Ribeirão Preto, Domingo, 11 de Outubro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Conformismo "vence" a revolta em Igarapava

Seis meses após prisão de 5 vereadores, sentimento é de dúvida sobre culpados

Para parlamentar que foi reempossado, gravações que surgiram mostram que o prefeito da cidade armou uma armadilha para eles


JEAN DE SOUZA
ENVIADO ESPECIAL A IGARAPAVA

Em março deste ano, Igarapava parou para ver a prisão de cinco de seus nove vereadores, filmados tentando cobrar um mensalinho do prefeito Francisco Tadeu Molina (PSDB). A reação foi imediata: cidadãos indignados foram à delegacia, onde foram presos, e à Câmara Municipal, armados de faixas e gritos de protesto, pedindo que fossem defenestrados das cadeiras para os quais foram eleitos representantes do povo.
Seis meses depois, na semana em que Alan Kardec de Mendonça (PSDB), Roberto Silveira (PSDB), Sérgio Augusto de Freitas (PP), José Laudemiro Alves (DEM) e José Eurípedes de Souza (PT) retomaram seus lugares no Legislativo, a sensação é de que o clima de revolta cedeu espaço ao conformismo, pela ausência de faixas e pessoas, em frente à Câmara, na data em que seria julgado o último dos cinco -Freitas.
"O povo não fez nada, mas o povo também não sabe o que fazer", desabafou a balconista Priscila Aparecida, 25, que disse ter achado péssima a volta.
Lançando mão de uma frase servida cotidianamente no cardápio dos brasileiros, o envergonhado, segundo ele mesmo, eletricista Paulo Ramalho, 43, resumiu seu sentimento. "Tudo terminou em pizza."
Essas opiniões, apesar de representarem a maioria dos moradores ouvidos pela Folha, não são unanimidade. A aposentada Maria Lúcia Ribeiro, 69, por exemplo, crê que a cidade perdeu muito com a ausência dos vereadores.
A explicação para essa absolvição popular parcial, de acordo com o presidente local da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), José Ricardo Rodrigues Mattar, pode ser a dúvida da população sobre quem são os verdadeiros inocentes ou culpados da história.
Esse "ponto de interrogação" chegou até a Folha no centro de Igarapava, em formato de DVD. A reportagem ouvia moradores quando um homem num Vectra preto se aproximou e entregou a mídia -ele não quis se identificar. Na mídia, estão contidas conversas do prefeito Molina com aliados tratando das gravações -que na época da prisão haviam sido atribuídas só à Promotoria- de suas conversas com vereadores e da troca de benefícios.
Para o reempossado Alan Kardec, as gravações, que afirmou inocentá-lo, mostram que Molina preparou "uma armadilha" para os cinco. "O povo pedia nossa volta."
Um dos suplentes que ingressaram na Câmara com o afastamento dos cinco, Leandro da Silva (PV) disse que as gravações que expõem as ações do prefeito, "se forem verdadeiras", não comprometem sua imagem e, se foi ele quem armou, deve ser premiado.
Silva é um dos que aparecem nas gravações clandestinas -a Promotoria não confirma se fazem parte das investigações- oferecendo seu microfone (é radialista) para elogiar o prefeito, mediante pagamento. Ele diz que ofereceu serviço profissional, não político. Molina não atendeu a Folha para falar sobre o DVD e a situação da cidade, que, para moradores, está parada há seis meses.


Texto Anterior: Painel Regional
Próximo Texto: Volta à Câmara não livra os 5 vereadores de processo e ação
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.