|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Empresa se "muda" para MG e Ipuã sofre
Monsanto passa a vender produção em outro Estado e cidade da região vê cair arrecadação e passa a cortar serviços
Um posto de saúde foi fechado e uma escola ainda não abriu por falta de móveis e funcionários
para a nova unidade
LEANDRO MARTINS
ENVIADO ESPECIAL A IPUÃ
Com cerca de 15,8 mil habitantes e uma economia que tem
como pilares duas grandes empresas e o plantio da cana-de-açúcar, Ipuã tem visto sua receita cair a cada ano, queda impulsionada pela "transferência" de uma empresa para Minas Gerais. Por causa da falta de
dinheiro, a prefeitura já cortou
serviços e a previsão do Orçamento para 2010 foi reduzida
em R$ 2 milhões.
A situação de Ipuã é semelhante à de muitos municípios
pequenos, que dependem quase que exclusivamente de repasses do Estado ou da União
ou das receitas geradas por
poucas empresas. No caso de
Ipuã, a prefeitura alega que a
crise se agravou depois que a
multinacional Monsanto passou a comercializar em Uberlândia (MG) a produção da unidade existente na cidade.
A Monsanto é uma gigante
mundial do setor de sementes,
herbicidas e biotecnologia. Em
Ipuã, a multinacional processa
sementes de milho e sorgo. De
acordo com a prefeitura, a
transferência da venda para
Uberlândia causou queda na
arrecadação de impostos, principalmente do ICMS (Imposto
sobre Circulação de Mercadorias e Serviços).
A situação chegou ao ponto
de serviços públicos começarem a ser comprometidos. Um
posto de saúde foi fechado. A
prefeitura devolveu o imóvel
alugado no bairro Cristo Semeador, onde funcionava a
unidade. Moradores alegam
que há outro posto perto, mas
faltam remédios e médicos.
"Remédio muito caro a gente
sabe que não tem mesmo, mas
ontem [quarta-feira] eu fui
consultar no posto e não tinha
nem dipirona", afirmou a trabalhadora rural Luzani Vieira
de Souza, 34. A dona de casa
Aricélia Pereira da Silva, 22,
tem três filhos e disse que,
quando um deles precisa de
atendimento, recorre ao pronto-socorro, mesmo que não seja emergência. "No posto de
saúde não tem pediatra", disse.
No bairro João Pereira Tavares, a prefeitura construiu uma
escola no primeiro semestre
deste ano, mas que ainda não
abriu. A justificativa é que, com
a falta de recursos, não houve
como comprar móveis e contratar servidores.
Enquanto a escola não abre,
as crianças são atendidas em
outro bairro. "[A escola] Vai
funcionar só no começo do ano
que vem", disse o diretor do Departamento Financeiro, Sebastião Aparecido da Cruz.
Contrastando com a escola e
o posto de saúde fechados, a
prefeitura está terminando um
novo prédio que vai abrigar o
Paço Municipal. A obra começou em 2007 e ficou pronta
agora, ao custo de R$ 600 mil.
Questionado se não seria o
caso de usar os recursos em outras áreas prioritárias, como
saúde e educação, Cruz disse
que o dinheiro para a construção do Paço foi obtido com a
"venda" da folha de pagamento
do funcionalismo para um banco. "E o prédio [atual] tem mais
de 60 anos", afirmou.
Cruz disse ainda que a Monsanto é uma empresa importante. "É uma opção dela [faturar em Minas], mas se voltasse
a vender aqui, melhoraria a
nossa situação do ICMS."
Texto Anterior: Volta à Câmara não livra os 5 vereadores de processo e ação Próximo Texto: Frase Índice
|