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Conformismo "vence" a revolta em Igarapava
Seis meses após prisão de 5 vereadores, sentimento é de dúvida sobre culpados
Para parlamentar que foi
reempossado, gravações
que surgiram mostram que
o prefeito da cidade armou
uma armadilha para eles
JEAN DE SOUZA
ENVIADO ESPECIAL A IGARAPAVA
Em março deste ano, Igarapava parou para ver a prisão de
cinco de seus nove vereadores,
filmados tentando cobrar um
mensalinho do prefeito Francisco Tadeu Molina (PSDB). A
reação foi imediata: cidadãos
indignados foram à delegacia,
onde foram presos, e à Câmara
Municipal, armados de faixas e
gritos de protesto, pedindo que
fossem defenestrados das cadeiras para os quais foram eleitos representantes do povo.
Seis meses depois, na semana
em que Alan Kardec de Mendonça (PSDB), Roberto Silveira
(PSDB), Sérgio Augusto de
Freitas (PP), José Laudemiro
Alves (DEM) e José Eurípedes
de Souza (PT) retomaram seus
lugares no Legislativo, a sensação é de que o clima de revolta
cedeu espaço ao conformismo,
pela ausência de faixas e pessoas, em frente à Câmara, na
data em que seria julgado o último dos cinco -Freitas.
"O povo não fez nada, mas o
povo também não sabe o que
fazer", desabafou a balconista
Priscila Aparecida, 25, que disse ter achado péssima a volta.
Lançando mão de uma frase
servida cotidianamente no cardápio dos brasileiros, o envergonhado, segundo ele mesmo,
eletricista Paulo Ramalho, 43,
resumiu seu sentimento. "Tudo terminou em pizza."
Essas opiniões, apesar de representarem a maioria dos moradores ouvidos pela Folha,
não são unanimidade. A aposentada Maria Lúcia Ribeiro,
69, por exemplo, crê que a cidade perdeu muito com a ausência dos vereadores.
A explicação para essa absolvição popular parcial, de acordo com o presidente local da
OAB (Ordem dos Advogados
do Brasil), José Ricardo Rodrigues Mattar, pode ser a dúvida
da população sobre quem são
os verdadeiros inocentes ou
culpados da história.
Esse "ponto de interrogação"
chegou até a Folha no centro
de Igarapava, em formato de
DVD. A reportagem ouvia moradores quando um homem
num Vectra preto se aproximou e entregou a mídia -ele
não quis se identificar. Na mídia, estão contidas conversas
do prefeito Molina com aliados
tratando das gravações -que
na época da prisão haviam sido
atribuídas só à Promotoria- de
suas conversas com vereadores
e da troca de benefícios.
Para o reempossado Alan
Kardec, as gravações, que afirmou inocentá-lo, mostram que
Molina preparou "uma armadilha" para os cinco. "O povo
pedia nossa volta."
Um dos suplentes que ingressaram na Câmara com o
afastamento dos cinco, Leandro da Silva (PV) disse que as
gravações que expõem as ações
do prefeito, "se forem verdadeiras", não comprometem sua
imagem e, se foi ele quem armou, deve ser premiado.
Silva é um dos que aparecem
nas gravações clandestinas -a
Promotoria não confirma se fazem parte das investigações-
oferecendo seu microfone (é
radialista) para elogiar o prefeito, mediante pagamento. Ele
diz que ofereceu serviço profissional, não político. Molina não
atendeu a Folha para falar sobre o DVD e a situação da cidade, que, para moradores, está
parada há seis meses.
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