Ribeirão Preto, Domingo, 11 de Outubro de 2009

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Empresa se "muda" para MG e Ipuã sofre

Monsanto passa a vender produção em outro Estado e cidade da região vê cair arrecadação e passa a cortar serviços

Um posto de saúde foi fechado e uma escola ainda não abriu por falta de móveis e funcionários para a nova unidade


LEANDRO MARTINS
ENVIADO ESPECIAL A IPUÃ

Com cerca de 15,8 mil habitantes e uma economia que tem como pilares duas grandes empresas e o plantio da cana-de-açúcar, Ipuã tem visto sua receita cair a cada ano, queda impulsionada pela "transferência" de uma empresa para Minas Gerais. Por causa da falta de dinheiro, a prefeitura já cortou serviços e a previsão do Orçamento para 2010 foi reduzida em R$ 2 milhões.
A situação de Ipuã é semelhante à de muitos municípios pequenos, que dependem quase que exclusivamente de repasses do Estado ou da União ou das receitas geradas por poucas empresas. No caso de Ipuã, a prefeitura alega que a crise se agravou depois que a multinacional Monsanto passou a comercializar em Uberlândia (MG) a produção da unidade existente na cidade.
A Monsanto é uma gigante mundial do setor de sementes, herbicidas e biotecnologia. Em Ipuã, a multinacional processa sementes de milho e sorgo. De acordo com a prefeitura, a transferência da venda para Uberlândia causou queda na arrecadação de impostos, principalmente do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços).
A situação chegou ao ponto de serviços públicos começarem a ser comprometidos. Um posto de saúde foi fechado. A prefeitura devolveu o imóvel alugado no bairro Cristo Semeador, onde funcionava a unidade. Moradores alegam que há outro posto perto, mas faltam remédios e médicos.
"Remédio muito caro a gente sabe que não tem mesmo, mas ontem [quarta-feira] eu fui consultar no posto e não tinha nem dipirona", afirmou a trabalhadora rural Luzani Vieira de Souza, 34. A dona de casa Aricélia Pereira da Silva, 22, tem três filhos e disse que, quando um deles precisa de atendimento, recorre ao pronto-socorro, mesmo que não seja emergência. "No posto de saúde não tem pediatra", disse.
No bairro João Pereira Tavares, a prefeitura construiu uma escola no primeiro semestre deste ano, mas que ainda não abriu. A justificativa é que, com a falta de recursos, não houve como comprar móveis e contratar servidores.
Enquanto a escola não abre, as crianças são atendidas em outro bairro. "[A escola] Vai funcionar só no começo do ano que vem", disse o diretor do Departamento Financeiro, Sebastião Aparecido da Cruz.
Contrastando com a escola e o posto de saúde fechados, a prefeitura está terminando um novo prédio que vai abrigar o Paço Municipal. A obra começou em 2007 e ficou pronta agora, ao custo de R$ 600 mil.
Questionado se não seria o caso de usar os recursos em outras áreas prioritárias, como saúde e educação, Cruz disse que o dinheiro para a construção do Paço foi obtido com a "venda" da folha de pagamento do funcionalismo para um banco. "E o prédio [atual] tem mais de 60 anos", afirmou.
Cruz disse ainda que a Monsanto é uma empresa importante. "É uma opção dela [faturar em Minas], mas se voltasse a vender aqui, melhoraria a nossa situação do ICMS."


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