez que eu ia embora sentia que estava abandonando o meu filho, não queria
ir." A situação especial, com a
exigência de cuidados médicos,
alimentação especial e medicação para toda a vida, não a assusta. "Ele é um guerreiro e nós
vamos lutar juntos e superar o
que vier pela frente."
Segundo a psicóloga do setor
de adoção da Vara da Infância
de Ribeirão, Valéria Mattar,
crianças que requerem cuidados especiais são preteridos na
adoção -poucas famílias aceitam essa responsabilidade.
A possibilidade de vivenciar
problemas de saúde da filha
também não preocuparam a
professora Sônia, 42, mãe adotiva de Mariana, de cinco anos.
A criança, portadora do vírus
HIV, foi adotada há dois meses
junto com o irmão, de três. Durante o processo de adoção, Sônia foi questionada pelas assistentes sociais sobre a condição
da criança, os cuidados médicos e até a possibilidade de uma
morte prematura.
Nada disso impediu a adoção.
Atualmente, o único cuidado
especial da criança é a medicação. "Se não fosse isso, nós nem
lembraríamos que ela tem o vírus. Nunca deixaria de ficar
com ela por causa disso", disse.
Sônia diz temer que a filha seja
discriminada, mas disse estar
disposta a enfrentar eventual
dificuldade.
"Gostaria que todos soubessem que viver bem com HIV é
uma realidade hoje. Minha filha vai poder levar a vida normal que leva agora no futuro",
disse Sônia.
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