Ribeirão Preto, Domingo, 11 de Julho de 2010

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Diederichsen é palco de muita história

Moradores do edifício mais antigo de Ribeirão declaram seu amor ao local e relembram o passado de glórias

Alfaiate que está há 52 anos no prédio lembra de quando fazia ternos para os "figurões" e dos hóspedes ilustres

HÉLIA ARAUJO
DE RIBEIRÃO PRETO

Construído em 1936, o Edifício Diederichsen foi o primeiro prédio do interior do Estado de São Paulo e o segundo do país. Hoje, 74 anos depois, as histórias dos moradores e lojistas que ocupam as salas e apartamentos do local se misturam com as lembranças do prédio que se tornou o marco histórico de Ribeirão Preto.
É o caso do alfaiate Walter Feloni, o Alemão, 72, que está há 52 anos no prédio. Ele conta que toda sua vida está dentro de sua loja e todos os momentos vividos podem ser contados por meio de suas linhas e agulhas.
"Os outros lojistas e moradores são como se fossem minha segunda família. Só saio daqui quando minha vida acabar." Ele lembra com nostalgia da época em que fazia ternos para os "figurões" de Ribeirão Preto e região.
"Atendia todos os médicos, advogados e políticos da época. Hoje virei "remendão", só faço consertos e olhe lá."
Outro que passou a vida no Diederichsen é o joalheiro Marcos Zeri Ferreira, 67, cuja família está há 59 anos à frente da Ferreira Joias.
"Meu pai abriu a joalheria em 1951 e eu ficava sempre na loja. Passei a ajudá-lo quando fiz 18 anos. Cresci, vivi e criei meus filhos aqui. Esse prédio é a minha vida, a minha família, tenho muito amor por ele."
Na época de ouro, diz, "médicos, dentistas, engenheiros, advogados, todos os mais importantes profissionais desses segmentos estavam no Diederichsen; era onde tudo acontecia".
Ele afirma também que frequentava o cinema no Pedro 2º, a bomboniere do Colucci e a tabacaria Sampaio - também no teatro-, além do famoso café da Única.
"Todos os políticos do país quando visitavam Ribeirão passavam para tomar o café da Única. Havia até um painel com assinaturas das personalidades. Lembro da visita do ex-presidente Juscelino Kubitschek."
Para Maria Garnica dos Santos, 84, as lembranças dos 40 anos passados no Edifício Diederichsen também são preciosas.
Aos 44 anos, dona Quinha -como é conhecida- se mudou para o prédio com o marido e três filhos. A família morava em Pitangueiras e veio para Ribeirão para dar escola às crianças.
Os cinco dividiam o apartamento de um quarto, sala, banheiro e cozinha.
"As crianças dormiam no quarto e eu e meu marido na sala. Era apertado, mas fomos muito felizes aqui."
Ela conta que o edifício teve varias épocas e moradores diferentes. No início, eram famílias, depois vieram os "solitários" -solteirões inveterados e viúvos- e atualmente são os jovens casais. Viúva, ela hoje faz parte da turma dos solitários.
"Me sinto segura e sou feliz aqui. Só saio do Diederichsen quando Deus me chamar e espero que isso ainda demore um tempo."


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