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Diederichsen é palco de muita história
Moradores do edifício mais antigo de Ribeirão declaram seu amor ao local e relembram o passado de glórias
Alfaiate que está há 52 anos no prédio lembra de quando fazia ternos para os "figurões" e dos hóspedes ilustres
HÉLIA ARAUJO
DE RIBEIRÃO PRETO
Construído em 1936, o Edifício Diederichsen foi o primeiro prédio do interior do
Estado de São Paulo e o segundo do país. Hoje, 74 anos
depois, as histórias dos moradores e lojistas que ocupam as salas e apartamentos
do local se misturam com as
lembranças do prédio que se
tornou o marco histórico de
Ribeirão Preto.
É o caso do alfaiate Walter
Feloni, o Alemão, 72, que está há 52 anos no prédio. Ele
conta que toda sua vida está
dentro de sua loja e todos os
momentos vividos podem ser
contados por meio de suas linhas e agulhas.
"Os outros lojistas e moradores são como se fossem minha segunda família. Só saio
daqui quando minha vida
acabar." Ele lembra com nostalgia da época em que fazia
ternos para os "figurões" de
Ribeirão Preto e região.
"Atendia todos os médicos, advogados e políticos da
época. Hoje virei "remendão",
só faço consertos e olhe lá."
Outro que passou a vida
no Diederichsen é o joalheiro
Marcos Zeri Ferreira, 67, cuja
família está há 59 anos à frente da Ferreira Joias.
"Meu pai abriu a joalheria
em 1951 e eu ficava sempre
na loja. Passei a ajudá-lo
quando fiz 18 anos. Cresci, vivi e criei meus filhos aqui. Esse prédio é a minha vida, a
minha família, tenho muito
amor por ele."
Na época de ouro, diz,
"médicos, dentistas, engenheiros, advogados, todos os
mais importantes profissionais desses segmentos estavam no Diederichsen; era onde tudo acontecia".
Ele afirma também que
frequentava o cinema no Pedro 2º, a bomboniere do Colucci e a tabacaria Sampaio
- também no teatro-, além
do famoso café da Única.
"Todos os políticos do país
quando visitavam Ribeirão
passavam para tomar o café
da Única. Havia até um painel com assinaturas das personalidades. Lembro da visita do ex-presidente Juscelino
Kubitschek."
Para Maria Garnica dos
Santos, 84, as lembranças
dos 40 anos passados no Edifício Diederichsen também
são preciosas.
Aos 44 anos, dona Quinha
-como é conhecida- se mudou para o prédio com o marido e três filhos. A família
morava em Pitangueiras e
veio para Ribeirão para dar
escola às crianças.
Os cinco dividiam o apartamento de um quarto, sala,
banheiro e cozinha.
"As crianças dormiam no
quarto e eu e meu marido na
sala. Era apertado, mas fomos muito felizes aqui."
Ela conta que o edifício teve varias épocas e moradores
diferentes. No início, eram
famílias, depois vieram os
"solitários" -solteirões inveterados e viúvos- e atualmente são os jovens casais.
Viúva, ela hoje faz parte da
turma dos solitários.
"Me sinto segura e sou feliz aqui. Só saio do Diederichsen quando Deus me chamar
e espero que isso ainda demore um tempo."
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