Ribeirão Preto, Domingo, 12 de Abril de 2009

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Usinas atraem migrantes novatos

Crise no setor e redução de vagas causada pela mecanização transformam o perfil do bóia-fria da cana

Falta de pagamento e remuneração baixa desestimulam cortadores experientes; opção são os "carteiras brancas"

Silva Junior/Folha Imagem
Bóias-frias voltam para alojamento em Guariba após mais um dia de trabalho nos canaviais da região

ROBERTO MADUREIRA
DA FOLHA RIBEIRÃO

A crise nas usinas de Ribeirão Preto, que ocasionou imbróglios entre empregadores e trabalhadores temporários na safra de cana-de-açúcar do ano passado, transformou o perfil dos bóias-frias que chegam para o corte da cana neste ano. Além de redução do número, boa parte é novata -os chamados "carteiras brancas".
Segundo avaliação dos principais sindicatos, o número total de temporários, que chegou a 55 mil trabalhadores em anos anteriores, deve ter redução de 10% a 12% neste ano.
No alojamento de temporários da usina Bonfim, do grupo Cosan, em Guariba, neste ano apenas um dos três galpões foram ocupados.
A empresa não confirmou a redução, mas informou em nota que "aderiu pioneiramente ao protocolo ambiental que prevê a mecanização geral da colheita da cana, o que, em tese, faz cair naturalmente o número de trabalhadores rurais".
A incidência maior de migrantes sem experiência, no entanto, chamou a atenção de sindicatos e da Pastoral do Migrante, que age em Guariba, um dos principais polos de fixação de residência destes trabalhadores. Segundo o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Guariba, a safra passada foi problemática, com falta de pagamento e remuneração baixa, o que desestimulou os experientes.
"Além disso, muitos que vieram no ano passado voltaram para casa por falta de vagas, gerada pelo avanço da mecanização. Isso pode ter assustado um pouco o migrante", disse Sílvio Palvequeres, presidente do sindicato de Ribeirão Preto.
A usina Maringá, com sede em Araraquara, tem neste ano uma das maiores incidências de novatos. No final do ano passado, ela chegou a usar cheques sem fundo para pagar o acerto dos bóias-frias.
"A fama das usinas chegou até o local de origem desses migrantes e muita gente saiu daqui achando que não valeu a pena. Muitos ainda têm alguma coisa a receber", disse a irmã Inês Facioli, responsável pela Pastoral do Migrante.
Para a socióloga Maria Aparecida Moraes, da Unesp de Araraquara, especialista na migração rural, a queda na qualidade do emprego, que já é considerado pesado, pode causar menor procura.
"Ao contrário do que muitos pensam, eles [migrantes] não acham que aqui é o paraíso, que vão resolver seus problemas. Eles veem como um meio de ganhar a vida, apenas".
A Unica (União da Indústria da Cana) diz não ter estimativa da redução de temporários, mas confirmou a queda e deu com justificativa a mecanização, que atingiu 49% da área plantada na safra passada.


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